sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sobre .

era noite a lua sorria e uma estrela brilhava a mulher de vermelho corria ansiosa olhando para trás a todo momento para visualizar a posição de seu perseguidor receosa de estar se deixando aproximar demasiadamente o coração no peito acelerado acertava o peito com tamanha força que tão logo sairia do lugar jorrando sangue e apavor o homem de preto continuava sua perseguição implacável desvencilhando-se como um dançarino dos ambulantes que distraídos obstacularizavam seu caminho rosto impassível olhando sempre em linha reta sem jamais perder a gana ou o equilíbrio não corria como a mulher de vermelho apenas andava a passos largos o suficiente para diminuir a distância entre os dois ele andava e olhava à frente ela corria e olhava para trás ele foi se aproximando ela ofegando olhos impassíveis coração estourando calma pânico as pessoas ficaram para trás ela pensou em gritar mas lhe faltava fôlego a noite subia alta serena indiferente ao medo e à tranquilidade não havia mais ninguém apenas ele e ela e a lua sorrindo para ambos e ao lado da lua uma estrela brilhando para ele o homem de preto sentia ele sabia que a estrela brilhava por ele e que a lua lhe sorria eram apenas ele e a lua e a estrela ele alcançou a mulher não a tocou ela parou e gemeu ele continuou impassível olhando à frente para onde a lua ascendia sorrindo para ele e só havia ele e a lua e a estrela e ele as perseguiu toda a noite apaixonado em transe encantado perseguiu a lua e a estrela e agora a mulher de vermelho chorava pois o homem de preto a deixou abandonada só com a lua e a estrela que não a consolavam,

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sobre a sede, a água...

Tenho sede e não há o que beber.
Busco de copo em copo, de casa em casa,
ninguém se importa, não abrem a porta
e quem abre não tem nada a oferecer.

Tenho sede e penso que este é o fim.
Me canso, me perco, me afundo em águas rasas
que não saciam, nem aliviam a secura
que se instalou em mim.

Quem virá e me afastará desta dor?
A quem irei, de quem beberei?
Anseio por uma água que dê vida a este deserto.
Da qual eu beba e sinta novo vigor.

Se desta água eu beber, a quem me pedir dela eu darei,
Pois sei que, quando a encontrar, rios de agua fluirão
e banharão as terras secas e áridas de meu coração
e sede nunca mais terei, nunca mais terei.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sobre 50 centavos, apenas

Entre risos e lágrimas a cidade dorme. Olhos úmidos, miúdos, se entreolham e esperam o amanhecer, na expectativa de que tudo seja apenas um sonho ruim; na expectativa de que possam brincar com o sol, sorridentes, sem se preocupar com a luta incontrolável pela sobrevivência. Sobreviver: cansaram dessa brincadeira, mas não há outra pra jogar.

Os pequenos corpos que se espremem no chão duro procuram um lugar mais quente onde possam sossegar. Enquanto isso, os olhos acompanham a lua, como num sonho de criança. Mas elas não sonham. Elas gostariam de estar na lua, mas apenas para fugir da crueldade dos dias da Terra. Se tivessem asas não voariam pela liberdade, fugiriam do abandono.

E entre sonhos e insônias a cidade dorme. E os que riem e sonham passam e não olham, e se olham não se importam. A janela é aberta, a mão estende um trocado. Então, o vidro e o coração se fecham, enquanto o som aumenta e varre da memória qualquer resquício de dor pela omissão.

E entre dores e silêncios, a cidade dorme, enquanto perdem a esperança os anjos que já não podem voar.


Inspirado na música: Anjos das Ruas, do Rosa de Saron
e em experiência própria.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre depois escreverei

São 00h30, quando ele começa a pensar em escrever. Os dias tão corridos, cheios de afazeres e compromissos, impedem-no de ter o seu momento, o seu precioso momento, de relaxar e viajar em suas próprias palavras.

Já é tarde. O cansaço atinge-o como um bala que fere a caça obrigando-a a abandonar-se à relva. Ele resiste, pois sabe que amanhã o hoje se repetirá e, ao badalar da meia-noite, mais uma vez terá que adiar seu momento, seu precioso momento...

Até quando?, se pergunta. É preciso dar um fim ao depois farei... É preciso dar um fim ao depois viverei.

Mas, como que num lampejo de luz, lhe vem ao pensamento: é preciso também não perder a sensatez...

São 00h41. Hora de ir pra cama... Boa noite!

(nesse meio tempo... uma feliz notícia! INACREDITAVELMENTE feliz notícia! esse meu amigo merece)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sobre o tamanho das coisas

Se penso no Universo
cada segundo é nada,
Que é um dia para a estrela?
Que é o sol para uma galáxia?

Se penso no homem,
se penso em sua história,
Que é um fato ante os séculos?
e um ato para a memória?

Mas se penso em minha vida,
Um segundo vira história,
Um simples ato muda o dia.

Para aquele que caminha,
um pequeno passo é coisa grande,
pois da meta o aproxima.

Sobre verdades e mentiras


Esse "Meme" recebi do ilustríssimo Sr. Sete.


9 coisas aleatórias a meu respeito, não importando a relevância.


6 verdades e 3 mentiras.


Quem receber o meme, deverá postar nas suas respostas as 3 mentiras do bloguEIRO. Quem indicou revela depois (ou não)!!!


Não tem regras especificas para quantidade de bloguEIROS.


Começo citando as MENTIRAS (ou não) do Sr. Sete:

1- Detesto ficar sozinho (bloguEIROS não podem detestar ficar sozinhos)

2- Sou apaixonado por tudo, todos e todas (vc tem um bom coração, um dos melhores que conheço, mas não tão bom assim... huhauhauahauh)

3- Estive na Argentina em 1989 (foi em 1990, não em 1989 ... o,O ... sei lá... chutei...)


Minhas meia-verdades:

1- Minha cor preferida é o azul.

2- O primeiro livro que li foi "Feiurinha"

3- Me arrependo de muita coisa que fiz

4- Me arrependo de muita coisa que não fiz

5- Não quero mais ser amigo de uma certa pessoa

6- Seria melhor professor de português do que de biologia

7- Odeio escrever em notebooks

8- Meu reino por um bom filme de comédia!

9- Quebrei a regra, há apenas 1 mentira nesses nove tópicos...


Tarefa difícil é indicar alguém pra dizer minhas mentiras: dois dos 5 blogs que acompanho já receberam, 1 dos blogs a blogueira não me conhece (o que ela falaria SOBRE mim?), 1 é exclusivo para tiras do Calvin & Haroldo... sobrou o do meu irmão, que provavelmente não vai se amarrar na idéia...


Perdeu playboy, é tu memo: Sempre lembre do mais importante!
Poste minha mentira e relacione as suas mentiras e verdades.
Sr Sete e dona Dany, sintam-se a vontade pra comentar minhas mentiras... =P

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sobre a sutil diferença

Em uma tarde descontente
Quando o ocaso é presente
E a saudade é amor ausente
Ouve-se dizer: a vida continua.

Mas continuar é permanecer como está
E na alvorada jubilosa que virá
A presença sobre a ausência estará.
A vida não apenas se prolongará.

Pois, o dia já não é o mesmo, é novo.
E embora seja a lua apenas lembrança,
O sol é recomeço e esperança.

Então, quando chega novamente a hora
Manifesta-se a sutil diferença na aurora:
A vida não continua, ela se renova.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sobre um quadro

Havia um quadro.
No quadro havia uma rosa.
A rosa trazia paz, era chamativa e cativante.

O pintor olhava a rosa.
A rosa o encantava e ele a contemplava.
O pintor apenas a contemplava.


Havia, no quadro, pássaros.
E uma dona que colhia flores .
A dona não colhia a rosa.

O pintor olhava a rosa.
A rosa o encantava e ele a contemplava.
Apenas a contemplava.


No quadro havia um céu e nuvens.
Nuvens de um lado e céu aberto de outro.
Havia o sol, que iluminava a rosa.

O pintor olhava a rosa.
A rosa o encantava e ele a contemplava.
Apenas a contemplava.


Havia uma planície imensa.
Na planície a dona colhia as flores.
E os pássaros cantavam com ela.

O pintor olhava a rosa.
A rosa o encantava e ele a contemplava.
Apenas a contemplava.


Certa vez, o sol escondeu-se nas nuvens.
A rosa não estava mais iluminada.
A rosa ficara apagada.

O pintor viu-se obrigado a não olhar a rosa.
O pintor olhou a dona, os pássaros e o céu.
Atrás das nuvens percebeu o sol.

Ele sempre soube que havia um sol.
Ele sabia dos pássaros e da dona.
O pintor nunca reparara como eram belos.

O pintor não quis mais olhar o quadro.
Ver o quadro lembrava a rosa.
A rosa estava apagada.

Houve no quadro um deserto.
O deserto matou a rosa.
A dona e os pássaros foram embora.

Havia um quadro.
No quadro havia um deserto.
Havia um sol atrás das nuvens.


O sol saiu de trás das nuvens.
Havia uma rosa.
Uma rosa no meio do deserto.

O pintor voltou a olhar o quadro.
Havia a rosa e o deserto.
Havia o sol, o céu e as nuvens.

Havia um quadro.
No quadro havia uma rosa no deserto.
No deserto havia uma dona.

A dona não tinha o que colher.
A dona, com os pássaros, admirava a rosa.
A rosa era iluminada pelo sol.

O pintor voltou a olhar o quadro.
Havia a rosa, o deserto, o céu e o sol.
Havia as nuvens e a dona e os pássaros.

O pintor olhava a rosa.
A rosa o encantava e ele a contemplava.
A contemplava e aos outros.

A nuvem, o céu,
A dona e os pássaros,

Todos estavam no quadro pela rosa.

A rosa encantava.
Todos contemplavam a rosa.

A rosa estava no quadro pelo sol.

O pintor olhava o sol.
O sol dava vida ao quadro.
O pintor olhava o quadro e se alegrava.

Quem passava e olhava a dona, a nuvem, o deserto, os pássaros
Não olhava o quadro
Olhava a dona, a nuvem, o deserto, os pássaros.

Quem passava e olhava a flor
Olhava o mais bonito
Mas não podia compreender.

Quem olhava o quadro.
Achava belo e fascinante.
Só.

O pintor olhava o sol, depois olhava a rosa.
O pintor, então, olhava o deserto, a dona, os pássaros, a nuvem
O pintor compreendia e se alegrava
.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sobre o ser

Experimente dizer a um ramo
que ele nada vale,
Deixe que ele convença os demais
e não haverá mais árvore.

Experimente dizer a um ponto
que ele não faz diferença,
Deixe que ele convença outros pontos
e não haverá mais reta.

Experimente dizer a um segundo
que de tão passageiro ele é inútil,
Deixe que ele convença outros
e não haverá mais dia.

Experimente dizer a uma criança
que ela não pode,
Deixe que ela convença seus amigos
e não haverá futuro.

Experimente dizer a si
que as coisas são assim mesmo,
Deixe-se convencer
e não haverá mais vida.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

EXTRA (pré-requisito: o post abaixo SOBRE ESCOLHAS)



Notícia Exclusiva!!!

Um ser humano consciente, mas não muito inteligente, acaba de optar por um bem próximo (saciar sua vontade de escrever) em detrimento de um bem maior, porém distante (passar em um concurso público), ao deixar de estudar para atualizar esse bRog!!!
Cada escolha é uma renúncia!

Sobre escolhas


O humano. Criatura interessante, ser ambicioso, sempre disposto a alcançar maiores metas, explorar novos horizontes, conquistar grandes terrenos e vencer todas as batalhas.

O humano. Ser pensante, inteligente. Não o único. Há animais outros igualmente inteligentes, mas o ser humano é o único que sabe que sabe. Tem consciência de que é consciente, de que pensa.

O humano. Sendo consciente de sua consciência, é capaz de escolher, de optar. Tem a incrível, fantástica, capacidade de recusar a um bem próximo e apetecível aos sentidos ou sentimentos por um bem distante igualmente ou mais apetecível.

(Pausa para um lanche)

Escolher. Propriedade que o torna capaz de classificar e dar preferência a algo entre as demais opções.

Na busca de maiores metas, ao explorar novos horizontes, na conquista de grandes terrenos e durante as grandes batalhas, está o ser humano apto a analisar as opções, observar os detalhes e tomar atitudes de acordo com seus desejos e ambições. Que lutas lutar? Que horizontes explorar? Que terrenos conquistar e que metas buscar?

Deve o ser humano optar por aquilo que o engrandecerá, que o tornará memorável e o fará parte da história dos seus? Ou deve ele escolher o que o fará pleno em si, satisfeito e feliz? Quando as duas opções se encontram? Quando se conflitam?

Ser consciente de sua consciência e inteligência traz ao ser humano a responsabilidade sobre si e seu futuro. Ser consciente exige dele a percepção de si e do mundo; exige o conhecimento de desejos supérfluos e desejos que realmente o satisfarão; exige seu posicionamento de forma individual ou coletiva. Qualquer que seja a escolha, em geral, ela é feita conscientemente.

Ser inteligente é diferente. Ser inteligente exige que, consciente de que deve e pode escolher entre as opções, selecione dentre todas a mais importante.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sobre o livro

O post abaixo, SOBRE A PRIMEIRA PÁGINA DO LIVRO, é um fragmento de um livro que tive a idéia de escrever. De vez em quando, vou colocar outros fragmentos e aos poucos vou montanto o livro...

Digo isso pra que se aparecer um post que vocês não entendam nada, não se preocupem... é um fragmento, ou não...

Em caso de não ser um fragmento, leia de novo e tente entender. Não vai ser muito difícil, pois eu não sei fazer coisas lá muito complexas, mas se continuar sem entender... aí o problema é com você e não comigo. =D

Sobre a primeira página do livro =D

O sinal soou indicando que o elevador chegara no 7º andar. João abriu os olhos a tempo de ver a porta abrir e a claridade do sol, que entrava por uma grande janela logo a frente do elevador, aparecer. A luz no elevador era suave e ao se deparar com a luminosidade intensa do dia teve vontade de permanecer e fazer mais algumas viagens, subindo e descendo, na companhia de si mesmo. Sabia, no entanto, que outras pessoas entrariam, algumas animadas conversando entre si, outras sozinhas e que irremediavelmente fariam um comentário do tipo: "Lindo dia lá fora, não?" ou "Que calor hoje, hein?". Pegou do chão sua pasta preta habitual e saiu.

No caminho entre o elevador e a sala, percorreu dois corredores extensos, apinhados de gente tagarelando e caminhando de um lado para outro com papéis e pastas nas mãos. Algumas pessoas cumprimentaram-no, ele apenas fazia um breve aceno com a cabeça. Perto de sua sala estavam as de seus companheiros de trabalho, de forma que ao se aproximar de seu destino a quantidade de cumprimentos era maior. Seu colega Maicon convidou-o para entrar e tomar um pouco de café "pra ver se te dá mais ânimo e tira esse ar de cansado da cara, cara". Ele recusou o mais gentilmente que pôde.

Entrou na sala, fechou a porta, jogou a pasta em cima da mesinha de café e caiu como uma pedra sobre a cadeira. Antes que pudesse pensar em colocar as mãos sobre o rosto e espremê-lo como quem quer esticar toda a pele até a orelha, ouviu duas batidas na porta. Reconheceu a batida.

- Pode entrar, Maria. - Gritou no tom mais animador que conseguia enquanto rapidamente tirava a pasta da mesinha, colocava-a sobre a mesa de trabalho e arrumava a postura. A última coisa que precisava era de alguém dizendo que estava com cara de abatido e que podia se abrir.

Tarde de mais. Maria o havia visto no corredor e o conhecia o suficiente para saber que estava não só exausto, mas um lixo.

- O que aconteceu? - perguntou a garota de forma amigável e simpática.De fato, a garota podia não ter muito jeito para o trabalho, mas ser simpática e amigável era com ela mesma. João reconhecia isso e para ele era um alívio ter pelo menos uma pessoa em todo aquele edifício com quem pudesse ter uma conversa sincera sem se sentir um completo idiota. Havia duas semanas que conseguira aquele emprego e, desde então, construíra, dia após dia, uma ainda modesta amizade com a garota. Méritos dela, - reconhecia quando pensava em Maria em casa - eu jamais teria me aproximado como ela se aproximou, por motivo algum. Além do mais, jamais seria tão intrometido na vida alheia como ela é. De qualquer forma, essa intromissão nos aproximou de um jeito bacana - sorria.- Nada, Maria, apenas cansaço e dor de cabeça. A claridade do sol agrediu meus olhos e consequentemente minha cabeça, só isso. - Não estava com paciência, nem mesmo para Maria.

Calmamente, com ares de uma médica que acaba de concluir um diagnóstico perfeito e se recorda instantaneamente de um tratamento infalível, a garota sentou-se na cadeira sobressalente da sala, cruzou as pernas, colocou as duas mãos sobre a saia que ia até os joelhos - bonitas pernas, reparou João, desviando os olhos antes que a garota reparasse em seu interesse - e disse:

- Muito bem. Que tal virar um vampiro e sair só a noite. Ou vir para o trabalho às 5h da manhã, entrar na sala e só sair às 19h. O chefe iria adorar, você ganharia horas extras e se agendássemos visitas de colegas de trabalho você ficaria mais sociável do que já é - isso foi deboche, pensou. - Ou, essa idéia é a melhor - interrompeu-se por um minuto e continou com mais seriedade - , você comprar uns óculos escuros e ver se o mau-humor, a irritação, o desânimo, a tristeza, e quem sabe até a depressão vão embora com a luz do sol. O que acha?

João deu um leve sorriso. A garota conseguia deixá-lo um pouquinho mais animado sempre que queria. Antes que pudesse responder, ela continuou - às vezes ela fala de mais -:

- Sério, João. As pessoas estão começando a comentar que você é um saco - disse, aumentando o volume da voz na última palavra para dar mais ênfase. - O Maicon já tá até achando que o problema é com ele. Que ele fez alguma coisa de que você não gostou nos primeiros dias. Eu tento explicar que você é uma pessoa legal, que tem sim suas manias chatas, mas quem não tem? Mas já não dá mais pra sustentar minhas opiniões. Tão falando que, em breve, não vão tá mais nem aí pra você. Vão deixar você no seu canto, cuidando da sua vidinha, e que pela primeira vez alguém não vai se entrosar no grupinho da galera.

O grupinho da galera, afff. Odeio essa expressão. Não tinha nenhum jeito mais criativo de se referirem ao grupo, sei lá: Liga da Justiça, A turma do bairro... qualquer coisa...

- Você sabe que eu não me sinto bem no meio deles.

- Sei, e sei também que é sem motivos. - Ela começara a ficar nervosa, ele nunca a tinha visto nervosa, ficava mais bonita. - Já conversamos sobre isso, já tentamos achar os motivos, mas tudo o que você me diz é que:

A garota assumiu uma voz aguda e feições de deboche e balançava a cabeça de um ombro ao outro enquanto falava:

"O Douglas tem uma mania de ficar perguntando toda hora se tá tudo bem comigo... O Maicon só sabe falar de mulher e dar nota pra bunda das estagiárias quando elas passam... Fulano é muito falante e Ciclano é sempre sacaneado, isso me incomoda..." Pô, fala sério - retornou à sua fala normal, mas ainda um pouco irritada - a galera se conhece a um tempão já, tem lá suas manias, é verdade... é só questão de você se enturmar, se acostumar com as manias e pronto. Você vai ver o quanto eles são gente boa e como podem ser bons amigos. Cara, - dessa vez a irritação passara - trabalhar fica bem mais legal quando você se diverte de vez em quando com a galera.

Ela tinha toda razão, ele sabia disso, mas não queria dar o braço a torcer naquela hora. Não bastasse o desânimo com que chegara, ainda teria que reconhecer a culpa pelo isolamento e de certa forma humilhar-se perante a garota. Não aguentaria as duas sensações juntas. Fez sinal de sim com a cabeça e disse:- Tá, vou pensar no seu caso. Agora, vá trabalhar que eu sei que você ainda não terminou o relatório semanal.

- Quem disse?

- Um passarinho que disse te conhecer o suficiente pra saber que você ainda não fez.

Maria mostrou a língua e fez um HUMMM prolongado. Levantou-se e deu uma última palavra com João:

- Você sabe ser legal quando quer. Só tem que aprender a ser legal quando não quer, até que ser legal seja legal sempre. Sacou?
Disse que não, mas que prometeria pensar profundamente sobre aquilo nas próximas horas. Ela saiu rindo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre a outra margem

Lá estava ele, deixando-se tocar pelos primeiros raios de sol e pela leve brisa que vinha do mar. O mar adentrava o rio de forma violenta e feroz. Ainda não era a hora. A paisagem do outro lado era cativante e chamativa, porém ele poderia esperar mais algumas horas para atravessar.

Passou essas horas contemplando as imensidões azuis. Onde elas se encontravam, parecia haver uma espécie de convergência de realidades. O céu encosta o mar, o mar encosta o céu. As coisas dessa terra encontrando-se com as realidades da alma, quaisquer que sejam elas.

Sentiu-se tão pequeno ante tanta imensidão. É tanta água, é tanto céu... estendem-se por milhas e milhas e milhas... e eu aqui, tão minúsculo, insignificante. Deixou-se levar pelo pensamento, de forma que as horas avançaram rapidamente.

A correnteza já estava mais calma. Decidiu que era hora. Foi até a foz e caminhou pela margem até encontrar um ponto calmo e estreito do rio que facilitasse a passagem. Começou a nadar. Braçadas leves, despretensiosas, faziam-no aproximar-se lentamente da outra margem. Não havia pressa, não era preciso muito esforço.

Em alguns pontos havia bancos de areia que o permitiam ficar em pé. Descansava nesses pontos até prosseguir viagem. Atravessou.

Do outro lado, tudo era diferente, novo. Começou a explorar o local. As ondas quebravam violentamente contra algumas rochas no começo da praia fazendo subir uma espuma alta e refrescante. Foi até as rochas. O mar esculpira artisticamente caminhos entre as pedras. Cracas e caranguejos repousavam suavemente nos buracos formados. Cada detalhe o impressionava. Cada centímetro era tão cheio de vida.

Passando as rochas, a orla do mar era ocupada por uma infinidade de coqueiros que se estendia até onde a vista não mais alcançava. Pareciam formar um batalhão, uma linha de infantaria, protegendo o continente de todo mal que pudesse vir do mar.

Caminhou entre os coqueiros. Andou, observando a areia, os pequenos buracos que indicavam a presença de siris e outros pequenos animais. Sentiu o vento bater em seu corpo, respirou profundamente o ar limpo, úmido e salgado do litoral. Estava revigorado, cheio de vida.

O sol ficara mais intenso e brilhante. Parou sob uma sombra, voltou-se para o mar e novamente contemplou as imensidões azuis. O céu e o mar. Ainda sentia-se pequeno, mas não mais insignificante. Explorara um lugar desconhecido, observara seus mínimos detalhes, cada um com sua beleza e significado. Não era preciso ser grande para ser belo, não era preciso ter força para poder mudar.

Sem perceber, deixou que as horas se arrastassem velozmente. O sol já fazia seu percurso de volta para o interior da terra. Levantou-se sobressaltado. Correu até a margem do rio. Agora, o rio desembocava no mar e a correnteza era forte. Ele não poderia ficar daquele lado, e atravessar naquele momento talvez fosse perigoso.

Procurou, nervosamente, a parte mais estreita do rio para fazer o caminho de volta, ciente de que não haveria bancos de areia dessa vez. Encontrou um ponto próximo da outra margem. A distância era pequena e a volta não ofereceria perigo. Respirou aliviado.

Tentou entrar andando até que a água não desse mais pé, mas a correnteza era forte e facilmente o empurrava. Voltou. Parou por um momento, imaginando uma boa estratégia para chegar ao outro lado. Não havia outra saída. Decidiu apenas nadar forte e incansavelmente. A distância era pequena e em poucos minutos poderia respirar e descansar. Tomou fôlego e começou a nadar.

Alternava os braços rapidamente, procurando também oferecer o maior atrito contra a água nas braçadas. Permaneceu com a cabeça imersa, sem olhar para frente até que a falta de fôlego o obrigasse a respirar. De olhos fechados, ergueu a cabeça e tomou um gole de ar. Mais algumas braçadas e um novo gole de ar. Braçadas e um novo gole de ar. Começava a sentir-se cansado. Diminui o ritmo. Abriu os olhos e olhou para a sua meta. Não estava distante, mas a correnteza o desviara bons metros de onde pretendia chegar.

Olhando para a paisagem, viu os coqueiros começando a passar rapidamente diante de si. A correnteza ficara mais forte, em breve chegaria ao mar e não sabia dizer o que poderia acontecer então.

Retomou o ritmo forte. Sentiu os músculos rijos e fatigados. Tomou mais fôlego, mas já não era possível nadar sem respirar. O pulmão suplicava por ar a cada braçada. A margem estava próxima, mas nadar parecia inútil, pois a distância não diminuía.

Mais braçadas, mais fôlegos. Deu-se conta de que estava nadando havia pouco mais de um minuto. Parecia uma eternidade. Os poucos metros que faltavam eram invencíveis e cada segundo sem ar e sem forças era uma eternidade. Nadava olhando para os coqueiros, na esperança de que eles ficassem maiores, mais próximos, mas isso não acontecia. Desesperou-se. O mar estava cada vez mais próximo e próximo e próximo...

Decidiu por tomar um último fôlego. Encheu o pulmão ao máximo nos poucos milésimos de segundo que tinha entre uma braçada e outra. Não levantou mais a cabeça para concentrar-se nos braços, um após o outro, fortemente. Nadou como se disso dependesse sua vida: não podia não chegar do outro lado; não podia não dar tudo de si; Não podia, literalmente, morrer na praia. Um pequeno esforço não feito poderia ser crucial, fatal.

A falta de ar sufocava-o, mas não perderia tempo respirando até que seus dedos tocassem a outra margem. Um segundo, um centésimo, um milésimo de segundo poderia separá-lo dessa vida.

E nadou, nadou, nadou como se disso dependesse sua vida...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sobre o mais importante

Selecione o mais importante. Foram as palavras que ficaram na memória.

O mais importante.

O patrono quisera dizer que um professor, ao fazer seu plano de aula, deve selecionar apenas o mais importante do conteúdo para passar aos alunos. Nada de muito bla bla bla... Não, apenas o que realmente importa e que deva ser ensinado. O resto será esquecido, será perda de tempo.

O mais importante. É um conselho para a vida - pensou ele. Não para professores, apenas. Para todos.

O que é o mais importante? O que é acessório? O que será esquecido e o que ficará? Ainda não sabia responder, e pensou que talvez levasse muitos anos até obter a tal resposta. Na realidade, pensou, essa resposta é mutante, como eu o sou.

O mais importante. Prometeu a si mesmo que pensaria sobre isso. Faria uma análise cuidadosa de sua vida, de sua história e de sua essência. Descobriria dentro de si o que mais prezava, o que mais gostava, o que mais o fazia sentir pleno e realizado. Talvez isso seja o mais importante. Sentir-se pleno, realizado. Já sentira isso algumas vezes, mas como ele mesmo pensou, talvez a resposta seja mutante e o que o realizou uma vez já não o preenchesse mais. Mas talvez preencha, basta redescobrir dentro de mim aquilo que outrora me motivou.

Enfim, aquele não era o momento para análises muito profundas. O momento era festivo e a transição que ele representava exigia lembranças saudosas de um passado que não voltaria. O que foi o mais importante de tudo isso? De todos esses anos...? Imagens vinham à sua mente, rodopiavam sobre sua cabeça e assaltavam novamente seus pensamentos.

Rostos, nomes, pessoas. Em uma palavra: amigos. Selecione o mais importante. As palavras do professor voltavam à memória.

No mesmo dia, de tarde, havia sido perguntado sobre o que é uma bactéria gram-negativa. Como biólogo prestes a se formar, deveria responder à pergunta de prontidão. Não soube.

Agora que ouvia essas palavras - selecione o mais importante -, não se importava mais com o furo das bactérias.

Ele não tinha dúvidas, se perguntado sobre bactérias, em breve não saberia responder a uma pergunta sequer. Mas se perguntado sobre os amigos que fez, os momentos que viveu, ah, isso sim, isso fora selecionado e guardado a sete chaves.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre dois sábados

Ele estava correndo no parque. Ela, acordando. O sol, que incidia sobre a paisagem vislumbrante que ele observava enquanto corria, iluminava todo o quarto dela enquanto, sonolenta, fechava a cortina para dormir mais um pouco. Ele agradecia ao astro, ela esbravejava contra ele.

Quando finalmente levantou, ele já estava em casa, banho tomado, preparando o segundo café-da-manhã. Ela foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes brancos e os cabelos emaranhados e foi para a cozinha comer um grande pedaço de bolo de chocolate.

Ela comeu e ligou a TV. Ele respondeu e-mails e foi ler um romance de Machado de Assis. Ainda com a TV ligada, ela preparou o almoço. Depois de ler, ele ligou para os amigos e foram almoçar em um restaurante. Enquanto ela comia e falava ao telefone com uma colega, ele voltava para casa ouvindo Jack Johnson, batucando no volante. Ele fez a sesta, ela lavou a louça.

Mais tarde, ambos foram ao shopping. Ela foi comprar uma sandália para as baladas, ele, uma chuteira para o futebol. Encontraram-se na mesma loja. Havia algum tempo não se viam: duas semanas, talvez - disse ela, tentando parecer descontraída.

Ele a chamou para lancharem. Ela aceitou o convite. Conversaram bastante. Ele contou seu dia, ela mentiu sobre o dela. Depois de comerem, ele, educadamente, a convidou para um cinema. Ela recusou. Disse que tinha um compromisso a noite e precisava se arrumar.

Despediram-se e separaram-se, mais uma vez.

Ela saiu com a amiga à procura de um novo amor, desejando ter superado tudo da forma como ele superou e ter tido o dia que ele teve. Ele chegou em casa, ligou o som, deitou na cama e, apaixonado, desejou um dia voltar para os braços dela.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre um desafio

Como você está continuando aquilo que os outros começaram, João?

Não está na hora de parar e refletir sobre suas atitudes? E sobre seus princípios e valores? Sobre suas escolhas, com certeza, não?

Ah, as escolhas. Elas falam mais de nós mesmos do que nós percebemos... e queremos.

Estamos acostumados a falarmos de nós mesmos, mas enquanto falamos e ninguém ouve, o que fazemos grita aos olhos de quem vê. E não tem como despistar com palavras o que a visão demonstra.

Você é preguiçoso? Você é desleixado? Qual seu maior desejo? Ajudar o próximo? Hahaha! Desde que ele esteja a meio metro e não bata à sua porta no dia seguinte, estou certo?

Você se sente covarde, João? Acha que não? Tem certeza? O que você diz é o que você é ou o que você acredita? Ou, ainda, o que gostaria de acreditar?

Nem você acredita nas próprias mentiras, não é? Você apenas fingi que acredita, tenta se convencer de algumas inverdades e vive como se, de fato, estivesse convencido delas.

Eu sei que, na verdade, você está convencido de outra coisa... está convencido de que não dá mais pra suportar o peso de viver mentiras. O que fazer, então, João? Esquecer as verdades e viver as mentiras? Ou transformar as mentiras em verdades?

Você prefere a segunda opção e eu posso te ajudar. E vou te ajudar. Mas você precisa me dizer uma coisa, João. Você precisa me prometer uma coisa: você vai confiar em mim.

Você confia em mim, João?