segunda-feira, 11 de julho de 2016

A plateia atenta. Espera. O silêncio que precede a apresentação sempre foi a maior barreira entre João e a arte. O fôlego que falta, a dúvida, a desconfiança de estar no lugar errado. Um rio de possibilidades passava em sua cabeça. Ele poderia estar deitado na cama, jogando computador; ele poderia estar em um restaurante com uma amiga bonita, fazendo joguinhos de conquista; poderia estar estudando para Uma prova de concurso; ele poderia... ele poderia. Ele poderia tantas coisas mais fáceis e cômodas do que estar ali diante de uma plateia em silêncio, à espera que suas palavras os satisfaçam. 

E se ele não os satisfizer? E se eles o acharem bobo, enfadonho, sem graça? Rir! João sempre pensava que o melhor caminho era fazê-los rir. Tinha meia dúzia de truques engraçados, piadas prontas que sempre davam certo, com crianças ou adultos. Eram uma carta na manga. a qualquer momento ele poderia tirá-la. Mas tentaria ser fiel ao enredo que preparou, apesar do silêncio que via à sua frente e que o esmagava. 

Às vezes a plateia parecia um imenso bicho-papão, como nos seus sonhos de criança. Estavam ali na sua frente, prontos para devorá-lo. João precisava saciar sua fome antes de virar seu alimento. Quando criança, sonhava com o bicho-papão - às vezes era o Freddy Krueger - aparecendo sorrateiro e ameaçando captura-lo. João corria, mas não saía do lugar. Desespero. Tensão. Medo. Depois de muito se esforçar, decidia que não valia a pena continuar tentando fugir. Era então que o monstro se aproximava cada vez mais e João se surpreendia com uma grande ideia: se ele queria comida, comida teria. João jogava todas as coisas que via por perto na direção do bicho: mochila, móveis, roupa. Ficava nu. Sem vergonha. O bicho comia tudo que aparecia na sua frente. E então ia embora. João intocado. Num último desses sonhos, quando João já havia adolecido e sabia que bichos-papão era história para botar medo em criança, João sonhou que jogava pipocas para o bicho. Pipocas. Ele jogava pipocas e ria do bicho comendo. O bicho ria junto. João e o bicho papão comendo pipocas. Sorrisos. Essa última imagem o confortava nos silêncios que precediam as apresentações. Sorria só. 

A plateia não era bicho-papão, mas precisava se satisfazer, era para isso que estavam ali. João não deveria jogar qualquer coisa, móveis, mochilas, roupas... Não. João deveria amá-los como às pessoas mais importantes de sua vida. Pelos próximos 50 minutos, eles seriam as pessoas mais importantes de todo o mundo. João não jogaria nada, mas partilharia tudo. Faria um delicioso bolo com todos eles, e todos comeriam o bolo junto.

A plateia. 

O silêncio.

O chapéu.

- Há muitas histórias no mundo - João levantava os braços. - Histórias que enchem o ar - Balançava as mãos enquanto dava uma volta completa com o corpo. - De todas as histórias do mundo - apontava o dedo indicador para os presentes, uma e outra vez. - Uma delas - pegava o chapéu -, eu acabei de pegar - capturava qualquer coisa no ar com o chapéu.

As crianças admiradas. Os adultos, por enquanto, olhavam satisfeitos por que as crianças pareciam satisfeitas.

- Olha aí, filho - alguém cortava o silêncio -, ele pegou uma história no chapéu.

A criança não respondia. Absorta.

João colocava a mão dentro do chapéu e fingia tirar uma bola, jogando-a no chão e soprando sobre ela, com ares de mistério. Imaginamento. Encantação. Ali, entre João e a plateia, o espaço se fazia história. João lançava palavras como música. Toda habilidade que nunca tivera com os instrumentos, tinha com a voz. Não para cantar, mas para contar. Aquela primeira barreira - o frio na barriga antes de começar a contar a história - se desvanecia e dava lugar a um gozo sem fim. Ele poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Ele poderia estar estudando, saindo com uma bela garota, jogando computador... Não! Ele não poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Ele só poderia estar ali. Pleno.

Os olhares das crianças. A admiração dos adultos, que já se entregavam por completo à experiência. Compenetração. À medida que falava, um castelo se formava entre contador e ouvintes. Princesas, um pássaro de todas as cores, animais falantes que queriam conhecer o sabor da lua... Mágica. Paixão.

- E é assim - encerrava agradecendo com um leve curvatura, mão no peito - que essa história chega ao fim.

O silêncio que procede a história. O tempo necessário para se decantar a experiência. As palmas. João sempre pensou que as palmas eram uma pena. A história não pede para ser aplaudida, pede para ser contemplada, meditada. João gostava das histórias que faziam acordar, a cor dar. As palmas quebravam a reflexão, faziam-nos voltar ao preto-branco-e-cinza da realidade. Os silêncios que procedem as histórias deveriam ser eternos. Ou, pelo menos, durarem o tempo necessário para que as histórias se fizessem verdade dentro de cada um.

Mas as palmas vinham. E então, a plateia dispersava.

O silêncio do fim de mais um ato. A satisfação. Um sorriso que brota de dentro.

Completude.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Infinito

Ontem, sonhei. No céu de Brasília, ao entardecer, havia uma imensa aurora boreal. O alaranjado e o vermelho se misturavam ao azul escuro do firmamento e ainda umas poucas nuvens podiam ser vistas, tingidas de dourado pelo sol que já se punha atrás da Torre de TV. Uma visão belíssima, um fenômeno indescritível até em sonho. Encantado, sentei sobre a grama da esplanada e me pus a contemplar, em silêncio, tamanha dádiva. Ah! Meu espírito crescia até os céus. Sentia-me no Paraíso, repleto de uma felicidade sem fim que inundava meu interior. Sorria largamente. Que impressionante experiência!

Calei todo meu exterior e interior. Alguns amigos – não os reconheci em sonho – sentaram ao meu lado e quiseram comentar algo comigo, mas não dei ouvidos a eles. Éramos eu e o céu! E só! Se estivesse acordado, provavelmente me preocuparia em tirar fotos e registrar o momento, publicando-o nas redes sociais. No sonho, não. Meu inconsciente, responsável por me proporcionar aqueles incríveis momentos de fascínio, sabia o que era mais importante. O mais importante, diante de algo tão grandioso, era calar-me, contemplar, e deixar que minha pequenez transbordasse imensidão. Eu era parte do infinito.

Não posso descrever com precisão as sensações que se passavam em mim naquele momento. Desculpem! Não consigo colocar em palavras, mas posso dizer o que já disse, e isso basta: eu era parte do infinito!

Mas, então, dessa experiência maravilhosa, seguiu-se outra aterradora, coisas que somente os sonhos podem nos proporcionar. Eis que surgiram raios vermelhos, reluzindo no céu, de um ponto a outro da aurora boreal. Os raios não desciam do céu, mas corriam na horizontal, lá em cima, tão rápido quanto o piscar de olhos. Eram muitos e produziam trovões perturbadores, que fizeram meu coração disparar. A cena outrora tão calma transformou-se em confusão e desconforto. Os que estavam próximos a mim corriam e queriam me levar, mas eu permaneci imóvel, ainda surpreendido e encantado. Apesar do pavor que os raios e trovões me causavam, a sensação de infinito continuava forte em meu peito, e eu sentia que era preciso passar também por isso se quisesse fazer parte de algo tão grandioso.
Meu corpo tremia, meu peito arfava, meus olhos tinham o instinto de se fechar a cada ronco de trovão, mas eu procurava os manter abertos, não querendo perder um segundo sequer de tudo o que acontecia. Meu espírito estava em êxtase e meu corpo estava em caos.

A noite avançava. O céu já era breu. Os raios continuavam, surgindo e sumindo velozes, tingindo de vermelho a paisagem. Um vento gelado passou a percorrer a esplanada. O frio passou a ser intenso, como se eu estivesse mergulhado em gelo. Frio intenso, medo, falta de ar, coração aos pulos! Eu tive certeza de que meu corpo iria sucumbir, ou explodir, com tamanhas reações. Mas eu continuava parado, apenas contemplando e procurando manter a calma, elevando meus pensamentos e atenção ao fenômeno acima de mim.

E então, como se já não fosse possível fazer do sonho algo mais incrível e fora da realidade, começou a chover. Não uma chuva comum, claro. Chovia em cascatas. Quatro ou cinco imensas cachoeiras brotavam do céu, lançando suas águas frias sobre mim. Sim! Era eu, e apenas eu, o alvo das águas. Era para mim, e somente para mim, todo aquele fantástico cenário.

Era possível ver com perfeição o local de onde surgiam as chuvas de cachoeiras. Não vinham de nuvens, mas como que de fendas no firmamento negro. As águas percorriam todos os milhares de quilômetros do céu até o chão e me encharcavam, abençoando-me.

Talvez nesse momento, por conta do absurdo do que acontecia ali, pela primeira vez me dei conta de que sonhava. O pavor amenizou, as sensações de desconforto foram sumindo aos poucos e passei a estar mais consciente de que podia fazer outra coisa que não contemplar em silêncio o magnífico espetáculo. Minha condição física foi voltando ao normal e vagarosamente eu despertei.

Abri os olhos e me vi em minha cama, em meu pequeno quarto, segundos antes de o despertador tocar. Fiquei atônito por vários minutos, ainda deitado, repassando o sonho repetidas vezes na memória. Fui me percebendo, observando que havia um aperto em meu peito, tendo o sonho produzido reações físicas reais em mim. Levantei para seguir com o dia de trabalho e afazeres tão pequenos diante de toda a grandiosidade do Universo e da Natureza. Quis me sentir pequeno, quis pensar em minha vida como algo inútil e insosso.

Antes de sair para o trabalho, no entanto, encontrei, aos pés da escada, minha pequena sobrinha brincando. A me ver ela sorriu, e, assim que desci os degraus, levantou-se e pediu um abraço. Abracei-a. Uma sensação indescritível me invadiu. E eu fazia parte do Infinito!


Fui sorrindo para o trabalho, consciente de que as coisas tem o tamanho que damos a elas.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pássaro Azul


João olhou para o seu filho com afeto. Sempre soube que um dia iria sentir o ápice do amor que uma pessoa pode sentir por outra, ou pela vida. Imaginou que talvez fosse aquele o momento. Ele e seu filho tão amado, a maior de suas alegrias e realizações, frente a frente e João sentindo dentro de si uma explosão de afeto, uma felicidade incontida. João sorriu.

Pedrinho, indiferente ao súbito ataque de emoção do pai, continuava brincando com seus brinquedos de animais, fazendo barulhos, criando e recriando mundos... Agora, na sua cabeça, uma floresta inteira se formava: árvores gigantes recobertas por imensas trepadeiras em seus troncos; uma chuva rala caindo serena sobre as copas volumosas, deixando poucas gotas respingarem no chão; animais selvagens caminhando, correndo, rastejando, caçando, cortejando, parados, esperando.

A vida na mente de Pedro era incrível. A imaginação pulsava e em certos momentos se materializava em gritos que saíam de sua boca, vôos de pterossauros com seus braços curtos, barulhos de elefante tão próximos ao real quanto uma criança é capaz e a força bruta de uma ancestral tartaruga gigante derrubando blocos de brinquedos. Um gorila atacava um leão que era salvo por um tigre. Um pássaro azul sobrevoava os galhos mais baixos, chamando toda a atenção da floresta para si, para o seu vôo gracioso e sua cor tão bela. Ah! Aquele pássaro azul. João o viu na mão do filho e se recordou de como o pássaro era capaz de ser mais importante do que todas as outras maravilhas acontecendo juntas no meio da floresta. João se lembrou de ter corrido atrás deste pássaro azul. E Pedrinho seguiu brincando e sua imaginação se materializava de tal forma que João, apenas assistindo com carinho a toda a brincadeira, pôde imaginar tal qual o filho imaginava.

Quando João viu Pedro confrontar uma raia com o pterossauro, riu largamente e decidiu não falar para o filho sobre o seu erro. Suposto erro. Lembrou-se de seus tempos de criança e dos mundos que criava enquanto lia livros ou esperava o pai busca-lo na escola. Era um excelente passa-tempo imaginar que esse mundo em que se vive pudesse ser repleto de grandes aventuras. Tudo era possível. E tudo, sempre,dava tão certo.

E assim, Pedrinho brincou por longos minutos que para ele pareceram vidas inteiras. Brincou sem barreiras criando para si mundos e personagens magníficos. E João... João sorriu por longos minutos, que para ele passaram em um piscar de olhos. Sorriu sem barreiras, agradecido pela vida real se fazer, no fim das contas, tão fascinante quanto a imaginação que criara quando era criança.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Micro-contos

Micro-conto 1
Chove forte lá fora. Ele, aqui dentro, fica admirando o céu que chora. Teve vontade de dormir.

Micro-conto 2
O celular tocava, mas ele não atendeu. Tinha pensamentos mais urgentes no momento.

Micro-conto 3
Às vezes fazia um grande calor na sala. E às vezes, João saía para tomar um ar.

Micro-conto 4
Sede. Ela nunca sentira tanta sede, mas não iria tomar água agora. Por quê?

Micro-conto 5
O dia escurecia, ainda eram dez horas quando as luzes se acenderam. Lá fora, trevas ao meio-dia.

Micro-conto 6
Quando o sol nasceu eles se olharam e sorriram. Fizeram um pacto de seguir juntos para sempre. Ela já não sabia se queria isso quando viu a lua.

Micro-conto 7
Sufocado. Sufocado. Sufocado. Sufocado. Ssssssssssssssssssss... AH! Respirou! Um, dois, três...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

À margem

As ruas ainda vazias, apesar do sol que já despontava a algumas horas no céu, prediziam a solidão ativa no coração de João. Caminhava entre casas pequenas, coloridas diversamente e com janelas de madeira branca que tomavam grande parte da parede. Todas as janelas estavam fechadas, impedindo que a claridade acordasse pessoas ainda entregues ao sono. Alguns paralelepípedos soltos exigiam atenção no andar e João seguia cabisbaixo para não tropeçar e para não encarar o caminho de frente. Seguia arrastando as sandálias friccionando-as contra as areias que o vento trazia da praia.

O clima ainda estava ameno e a maré começara a subir quando João chegou à praia e pôde visualizar alguns pescadores a trabalhar. Puxavam as redes que lançaram à noite, enchiam a embarcação de alimento para suas mesas. A cena era poética, bela. O mar, o homem, o peixe. Grande mistério, trabalho, sustento. João pensou que tudo era providência. Ou que talvez o homem tivesse aprendido a se adequar tão poderosamente ao mundo à sua volta que tudo parecia existir para lhe servir, para ser conquistado. De fato, o homem conquistara cada ambiente: a terra, o mar, os céus. Não havia lugar onde não pudesse chegar, não parecia haver fronteiras na natureza que impedissem a sua passagem, a sua chegada, e a subjugação de toda vida à sua vontade. Logo, também o espaço estaria tomado pela soberania da espécie humana. João pensou tudo isso com um pouco de admiração e muito de desprezo.

Tirou as sandálias e continuou seu caminho pela praia, sentindo a areia fina e fria entre os dedos calejados. Não tinha direção, nem compromissos para o dia. Esperava poder ir a qualquer lugar pelo tempo que fosse necessário para chegar lá. Deixou-se levar, olhando fixamente para o alto mar, maravilhando-se com a imensidão quase infinita que estava à sua frente. “Mexe comigo essa coisa de infinito”, pensou. “Só consigo enxergar até ali, mas sei que ele vai mais além, e mais além, e mais além...”. Não sabia dizer o que o encantava mais: o infinito do universo ou o fato de a vida parecer tão importante apesar de tão pequena. Olhava o horizonte e via o encontro entre céu e mar. Duas realidades distintas, um tão mais infinito que o outro, ambos belos e inspiradores. E do outro lado do horizonte, em sua pequenez, olhos capazes de se admirarem. “São grandes e belos, o céu e o mar, se há quem os observe, ou são plenos em si?”.

Os pensamentos corriam, assim, soltos. Sem a pretensão de fazerem sentido ou de conduzirem a quaisquer conclusões. Era quase como uma limpeza mental. Fazia-lhe bem.

Já passada a manhã, o humor o conduziu para dentro da pequena cidade. Quis ver pessoas, olhar em seus olhos, imaginar seus percursos. Sem deter-se em lugar algum, percorreu ruas, olhou vitrines e cumprimentou quem encontrava.

O dia passava rápido apesar da aparente ociosidade de João. Chegou a um dos limites da cidade, de onde podia ver o mar do alto, bem alto. Estava sobre uma pequena chapada, arborizada e com um parapeito que o impedia de chegar próximo à borda. João pousou o braço sobre a madeira do parapeito e inclinou o corpo para sentir a brisa e apreciar mais um pouco a visão.

Caía a tarde, as primeiras estrelas começavam a aparecer e o sol, magnificamente belo, descia rapidamente às costas de João. Hoje, ele decidiu observar não o pôr-do-sol, mas o anoitecer. Via o azul tornar-se negro e a escuridão tomar conta de uma paisagem a pouco tão viva e repleta de luz. Ficou ali até que pudesse ver apenas um imenso abismo negro abaixo da chapada. Imóvel... absorto... Fitou a escuridão, desafiando-a a penetrar seu coração com toda a força. Percebeu-se capaz de vencê-la, percebeu-se forte mesmo em sua solidão. Talvez a própria solidão o tenha enriquecido, ajudado a conhecer-se e, portanto, o tornado senhor de si.

Decidiu voltar para casa, mas antes de sair, reparou que a poucos passos de onde estava havia uma escada, mal cuidada, a princípio perigosa, que descia pela borda da chapada até... A noite o impedia de ver. Enxergava muito pouco e a escada desaparecia em meio ao nada. “Para onde?”, pensou.

Numa noite escura, tendo seguido durante todo o dia para o limite de cidade já conhecida, João, às bordas de um abismo e às margens de si, deparou-se com uma escada que não sabia para onde ia. Desceu.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre palavras

Palavras me encantam, brilham meus olhos. Elas me fazem enxergar, com os olhos da alma, o que eu nunca poderia ver fisicamente. Me fazem ter sensações diversas: de amor a ódio, de nojo a deslumbramento. Em um únicipo parágrafo cabem muitas vidas, a cada palavra a ser escrita uma infinidade de possibilidades se abre: mundos inteiros, histórias fantásticas, personagens magníficos.


Há quem diga que as palavras tem poder. "Não diga isso, atrais coisa ruim" ou "repita isso todos os dias, o pensamento positivo pode criar o que você quiser". Eu não acredito nisso. Acho apenas que as palavras inspiram. Inspirar... Inspirar...


Coisa mais vital à vida é a respiração. Tudo o que fazemos, o fazemos por uma motivação. Quando a motivação é grande e vem lá de dentro, lá do nosso coração, chamamos de inspiração. E da inspiração, a consequência lógica é a expiração. Expiramos ações, atos e gestos concretos que nos fazem construir ou destruir, unir ou separar, irritar ou tranquilizar. São essas ações que tem poder. É o que fazemos de concreto que nos traz coisas boas ou ruins e as levam para os outros. Inspiramo-nos com palavras, expiramos em ações. Inspiramo-nos com palavras, expiramos em ações.


E se a palavra é forte o suficiente para inspirar a ser melhor, expiramos alguém que se forma e que constroi. Se a palavra inspira a se doar, a unir e a fazer-se um, expiramos uma pequena célula de sociedade que vive diferente. É sempre um processo de dentro para fora; uma sublimação do nosso interior para o exterior. É um sentir-se emocionado que se converte em lágrimas; um sentir-se alegre que se abre em sorriso; é um sentir-se amargurado que se converte em isolamento; é um sentir-se desafiado a construir um mundo novo que se converte em amor concreto.


São as palavras do Evangelho, que nos inspiram e desafiam a amar. Amor que transforma.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

1 mês de parágrafos

1 de janeiro

Tudo novo, diriam alguns, mas para João nada parecia assim tão diferente. Na verdade, tudo estava assim... igual. Trabalhou na sexta, trabalharia na segunda, a rotina continuaria a mesma, exceto pelo trânsito mais livre nas ruas de janeiro. Não podia concordar que tudo era novo. Mas havia de ser honesto consigo, a sua disposição era outra, era nova. Era a vontade de fazer as coisas diferentes e a determinação clara em fazê-las. E, estando disposto a isso, se o fizer, tudo se fará novo. O ano já era outro, mas o novo ainda estava por vir...

2 de janeiro

É como começar um novo livro. Primeiro você abre uma página aleatória, aproxima o nariz, cheira aquele cheiro gostoso de livro novo. Saboreia esse cheiro, mexe com o livro, brinca com ele em suas mãos, lê as orelhas, lê a contracapa e fica imaginando quantos mundos serão conhecidos, quantas essências descobertas e com quantos personagens magníficos você irá viajar nas aventuras que você está prestes a ler. Fica só imaginando, mas quando lê, sempre se surpreende, porque é sempre muito mais do que esperamos.

3 de janeiro

Hoje me deu muita vontade de controlar o futuro. Daí pensei em quão pequena é essa vontade visto que, muitas das vezes, as surpresas do futuro são as melhores coisas da vida. Lembrei também de uma tira do Calvin&Haroldo em que o tigre diz: 'O problema do futuro é que ele está sempre se transformando em presente'. Se nem o presente posso controlar, que dirá o futuro. Pois que venha o futuro, e se torne presente. E eu, que não me arrependa do passado.

4 de janeiro

Queria viver em um mundo onde as máscaras caíssem e se desfizessem em pedaços para não poderem mais ser vestidas. Em um mundo onde todos fossem o que são e nada mais, sem medo de se mostrarem e de se demonstrarem. Em que sentimentos fossem expressos tal como estão sendo sentidos e as palavras significassem apenas o que significam, sem direito a segundas interpretações ou sentidos velados. Queria viver em um mundo assim: ideal. Mas que posso fazer se esta minha vontade é só mais uma de minhas máscaras?

5 de janeiro

Naquela tarde morna de quinta-feira, João desejou fazer algo bem diferente. Como lhe faltavam opções e oportunidades e a preguiça era maior que a vontade de criá-las, apenas ficou meio sem fazer nada, meio assim parado e pouco pensativo. Assim, não fez nada, mas o fez com espírito despreocupado e isso foi suficientemente diferente para ele naquele dia. Concluiu que não precisava se esforçar para algumas coisas, só não podia fazer disso uma rotina.

Dia 6 de janeiro

Nos poucos tempos livres em que consegue se livrar, João deleita-se com o doce sabor do silêncio. Mergulhando no interior de seu eu, encontra-se consigo e fala baixo, sussurra para si seus desejos mais íntimos. Ali, naquele silêncio, se redescobre e apruma-se para buscar, determinado, o que realmente quer. E então, assume novamente o posto de sua vida e vai. Vai! Não basta a vontade, João. Não basta querer. Vai!

Dia 7 de janeiro:

O corpo cansado caminha lentamente para lugar algum, com pernas doloridas e braços meio abertos incapazes de se movimentar. Com a vista fraca, olhos opacos e rugas no rosto, os dias se seguem lentamente, como relógio de pulso que para a cada pulsar e só torna a tiquetaquear uns instantes depois, fazendo o tempo ser o dobro, o triplo. Tic Tac. Só resta a espera de dias assim e a esperança de sempre poder continuar sorrindo e feliz. Lembranças dos anos que passaram e das alegrias saboreadas. Sorrir é o que os torna vivos!

Dia 8 de janeiro

Amanhã, pensou João, amanhã! Deitou-se e tentou dormir, apesar dos muitos pensamento conturbados e do imenso frio na barriga. Tentou afastar medos e angústias, mas se acalmou apenas quando começou a rezar. Rezou até que o corpo exausto se deixasse levar pelo sono, esperando, ansioso, que o dia seguinte lhe trouxesse paz e calma para fazer o que deveria ser feito. Esperou e confiou. No dia seguinte, ao acordar, lembrou-se de começar agradecendo a oportunidade de viver. Apesar de tudo o que ainda não estava resolvido, reconhecia o presente e a aventura que havia nessa pequena palavra: Vida!

Dia 9 de janeiro

A grande loucura de nossos dias é deixarmos de viver os nossos sonhos em prol de uma segurança que nos mantém pregados ao chão. É uma sociedade construída sobre o pilar da necessidade que não se precisa, necessidades criadas para nos dar a impressão falsa e egoísta de estarmos sendo alguém. A grande loucura de nossos dias é nos vendermos a essa loucura por medo de não nos encaixarmos nesse mundo perdido caso não nos vendamos. A grande coragem é enfrentar esse medo e arriscar a felicidade naquilo que brilha nossos olhos, é escolher, livremente, viver a nossa própria vida.

Dia 10 de janeiro

São 2h da manhã e João nascerá. Nascerá como ser humano demasiadamente humano.

Acontece que João acordou numa segunda-feira de manhã chuvosa melancólico e inseguro. Perdeu o horário do ônibus e, nervoso, brigou para sair com o carro do pai. Chegou no trabalho cansado, mas lá conseguiu se distrair com futilidades da internet, conversas sobre a rodada de futebol do fim de semana e comentários sobre a manhã chuvosa da tão 'amada' segunda-feira. Não trabalhou o que deveria, deixando muito para o dia seguinte. Passou o dia assim, entre a sensação efêmera e passageira do bem-estar e o contido desânimo e tristeza de quem não se resolveu em um monte de aspectos de sua vida tão pacata, sem problemas reais e mesquinha. Não que sua vida seja assim, mesquinha, ou que não tenha problemas reais, apenas era assim que ele se sentia no momento. Durante o dia, amou, rezou, sorriu e fez sorrir, mas também odiou, ficou nervoso, tenso, preocupado, inseguro e egoísta. Ah! João foi tantas vezes egoísta! Mesmo nas horas em que ajudou, se dispôs e amou, não o fez sem esperar um "muito obrigado" e uma boa sensação de bem-estar em troca. Tudo o que João fez foi assim, buscando uma retribuição ou um "sentir-se bem". E João foi dormir com a estranha sensação de querer ser mais, ou ser menos do que já é, mas sem muitas esperanças de acordar assim tão diferente no dia seguinte. Este é João, tão eu, tão você...

Dia 11 de janeiro

Entre luzes e sombras, vivemos buscando. Entre sombras e luzes, às vezes erramos. Seguimos, no entanto, caminhando, guiados por luzes, rodeados por sombras. Algumas vezes pisamos no claro, outras corremos no escuro. Onde quer que vamos, lá estão elas: luzes e sombras. Não por que estejam em todos os lugares, mas por que as carregamos conosco.

Dia 12 de janeiro

De onde menos se espera, surge a vida, brota a fé. Entre tantas desesperanças, entre tantos desassossegos, há uma luz, um coração disposto a se doar. Entrega desinteressada, doação humilde e cheia de coragem de quem, tendo tão pouco, se vê capaz de ajudar. Ajudar e esperar: Deus dará em dobro. E eu aqui com tanto... e eu aqui com tanto, me vendo obrigado a aprender com quem eu deveria ensinar. Obrigado pela esperança reacendida... obrigado!

Dia 13 de janeiro

Por trás das nuvens, lá onde a vista não chega, por dias se esconde, por dias descansa o sol. Esse sol que aquece e dá vida, mas que às vezes dá vez às águas que saciam a sede e regam as terras que alimentam e brotam em flor. Esse sol, que ao sair, faz sorrir, faz correr, faz sair do abrigo. Mas não se engane, não se espante, se depois voltar o vendaval. Esse sol, que ao sair faz saborear, que faça trabalhar para quando ele de novo se esconder se tenha um bom abrigo pra descansar.

Dia 14 de janeiro

Certas coisas passam e viram passado. E só. Passou! Não é, não será, só foi. Lembranças. Algumas coisas, ainda, não chegam a ser. Lembranças, também? Memória? Não. São apenas possibilidades não concretizadas e para isso não se inventou um nome. Outras, são! Realidade, presente, concreto e dom. Essas fazem sentir, essas fazem viver, essas fazem sorrir... ou não. Há ainda as que serão, hão de vir. Possibilidades, previsões, "quem sabe"? Saberemos, viveremos, sentiremos. Seremos!

Dia 15 de janeiro:

Aprendemos com a vida que nunca saberemos de muita coisa. E que muitas vezes não precisamos saber, mas ter sabedoria. E que a sabedoria se alcança aprendendo e também errando. E que no erro a gente se fortalece. E que sempre haverá uma barreira para a qual ainda estaremos fracos. E daí, erramos novamente. E nos fortalecemos ou sucumbimos, à nossa escolha. Eu escolho ser forte.

Dia 16 de janeiro:

Para servir e amar é preciso primeiro ser dono de si. É preciso dominar-se com a mesma presteza com que se guia um carro, por que quando se perde o seu controle, não é possível levá-lo para o seu destino correto. Quando se perde o controle de si, não se pode saber para onde se vai, sequer se sabe o que se quer, se é que quer. Não se pode ser luz, se o interior é só escuridão.

Dia 17 de janeiro:

Primeiro um passo. Depois outro. Depois outro. Até que você para e percebe que não sabe mais em que direção seguir. Como dar o próximo passo? Você espera, observa, estuda cada caminho, mas nada clareia suas ideias. Nenhuma decisão é tomada e entre tantos medos e desacertos do passado você decide ficar parado e esperar alguma nova situação aparecer para continuar caminhando menos cegamente. E você espera. E o tempo passa. E quando você olhar para trás, descobrirá que não ter feito nada também foi dar um passo, só não se sabe ainda em qual direção.

Dia 18 de janeiro:

Numa tarde nublada, sentado em um banco de praça próximo a árvores frondosas, João apreciava um belo livro sobre guerras, reis, cavaleiros e damas. Entre uma página e outra, descansava a vista e imaginava as cenas que acabara de ler com uma vivacidade única, proporcionada apenas por aquelas grandes histórias que se fazem acontecer só nos pensamentos. Num desses momentos, João observou uma pequena folha que se desprendeu de seu galho. Caía numa dança leve e bela que inspirava e fazia nascer belos pensamentos. Tentou imaginar, em segundos, o caminho que ela faria. Viria um vento e a levaria para longe, fazendo-a subir antes de sua última queda sobre o chão cheio de outras folhas? Continuaria a dança e desceria em espiral até seus pés, onde poderia pegá-la, cheirá-la e até guardá-la para si como recordação? Cairia a meia distância? Sua queda seria só ilusão? Imaginava... enquanto a folha caía...

Dia 19 de janeiro:

Adormeço. Recomeço. Tudo começa, ou deveria, com um bom dia. Levanto. Alongo. Caminho. Abro portas, torneiras e caminhos. Abro sorrisos, canto canções. Dou passos largos, passos curtos. Passo. Pauso. Como. Como quem ainda quer cama, saio. Encontro pessoas. Repito percursos. Trabalho com calma. Trabalho mais um pouco. Impaciente me torno. Suporto. Logo, retorno. Cansado, respiro fundo e me alivio. É noite. Com um banho, descanso. Gasto o tempo, passo o tempo, saboreio o tempo restante. Adormeço. Recomeço.

Dia 20 de janeiro:

Ele queria uma paixão nova, daquelas que, com apenas um sorriso, lhe despregavam do chão quando estava caído. Daquelas que lhe erguiam a cabeça e faziam seu coração bater forte, muito forte, bem forte. Daquelas que se eternizavam em um abraço e lhe deixavam tímido em manter um olhar. Mais, queria aquela paixão que lhe despregava do chão, lhe erguia a cabeça e, timidamente, o fazia voar. Ah! Voar! Sensação única de liberdade e rebeldia, de prazer e alívio, de paz. Sabia que após o vôo muitas vezes vinha a queda. E a queda doía e lhe arrancava o que de bom ganhara. Ah! A queda, tão dolorosa às vezes. Sabia da queda, lembrava dela, mas depois que o tempo passava, ah! a lembrança do vôo era só o que restava. E da queda, apenas uns pequenos arranhões para contar história. É! Ele queria uma paixão nova.

Dia 21 de janeiro:

Um parágrafo curto, rápido, corrido. Sem tempo, na pressa, escrevo rápidas linhas sem muito pensar. Quase esqueço de fazê-lo, quase me perco no ponteiro. Ainda uma noite inteira, ainda mais alguns dias, ainda muito tempo necessário no relógio.

Dia 22 de janeiro:

Música! O som, a melodia, a batida, a voz, a harmonia... O coração que bate num mesmo ritmo, o corpo que se move e dança. Viver no refrão, esperar nos versos, pausar nos finais, recomeçar. Ouvir. Fechar os olhos e deixar as notas emergirem como pingos de chuva que afagam a pele cansada pelo calor do trabalho. Afinar-se, deitar e deixar o sonho ser canção.

Dia 23 de janeiro:

João teria muitas coisas a dizer, muitas coisas que gostaria de fazer e outras tantas que gostaria de... de pular! Mas João, pobre João, tem uma imagem a zelar.

Dia 24 de janeiro:

Tudo estava por acabar. Tudo! Tudo o que conheciam, tudo o que viriam a descobrir, tudo o que sabiam, tudo o que eram, toda a consciência e moral. Tudo! Não havia porque correr. Não havia para onde correr. Contentaram-se em esperar. Espera paciente e angustiante. Coração apertado e sofrido, sem saber o que esperar. Seria rápido? Sentiriam dor? Veriam o mundo se acabar aos poucos e o sofrimento aparecer em cada rosto? Ou simplesmente, desfaleceriam num piscar de olhos? Espera... Espera... Num instante, um estrondo de proporções gigantescas tomou conta de toda a Terra. O céu se encheu de luz cegante e o ar se poluiu de fumaça e cinzas. Cada célula viva tremeu e se foi. Tudo num piscar de olhos, que jamais se abriram.

Dia 25 de janeiro:

Chegou um pouco mais cedo em casa naquela tarde chuvosa de janeiro, sentindo o corpo levemente pesado. Entrou no chuveiro e deixou a água e os pensamentos escorrerem, livres como são. Saiu do banho um pouco mais amolecido, mas ainda necessitado de energias renovadas. Colocou sua samba-canção mais confortável, escureceu o quarto como pôde, deitou sobre a cama e cobriu-se. O sono merecido dos cansados, que tantos cansados mereceriam mais que ele. Aguardou, não muito, até que dormisse. Acordou algumas vezes, mas voltou a dormir e saboreou aquele momento simples e bom de um dia-a-dia às vezes tão corrido.

Dia 26 de janeiro:

“E agora?”, pensou. Estava cansado, exausto na verdade, e ainda tinha muito que fazer. Sem dormir a mais de 72 horas, seus olhos pesados enxergavam embaçado e dobrado. O corpo fatigado continuava caminhando sem fim e embaixo de um sol escaldante que agora estava a pino. Caminhava rumo a algum lugar onde pudesse encontrar quem o ajudasse. “Ou permaneço caminhando ou morro. Apesar de que morrer não parece ser uma má opção.” O que lhe fazia caminhar? Por que não entregar as pontas e abandonar-se inerte, sem vida, no meio daquele nada? Nada! Não sabia... não sabia porque persistia. Apenas caminhava, semi-morto, rumo a qualquer lugar.

Dia 27 de janeiro:

Então pronto! Ele iria escrever um conto curto bem sombrio enquanto seus amigos saboreavam um delicioso açaí ali num bar. O conto deveria ter sombras das mais sombrias que ele pudesse imaginar. O problema é que só conseguia imaginar suas próprias sombras com pouca clareza. E elas não lhe pareciam suficientes. Teria que adentrar a frieza e escuridão de um bandido, de um assassino. A mente de um homem entregue aos vícios e medos, inseguranças, depressão, pânico, pavor, horror... Adentrar a vida amargurada e cheia de peso esmagador de uma história sofrida, de um coração rejeitado e espancado pelo próprio pai. Uma história de perdas, estupros e outras violências físicas, psíquicas e emocionais que levaram a escolhas duras de perpetuação do mal, da dor e da morte. Sombras das mais sombrias lhe passavam pela cabeça, mas, sem coragem, não chegavam ao papel. Sombras que todos temos, mas que só existem porque em algum lugar incide alguma luz.

Dia 28 de janeiro:

Olhando assim, distante, são tão pequenas essas estrelas. Minúsculos pontos luminosos imóveis em um extensíssimo céu negro. Ínfimas criaturas, servindo apenas para nos guiar de vez em quando e iluminar uma noite que, de outra forma, seria mais treva. Olhando assim, de longe, poderia até não reparar tanto nelas, se sua incontável quantidade não nos chamasse tanta atenção. Ah! Mas se eu as pudesse olhar de perto... Se pudesse por alguns instantes me aproximar e admirar a vastidão de suas superfícies quentes e brilhantes, poderosas e explosivas! Quisera vê-las nascer e, em velocidade super rápida, acompanhá-las em todo seu desenvolvimento de bilhares de anos. Tempo incompreensivelmente finito. Imagino o som ensurdecedor que fariam. Imagino-me fascinado com toda a sua magnitude hipnótica. Sentiria-me assim, inútil, pequeno, fugaz, pouco, breve, pó, nada... Mas sentiria-me feliz, talvez, por poder contemplá-la em todo seu esplendor

Dia 29 de janeiro:

Por onde começar? Por onde continuar? Que caminho seguir? Voltar? Persistir? Desviar? Parar? Reconhecer o caminho errado e... e o quê? E pra onde? E pra quê? Esperar? Se ausentar? Sentar e esperar? Será que não fazer já é decidir? Já é escolher? Questionar-se? Passar o tempo? Deixar passar? Passado? Viver o presente e só? Querer um futuro melhor? Lutar? Se esforçar? Deixar? Largar? Querer? Esquecer? Angustiar-se? Renovar-se? Ser essência e muito mais? Sentença? Tenta? Lembra? Me entenda. Por que eu não!

Dia 30 de janeiro:

Uma porta! Que haverá do outro lado? Um parque de criaturas ancestrais revividas pela ciência de clonagem? Uma policial tentando encontrar um criminoso com a ajuda de um assassino em série? Um mundo ameaçado de extinção por não haver crianças com imaginação? Ou quem sabe um outro mundo em que bruxos e trouxas convivem, sem que estes saibam da existência daqueles? Talvez seja uma terra inteira em guerra por conta de um pequeno objeto, um simples anel. Monstros! Criaturas gigantescas e pavorosas a vinte mil léguas no fundo do mar! Pode ser também pessoas, como nós, vivendo suas vidas e dramas, em outras épocas ou nessa. Pode ser tanta coisa. A princípio, apenas uma porta. Pra saber o que há do outro lado, vire a capa.

Dia 31 de janeiro:

Adeus mês velho! Feliz mês novo! Que se faça no novo mês o que no velho não se fez. Que os propósitos já esquecidos sejam retomados. Os propósitos vividos que sejam revigorados. E que a cada novo dia (pra quê esperar um ano? pra quê esperar um mês?) a gente possa renovar os votos de nova vida, esperança e paz nos corações. Mas os vivamos conscientes de que são precisos atos concretos e constantes a cada nova hora, a cada novo minuto. Agora!