quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pássaro Azul


João olhou para o seu filho com afeto. Sempre soube que um dia iria sentir o ápice do amor que uma pessoa pode sentir por outra, ou pela vida. Imaginou que talvez fosse aquele o momento. Ele e seu filho tão amado, a maior de suas alegrias e realizações, frente a frente e João sentindo dentro de si uma explosão de afeto, uma felicidade incontida. João sorriu.

Pedrinho, indiferente ao súbito ataque de emoção do pai, continuava brincando com seus brinquedos de animais, fazendo barulhos, criando e recriando mundos... Agora, na sua cabeça, uma floresta inteira se formava: árvores gigantes recobertas por imensas trepadeiras em seus troncos; uma chuva rala caindo serena sobre as copas volumosas, deixando poucas gotas respingarem no chão; animais selvagens caminhando, correndo, rastejando, caçando, cortejando, parados, esperando.

A vida na mente de Pedro era incrível. A imaginação pulsava e em certos momentos se materializava em gritos que saíam de sua boca, vôos de pterossauros com seus braços curtos, barulhos de elefante tão próximos ao real quanto uma criança é capaz e a força bruta de uma ancestral tartaruga gigante derrubando blocos de brinquedos. Um gorila atacava um leão que era salvo por um tigre. Um pássaro azul sobrevoava os galhos mais baixos, chamando toda a atenção da floresta para si, para o seu vôo gracioso e sua cor tão bela. Ah! Aquele pássaro azul. João o viu na mão do filho e se recordou de como o pássaro era capaz de ser mais importante do que todas as outras maravilhas acontecendo juntas no meio da floresta. João se lembrou de ter corrido atrás deste pássaro azul. E Pedrinho seguiu brincando e sua imaginação se materializava de tal forma que João, apenas assistindo com carinho a toda a brincadeira, pôde imaginar tal qual o filho imaginava.

Quando João viu Pedro confrontar uma raia com o pterossauro, riu largamente e decidiu não falar para o filho sobre o seu erro. Suposto erro. Lembrou-se de seus tempos de criança e dos mundos que criava enquanto lia livros ou esperava o pai busca-lo na escola. Era um excelente passa-tempo imaginar que esse mundo em que se vive pudesse ser repleto de grandes aventuras. Tudo era possível. E tudo, sempre,dava tão certo.

E assim, Pedrinho brincou por longos minutos que para ele pareceram vidas inteiras. Brincou sem barreiras criando para si mundos e personagens magníficos. E João... João sorriu por longos minutos, que para ele passaram em um piscar de olhos. Sorriu sem barreiras, agradecido pela vida real se fazer, no fim das contas, tão fascinante quanto a imaginação que criara quando era criança.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Micro-contos

Micro-conto 1
Chove forte lá fora. Ele, aqui dentro, fica admirando o céu que chora. Teve vontade de dormir.

Micro-conto 2
O celular tocava, mas ele não atendeu. Tinha pensamentos mais urgentes no momento.

Micro-conto 3
Às vezes fazia um grande calor na sala. E às vezes, João saía para tomar um ar.

Micro-conto 4
Sede. Ela nunca sentira tanta sede, mas não iria tomar água agora. Por quê?

Micro-conto 5
O dia escurecia, ainda eram dez horas quando as luzes se acenderam. Lá fora, trevas ao meio-dia.

Micro-conto 6
Quando o sol nasceu eles se olharam e sorriram. Fizeram um pacto de seguir juntos para sempre. Ela já não sabia se queria isso quando viu a lua.

Micro-conto 7
Sufocado. Sufocado. Sufocado. Sufocado. Ssssssssssssssssssss... AH! Respirou! Um, dois, três...