quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sobre depois

Ela tá doida. Fazendo mil coisas da vida. E reclama que não respira, que não sorri.
Mas se alguém diz que ela precisa descansar e viver mais a família, os amigos, um amor, diz que está aproveitando enquanto pode pra crescer na vida e depois poder aproveitar.

E aqui tudo pára!!! (para agora é sem acento, né?)

Pra crescer na vida??? Que é crescer na vida? Que é ser bem-sucedido? Que é ser feliz?

Não te respondo. Não espero resposta. Mas não se pode ser feliz deixando de lado o mais importante e vivendo o hoje à margem do amanhã.

Carpe Diem, então? Não! De forma alguma.

Mas se "a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro", então é preciso equilibrar a garantia (muito subjetiva, diga-se de passagem) de um futuro próspero com o bem-estar atual do corpo, da mente e da alma. Seu e do próximo!

Do próximo, sim! Por que é a (sua) vida do outro que dá sentido à (minha) sua.

Blah blah blah... apenas a necessidade de "vomitar" algumas palavras....

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sobre o peso do mundo...

Tudo começa com a vontade enorme de fazer mais. Vontade capaz de botar o mundo no ombro e sair por aí concertando tudo. Tudo começa com a indescritível certeza de que vai dar tudo certo. Começa com o ânimo e a satisfação de alguém que sabe que está prestes a fazer algo grande!

Mas o mundo é bem pesado. É bem pesado. Bem pesado. PESADO!

E aí, percebe-se que não dá pra carregá-lo sozinho, quanto mais concertá-lo: Ele é grande!

E aí esquece-se o mundo e concerta-se a própria e pequena vida. E alivia-se.

Mas será só isso?

E quem será responsável pelo mundo? Largá-lo quando ele começa a pesar é comprovar que nunca se pôde fazer nada. É comprovar que aquela vontade era ingênua e infértil.

Quando custa... aí é que vale a pena!

sábado, 2 de maio de 2009

Sobre Caledônia

Digory podia ver o sol em todo seu esplendor. O frescor que pairava no ar sobre as águas e a brisa leve que soprava as velas de seu barco afagavam seus cabelos. A praia se estendia por toda a ilha. Uma imensidão de coqueiros formava uma muralha ao longo da orla. Suas folhas gigantescas e verdes como rubi estavam levemente voltadas para o interior da ilha, empurradas pelo fraco vento.

O mar estava brando. As ondas quebravam fracas nos pés de pequenas formações rochosas que se erguiam sobre a areia branca e fina. Com a luneta, pequenos siris podiam ser vistos saindo de tempos em tempos das tocas que o mar produzira nas pedras.

O jovem garoto estava encantado. Jamais vira tanta beleza. As cores de cada elemento se harmonizavam com uma perfeição jamais vista. Tudo estava na exata medida para agradar-lhe. O calor do sol não queimava, a brisa não esfriava. Tudo era belo e incrivelmente apetecível aos sentidos.

Digory atravessou o navio. Subiu as escadas que levavam ao timão. Enquanto o navio se aproximava lentamente da praia, parou para olhar todo o mar que atravessara. Era imenso! No horizonte, o azul claro e oscilante do oceano encontrava-se com o anil impassível do firmamento. Céu e mar - duas realidades distintas que sempre encantaram os homens - tocavam-se no infinito do olhar. Digory sentiu que, ao se tocarem, céu e mar formavam uma barreira intransponível. Ele sentia que não poderia mais voltar. Mas também sentia que não teria desejos de largar aquela terra jamais. Seu coração estava aliviado como nunca antes estivera. Sua mente, vazia de tudo o que não era presente. Vazia de toda preocupação insana e sem razão. Vazia de lembranças ruins e desejos impuros.

Aquelas areias o chamavam. Ele podia ouvir sua voz. A voz doce e contagiante da tranqüilidade e da paz. A voz que guiou seus pais, e a voz que lhe deu vida.

Voltou à proa. O navio já estava muito próximo à praia. Abaixou as velas, uma por uma. Sentiu que jamais teria que levantá-las novamente. E isso o agradou.

Lançou a âncora pela última vez. Olhou de novo para o horizonte e despediu-se de toda a vida que conhecia. Subiu no parapeito. Em pé, deixou-se tocar pela brisa leve e refrescante que vinha do mar. Seu cabelo foi levado aos olhos, cegando-lhe por instantes, mas isso não o incomodou. Era como cócegas, como carinho. Ouviu mais uma vez a voz lhe chamar. Doce. Sorriu. Preparou-se para o salto, tão esperado salto. Lançou-se ao mar. As águas o envolveram como os braços de uma mãe que acolhe e protege o filho machucado e angustiado. Envolveram-no como os braços de uma mãe, mas uma mãe imensa, com braços do tamanho do mundo. Braços que se estendiam por todas as ilhas, que abarcavam todos os navios e todas as vidas. Braços que estavam por todos os lados e que sempre estariam ali ou em qualquer lugar para protegê-lo. Ali e em qualquer lugar, mas não havia mais outro lugar. Afundou de cabeça até quase tocar a areia. Os olhos abertos viam toda a vida contida naqueles poucos metros que podiam enxergar. Era uma explosão de vida e cores. Corais, peixes, algas confundiam-se em cores e tons. Um relevo único e envolvente erguia-se do fundo do oceano, como um reino com seu castelo, suas aldeias e suas muralhas. Era uma beleza que nunca pôde imaginar. Peixes fugiam de sua presença e enquanto nadava para voltar à superfície viu o vulto de aves sobrevoando o mar e a praia. Seu vôo era belo, calmo. Voltou a superfície e sentiu novamente o sol tocar seu corpo úmido e frio. Afastou o cabelo molhado do rosto para contemplar a ilha, agora tão perto. Não pôde mais se conter e nadou rumo àquele lugar. Sentiu-se leve e veloz. Os braços não se cansavam, mas, estranhamente, a cada braçada, ganhavam novo vigor. Ele nadou. E mesmo sob as águas podia ouvir aquela voz a lhe chamar. Ele nadou e se entregou. Entregou-se por inteiro. Entregou-se à harmonia e paz de Caledônia.