sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sobre uma luta árdua em plena sexta-feira

Mais uma do dia-a-dia no serviço público. Curtinha.


Marcos lutou com todas as forças contra o sono. Era sexta-feira, e, em sua cabeça, isso justificaria o atraso caso dormisse um pouco mais. Mesmo assim, vencendo-se a si mesmo, num grande ato heróico, levantou-se sonolento - quase moribundo - para trabalhar. A luta continuou enquanto se arrumava, e quase perdeu-a quando sentou na cama para calçar o tênis. Era questão de tombar um pouco e dormir por mais algumas doces horas (quem dera fossem doZe horas). Não o fez. Lutou bravamente e venceu - um grande guerreiro, pensou consigo mesmo.

Chegando ao trabalho, não encontra Ronaldo. Seu colega de trabalho, pelo jeito, lutara bravemente, mas perdera a batalha. O detalhe: Ronaldo tem a chave da sala; Marcos ficou de fora. Ainda com os olhos pesados e o corpo molenga, pensou: venci, mas antes tivesse perdido.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sobre uma descrição fantástica! (em todos os sentidos)

"Nesta região não se aventuravam nem os mais ousados alpinistas. Ou melhor: já fazia tanto tempo que ninguém as conseguia escalar, que ninguém se lembrava mais de quando isto acontecera pela última vez. Pois essa era uma das muitas leis incompreensíveis de Fantasia: as Montanhas do Destino só podiam ser conquistadas por um alpinista quando aquele que o fizera pela última vez tivesse sido completamente esquecido e quando já não existisse nenhuma inscrição em pedra ou metal que desse testemunho do seu feito. Por isso, quem conseguisse levar a cabo tal proeza seria sempre o primeiro."

Michael Ende, A história sem fim.

CARALEOOOOO!!! Um dia chegarei lá!!!!!!!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sobre um segredo, uma viagem e um presente

É massa quando a inspiração vem!!!




O silêncio tomava conta da grande sala. Enormes estantes erguiam-se até o teto, abarrotadas de clássicos, épicos, aventuras, romances, quadrinhos... Longos corredores se formavam entre as estantes de livros e imensos espaços com mesas e cadeiras lotadas de leitores ávidos e curiosos eram preenchidas na medida em que a manhã avançava.

Por volta das 10h da manhã, enquanto o sol entrava pelas frestas de duas grandes janelas no fundo da biblioteca, o abismal silêncio foi interrompido por um baque na porta de entrada. Um menino acabara de entrar correndo. Seu tênis friccionava e chiava a cada passo. Os pedidos de silêncio multiplicavam-se inutilmente a medida que o garoto se esgueirava por entre os corredores. Visivelmente afoito, o menino corria e, de tempos em tempos, olhava para trás, como que preocupado em estar sendo seguido de perto.

Com suas pernas miúdas, ia dando passos cada vez mais rápidos, quase tropeçando. Entrou no corredor de enciclipédias. Parou um minuto e analisou o ambiente em que estava. Olhava para um lado e para outro, como que procurando algo escondido. Não encontrando o que procurava, olhou apressadamente para a entrada do corredor e continuou correndo. Não havia se dado conta de que estava em ambiente onde crianças não devem fazer barulho, sequer deveriam entrar. A biblioteca era lugar de saber, introspecção e conhecimento. Não havia tempo para brincadeiras de muleques ali.

Não se dando conta disso, desatava a correr sempre que não encontrava o que procurava em um dos corredores. Um senhor de oitenta anos, de óculos redondos e cabelos grisalhos desgrenhados, olhou de soslaio quando viu o menino passar, atormentado pelo que parecia ser um fantasma a persegui-lo. Rapidamente, contrariando as leis que dizem que idosos não têm reflexo e velocidade, virou-se e agarrou o garoto com um só braço e o trouxe para perto de si.

O menino, assustado, soltou um grito que foi rapidamente abafado pela mão livre do velho. O homem levou o garoto para um corredor vazio. Se alguém visse os dois naquele momento, certamente diria que a imagem era digna de uma pintura, grande obra de arte: entre duas imensas estantes cheias de livro, um homem idoso, de suspensório e calça marrom, camisa xadrez e sapato batido, segurava um menino com um braço e tapava sua boca; o menino, cabelo cortado como índio, olhos puxados, camisa azul lisa, short e tênis levemente rasgado, debatia-se com vigor. O sol que entrava pela janela iluminava exatamente a figura dos dois.

O menino se debatia nos braços do velho, e sua boca tentava, em vão, mordiscar um pedaço da mão daquele homem que aparentemente o agredia. Enquanto segurava o menino, o velho falou em voz baixa ao pé de seu ouvido.

Menino levado, criança mimada,
Aqui nesta sala, não se pode gritar.
Mas não se assute, menino, não se espante com nada,
Você é bem-vindo se quiser viajar!


Ao ouvir essas palavras, como que por encanto, o menino se acalmou. De certo, não esperava ouvir uma canção de um velho que aparentemente queria lhe matar (isso na cabeça do menino). Além disso, as últimas palavras atingiram seus ouvidos como uma grande surpresa: "Você é bem-vindo se quiser viajar". Aquele velho certamente estaria senil. Até onde sabia o garoto, entrara em uma biblioteca, e ali o máximo que poderia fazer era dormir. De qualquer forma, sempre gostara de viajar, e não custava tentar entender o que ele queria dizer.

Aquietou-se para que o senhor o deixasse falar. Antes de dizer qualquer palavra, respirou profundamente algumas vezes para descansar.

- Viajar? Para onde? - disse em voz não muito baixa, ainda arquejando de cansaço.
- Hey, garoto. Psiu!!! - disse o velho, dessa vez sem usar rimas e canções. Você não pode deixar que os outros ouçam o segredo que vou lhe contar.

Os olhos do garoto se arregalaram ao ouvir a palavra segredo. Certamente, teria muito o que contar a seus amigos quando voltasse para sua rua.

- Mas antes de contar-lhe qualquer coisa, quero saber se merece meu presente.

Ok. Passada a excitação do primeiro momento, o garoto finalmente chegara à conclusão de que o velho estava de fato maluco. Primeiro, falou em viajar numa biblioteca; depois, falou em segredo; agora, não era mais segredo, e sim presente.

"Os adultos sabem como decepcionar uma criança", pensou.

O velho, por sua vez, ria por dentro, percebendo a rápida mudança de humor da criança: de assustada a interessada, de interessada a fascinada, de fascinada a decepcionada. "Assim somos todos, até aprendermos a controlar sentimentos e emoções para que possamos aproveitar o momento presente sem nos desgastarmos. Ah, criança, um dia aprenderá que nenhuma emoção momentânea vale mais que um trabalho árduo, construído aos poucos com as próprias mãos, em prol de um grande ideal", filosofou consigo mesmo. "Mas por ora", pensou, "deixe que a alegria e o medo sejam seus guias".

O garoto olhava atônito para o velho, enquanto ele se perdia em pensamentos. Quando deu por si de que o garoto continuava em sua frente, perguntou-lhe:

- O que está fazendo aqui?
- Escondendo-me - respondeu tímido, sem encarar a face de quem o questionava com medo de ser represado.
- Escondendo-se de quem?
- De meu colega.
- Por quê?
- Estamos brincando. De pique-esconde.
- E você veio se esconder em uma biblioteca?
- É! Ótima idéia não é? - animou-se o menino. Ontem ouvi ele dizer que não entraria em uma biblioteca nem em um milhão de anos. Então, acho que hoje vou ganhar o jogo.

O garoto sorria ao contar sua grande ideia. O velho fez cara de interessado. Disse:

- Parece que você passou no teste - sorriu largamente. Mas, antes de contar-lhe meu segredo, vou ajudar-lhe em seu jogo. Topa?
- Sim, sim! Estava procurando um espaço entre os livros para eu poder me esconder. Se ficar no meio de um corredor alguém pode querer me tirar daqui.

A última frase foi dita num sussurro quase inaudível. Durante a conversa o garoto continuava olhando para todos os lados, temendo ser encontrado por seu amigo, apesar da grande ideia.

O velho segurou o garoto com as duas mãos, e novamente sussurrou em seu ouvido, olhando para os lados, fazendo como quem não queria ser ouvido por mais ninguém.

- Você procurou mal um esconderijo. Vou levar-lhe a um lugar onde poderá se esconder pelo tempo que quiser. Ninguém lhe achará.

Segurou o garoto pela mão e foi andando por entre os livros e estantes. O menino olhava ansiosamente para a porta de entrada sempre que saíam de um corredor para outro. Começou a perceber que se distanciavam dela. Pela primeira vez reparou no lugar onde estava. Enquanto caminhavam, reparou o piso de madeira, as estantes gigantes, as luminárias antigas e mesas rústicas. O que mais o impressionava era o tamanho dos quadros pendurados nas paredes verdes-claras.

Quando passavam ao lado de uma mesa onde um jovem aluno debruçava-se diante de dois grandes volumes de Corpo Humano (o garoto deduziu o livro pelas figuras que viu nas páginas abertas), a porta de entrada abriu-se de sopetão. Assustado, o garoto apertou a mão do velho e ameaçou recomeçar a correr. Mas fora apenas um alarme falso. O garoto suspirou aliviado e continuou a acompanhar o velho.

Entraram em uma nova sala, com almofadas e tapetes coloridos. O ambiente era bastante claro e as estantes pequenas. O garoto começara a achar que seguir o velho não era boa ideia. Aquele local era o mais claro da biblioteca, e o ambiente mais espaçoso proporcionaria maior facilidade de visualização caso seu amigo chegasse até ali. Percebendo a sutil insatisfação do menino, o velho comentou:

- Não pense que simplesmente lhe deixarei aqui. Tenho um grande esconderijo. Continue me seguindo.

Na medida em que andavam pela nova sala de tapetes coloridos, o garoto ia lendo os títulos e observando as figuras dos livros depositados na estante.

João e o pé de feijão; A Branca de Neve e os Sete Anões; Saci Pererê e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Já ouvira falar de alguma dessas histórias; outras já vira na televisão. Apesar disso, as imagens impressas nas capas chamavam-lhe a atenção e atiçavam-lhe a imaginação. "Como será viver na floresta do Mogli? O saci deve perder todas as corridas. Volta ao mundo em 80 dias? Que legal!!!" Cada título e imagem tiravam-no do sério. A pressa anterior foi substituída por um desejo de permanecer naquele local e continuar dando asas a sua imaginação. Seu passo foi perdendo a velocidade. O velho acompanhou-o na desaceleração. Aproximou-se de uma estante e pegou um exemplar de "Vinte mil léguas submarinas". Entregou-o para o garoto e disse:

- Sabia que no fundo do mar existem monstros terríveis?

Inicialmente o garoto assustou-se, mas ao ver a capa do livro e um imenso monstro marinho desenhado, ficou curioso e abriu o livro em buscas de outras figuras. Não encontrou e se decepcionou.

- Calma, menino, não se apresse,
Não coma agora, antes da prece
- disse o velho em tom de canção.
- Disse-lhe que te mostraria um esconderijo. E vou fazê-lo.

Momentaneamente o garoto voltou a si e se lembrou da brincadeira. Continuou seguindo o velho e deu de cara com uma escada em caracol.

Tão absorto que estava com os livros chamativos, não percebera a escada bem no meio da sala. Agora que estava ao pé da escada, olhou e percebeu que ela termiva em uma porta no teto. Um sótão! Lugar perfeito para se esconder.

O homem idosos olhou sorridente para o garoto. O menino lembrou-se rapidamente de conselhos da mãe que diria para não confiar em estranhos. Mas o velho era tão simples e simpático, que conquistara a sua confiança.

Antes mesmo que o velho desse o primeiro passo, o menino subiu correndo pela escada, fazendo barulho e quase caindo em um dos degraus. Acompanhando-o, o velho subiu devagar, enfiando a mão no bolso e tirando um imenso chaveiro com inúmeras chaves. Cada chave possuía um desenho peculiar e, em geral, antigo. Ao chegar no topo da escada, o velho abriu o sótão.

O garoto esperava encontrar ali um lugar empoeirado, abafado e sem luz. Em vez disso, encontrou um lugar claro, limpo e com outras tantas estantes de livros. O chão do sótão estava cheio de papéis e lápis de cor. Nos papéis, desenhos diversos, visivelmente de crianças como ele. Entrou devagar e com olhos brilhando. Percebeu que do teto pendiam dragões, foguetes, bonecos sorridentes, princesas, cavalos e seus cavaleiros, entre tantas outras coisas, que nem ele mesmo conseguia observar todas. Olhava para o teto, fascinado, querendo possuir cada um daqueles brinquedos que lhe chamavam tanta atenção. Todos aqueles personagens esculpidos ou desenhados, apesar de estáticos, pareciam ter muito mais vida e vigor que os muitos desenhos que assistia na televisão. Pareciam ter saído de um mundo cheio de aventuras e de magia.

Desatento, tropeçou em um lápis de cor e quase caiu. Virou-se para o homem que o levara até ali. Queria pedir um daqueles brinquedos, mas sentia-se tímido. Diante de seu silêncio, o velho falou:

- Está fascinado?

O garoto apenas meneou a cabeça, afirmativamente.

- Percebi que gostou bastante desses brinquedos. Quer um deles?
- Aham. Quero.
- Pois vou dar-lhe muito mais que um deles. Voudar-lhe todos, e quantos quiser.

A essas alturas, o garoto já havia esquecido o pique-esconde, e estava incrivelmente animado com a ideia de ter todos aqueles brinquedos.

- Quantos eu posso pegar? - perguntou, perdendo a timidez.
- Nenhum! - respondeu severamente o homem. Ora, esses bonecos pertencem a este lugar e daqui não sairão - completou, e com ar de mistério, olhando profundamente nos olhos do menino, disse - Mas... quero que por ora escolha apenas um, para que eu possa lhe dar tudo o que lhe prometi: a viagem, o segredo e o presente.
E descontraído completou: - Não necessariamente nesta ordem.

Somente agora o menino lembrava-se daquelas promessas. Animado, começou a olhar uma por uma as figuras presas a fios que as ligavam ao teto. Algumas delas rodavam de um lado para o outro; outras permaneciam fixas estando presas por vários fios.

Um grande barco aqui; um menino em sua vassoura (essa ele conhecia, era o Harry Potter); um marinheiro caolho com um arpão na mão; um pirata e seu fiel papagaio no ombro; um boneco de madeira de nariz grande; fadas; duendes; um simples anel com inscrições que ele não conhecia...

A sala era grande e os bonecos que voavam eram muitos! Vez por outra, os olhos do menino descansavam em um ou outro boneco que lhe chamava mais atenção e se perguntavam de que história eles teriam saído. Quisera conhecer os lugares por onde andaram os duendes, gostaria de ter voado com as fadas, ou explorar os oceanos explorados pelos tripulantes do navio.

E o menino continuava, olhando demoradamente cada brinquedo. Até que seus olhos esbarraram em um simples amuleto. Um amuleto de cobre velho em que duas cobras se entrelaçavam, e cada uma abocanhava o rabo da outra. Seus olhos eram pequenos rubis vermelhos. De uma forma quase mágica, o menino se sentiu atraído por aquele simples objeto. Ao lado dele, uma espécie de dragão branco e peludo olhava ameaçadoramente em sua direção.

- Aqueles dois! - disse o menino, apontando para o medalhão e o dragão, sem se atentar de que estava escolhendo dois e não um brinquedo.
- Hmmmm. Interessante - disse o velho, ajeitando seus óculos com o indicador direito e abaixando-se para falar com o menino. E muito curioso!!! Você escolheu dois, e sem saber, dois que pertencem a um mesmo lugar. E acho que a escolha não poderia ser melhor... sem dúvida, não poderia ser melhor.

O velho levantou-se e foi até uma das estantes. O garoto observava-o, coração pulsando forte, sem saber o que o aguardava. Um presente, uma viagem e um segredo! O que seriam? E o que os brinquedos teriam a ver com isso? Ele observou a letra M gravada em ouro na estante em que o velho aparentemente procurava um livro.

- Melissa, Miguel de Cervantes, Michael... aqui... Michael Ende. - dizia de si para si o velho. E virando-se rapidamente para a criança, gritou triunfante:

- A História sem Fim!!! - levantava um livro em uma mão, enquanto a outra contorcia-se levemente como se segurasse uma pequena bola de cristal. Limpou com a manga alguma poeira que por acaso havia na capa e entregou o livro ao garoto.

Um livro de 200 páginas! Nunca lera tanto. Na capa cor de cobre do livro, o amuleto que escolhera estava desenhado em cor de ouro. O menino folheou algumas páginas, inicialmente com pressa, e depois calmamente. Cada figura no livro era um imenso convite para entrar naquele mundo. Árvores com pernas e bocas, um menino em um cavalo, uma torre enorme e fina... E um grande dragão voando pelo céu. Agora o menino entendia a ligação entre a escolha do brinquedo e... o segredo? a viagem? o presente? O presente deveria ser o livro, mas e o resto?

De qualquer forma, o menino não se importava tanto mais. Sentia uma necessidade urgente de começar a ler o livro. Sem pedir permissão ao velho, sentara-se em uma almofada que havia no chão, abriu a primeira página e começou a leitura.

O velho sorria, vendo o atento menino começar a entrar no fantástico mundo de FANTASIA. Que escolha fascinante ele fizera!

Acabara de presenteá-lo com uma passagem só de ida para uma das maiores viagens que o menino faria em sua vida. Quem sabe, faria tantas e tantas outras.

Conheceria mundos incríveis, viveria aventuras de tirar o fôlego, conheceria pessoas maravilhosas, mentes brilhantes, heróis e vilões. E guardaria para si um grande segredo, que apenas aqueles que dão asas à sua imaginação conhecem e acreditam: "Quem imagina pode viajar quando quiser".

sábado, 25 de julho de 2009

Sobre acusações

João saia da sala cabisbaixo, quando esbarrou em uma cadeira. Então, virou para aqueles que o criticavam e, raivoso, disse:

- Que não se faça com nenhuma outra pessoa o que foi feito comigo. Quem tenta pode não acertar, mas quem foge sempre erra.

Chorou uma lágrima e saiu.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sobre um pedido

Sentiu frio na barriga. As mãos tremiam e suavam, mas o pedido de casamento não poderia passar daquela noite.

Ela jantava tranquilamente. Estava descontraída, pois de nada suspeitava. Ele olhou para ela, ela sorriu para ele...

Durante uma música romântica, ele pediu... ela disse não... o mundo para ele acabou.

Sobre um conto curto - 2

Ao abrir o laptop para olhar e-mails, deparou-se com uma imensa vontade de escrever, que foi saciada ao longo de poucas palavras.

Apenas uma frase e um conto minimalista se forma. Interessante isso.

Sobre um conto curto

João se sentou na mesa de seu trabalho. Cansado, mas alegre pela chegada do fim de semana, escreveu mais um conto. Um conto bem curto, só para experimentar o novo. Um conto assim, só com quatro frases mesmo.

Sobre mudanças no ambiente

Os dias se passavam sem muito movimento, no subsolo do subsolo do anexo do anexo. Chegaram a instalar algumas lâmpadas a mais, de forma que o ambiente estava mais iluminado. O computador e a internet de Marcos finalmente chegaram, e este pôde gastar mais tempo a toa lendo e-mails e passeando pela rede. É claro que trabalhavam: algumas poucas horas por dia. Afinal, havia pouco trabalho e nenhuma cobrança.

Trocaram também a pequena mesa redonda por uma mesa de reunião bem grande. A mesa facilitou muito o trabalho dos dois. No mesmo dia em que a colocaram, no entanto, quiseram tirá-la. Os servidores tiveram que bolarm uma estratégia para não perder a mesa. Encheram-na de pastas empilhadas e assim que a responsável pela mesa entrou pela porta do arquivo, disseram:

- Célia! Gratíssimos pela mesa! Nossa! Facilitou em muito nossa vida. Olha só, podemos ordenar as pastas com facilidade agora. A outra mesa era muito pequena e não podíamos... blah, blah, blah...
- Você é um anjo! Chefinha nota 10!!! Vamos pedir sua promoção...

E por aí foi. E deu certo.

Não sei se pesou na consciência de Célia, não sei se foi dó, mas o fato é que a mulher decidiu deixar a mesa onde estava.

Concertaram também a máquina de xerox - ou máquina de reprografia, como diziam - que estava encostada, inutilizada em um canto. Não que ela fosse de muito uso para eles. Na verdade, acabaria dando mais trabalho.

E assim, o ambiente hostil da sala na garagem onde Marcos trabalhava ia se tornando um lugar um pouquinho mais agradável aos poucos. O único problema é que o barulho da obra continuava. E às vezes era mais intenso. Ronaldo sugeriu que adquirissem caixas de som, para que pudessem colocar música, mascarando assim o som ensurdecedor da obra.

Na verdade, o som era apenas uma das ideias para transformar a garagem em um local menos hostil e mais prazeroso. Os garotos tinham grandes planos.

A começar por um lugarzinho para um cochilo. Um sofá! Havia também uma televisão em cima de um dos armários da sala. A ideia veio na hora. Uma mesinha, com a televisão em cima, e na frente... um sofá! Ficaria logo na entrada da sala, numa espécie de recepção do arquivo. E, claro, serviria para a sesta logo depois do almoço de cada dia.

A outra ideia mais que fantástica que tiveram foi o frigobar. Embaixo da mesa de Marcos, bem escondidinho, onde poderiam colocar sucos, refrigerantes, bolos.

Sofá, televisão, som e frigobar. Ficaria faltando só uma mesa de sinuca!!!

- Uhuuuuul. Aí ia bombar! - animou-se Marcos quando surgiu a ideia.

Exageros a parte, quem sabe um dia poderiam promover seu próprio happy hour!!!

Já imaginou? Toda primeira sexta-feira do mês o pessoal lá de cima diria: Opa! Hoje é d1ia de balada na garagem!!!

Sonhos, sonhos e sonhos. Haveria de chegar o dia em que pelo menos um telefone eles teriam.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre partir de si

João estava de pé, diante do edifício Premium II, onde trabalhava. Olhava para o topo do prédio, quase caindo para trás, tão grande era a construção. As pessoas passavam por João aos montes. Ele permanecia imóvel, apenas olhando para o alto. Alguns esbarravam nele, sem percebê-lo; outros o percebiam e confundiam com um louco; mas a maioria das pessoas nem notava.

"Sou uma formiguinha em um formigueiro. Apenas uma formiguinha em um formigueiro" - pensava ele. Sorria enquanto pensava assim, como que para amenizar a dor de se sentir tão só, mesmo no meio de uma multidão. "É um grande parodoxo. A sociedade moderna nos põe em contato com milhares de pessoas. A todo momento podemos ligar para alguém; as distâncias ficaram encurtadas por um click do mouse, mas nós nunca estivemos tão sós, tão necessitados de contato humano verdadeiro e tocável. São milhões de pessoas aglomeradas nessa cidade, mas poucas entram em contato com o seu coração. E depois morrem enfartadas e culpam os remédios e médicos, como se a pior doença não fosse a solidão."

João sentia que não queria mais fazer parte daquilo. Daquela massa informe de pessoas que se acotovelam e se aproximam somente para conversar com a mente, sem jamais falar ao coração. Mas se não queria fazer parte daquilo, para onde iria? Haveria alguma comunidade onde seus anseios seriam atendidos por completo? Achava que não. Então apenas olhava para o alto do prédio, respirando fundo e criando coragem para encarar mais um dia de trabalho, onde nada nem ninguém se importaria com ele. E ele, em resposta, tampouco se importaria.

E foi aí que João teve um estalo. Uma luz se acendeu sobre sua cabeça forçando-o a dizer: EUREKA! Se o mundo não se importava com as pessoas, ele se importaria. Naquele momento sentiu que não deveria ser o único a ter anseios de compartilhar sentimentos e emoções, deveriam haver outros. E esses também esperavam uma oportunidade para se mostrar, mas todos apenas esperavam e ninguém dava o primeiro passo.

João deixou de olhar o alto, e olhou ao seu redor. Muitas pessoas passavam e se esbarravam, algumas se olhavam tímidas, desejando receber um "bom dia", desejando ver no outro uma face conhecida e querida. Também ele queria receber um "bom dia", um simples "bom dia" e um abraço. Se ele não seria o primeiro a receber, então deveria ser o primeiro a dar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sobre sono

Ah! Enfim o fim de semana!!! Depois de uma árdua semana de trabalho (tá, não tão árdua assim), Marcos pôde recostar a cabeça por mais de seis horas. Na verdade, foram 11h em uma só noite!!! De sexta pra sábado durmiu cedo e acordou tarde, bem tarde. De sábado pra domingo, dormiu muito cedo e acordou muito mais tarde que no dia anterior! O problema foi de domingo pra segunda. Dormiu tarde, acordou cedo e todo o descanso do fim de semana ficou lá mesmo, no fim de semana.

A segunda segunda-feira de trabalho começou sonolenta, difícil de se levantar. Como Marcos havia ficado com a chave da sala, teria que chegar cedo para não deixar Ronaldo esperando do lado de fora, caso ele chegasse antes. Levantou-se, arrumou-se e lá se foi para o trabalho.

Pra não perder o costume, pescou bastante no ônibus - metaforicamente falando, daria pra pegar até um pirarucu. No horário de almoço desse dia, após sua farta refeição de 1kg - como de costume - Marcos juntou algumas cadeiras que se encontravam no meio da sala, fez uma cama improvisada, e deitou-se. Dormiu de mal jeito, acordou dolorido, mas dormiu, e, naquele momento, isso era o que importava.

Ronaldo, em todo esse tempo, continuava firme nos estudos. Fazia pouco caso do barulho da obra e vez ou outra parava para organizar um dos armários com Marcos. No mais, a internet era sua escola, e cada minuto na garagem era aproveitado em prol de um futuro concurso público.

Apesar da aparente calma dos dois servidores, algo estava para acontecer em suas vidas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sobre uma ideia funesta

Barulho! Muito barulho!
Asssim foi a manhã do quinto dia de trabalho de Marcos. Na garagem, onde ficava sua sala, estava sendo construída mais uma parte do departamento. Em especial naquela manhã, os pedreiros, não por maldade ou mesmo por vontade própria, fizeram muito barulho. Martelo, martelo, martelo, MARTELO!!! Furadeira, martelo, madeira caindo, martelo! Furadeira, vassoura, madeira caindo, furadeira, martelo, ferramentas batendo, misturando cimento, martelo, martelo, furadeira, martelo!!! AHHHHHHHHHHHH!!!

Em meio a tudo isso, os dois companheiros tentavam manter a calma, e, mais do que isso, levavam tudo numa boa, fazendo atá piada de tudo aquilo:

- Daqui a pouco a gente vai ter que gritar pra ouvir um ao outro.

- Como se não bastasse todo o barulho, ainda tem um safado que fica assobiando ali atrás.
- hahahaha Boto fé que a gente pode fazer uma rave aqui embaixo e ninguém vai notar.
- Ah, talvez os pedreiros. Mas a galera de cima, a gente pode até cobrar entrada, vender bebida e botar um sonzão que ninguém nemmmmm...
- Tipo isso... hehehe

A manhã passou sem nenhum transtorno, fora o barulho intenso, e pra variar sem nenhuma visita, ou trabalho. Pela tarde, no almoço, os dois conversavam sobre sua situação, sem jamais perder o bom humor.

- Eu estava pensando aqui - dizia Marcos. Já imaginou o dia em que tiver uma festa lá em cima? Ou sexta-feira a tarde, em que tiver um happy-hour?

- Hãn. Que tem? - perguntou Ronaldo, já sorrindo.
- Cara, ninguém vai nem chamar a gente. Vão esquecer, e se a gente ficar sabendo e aparecer vão perguntar: quem são esses dois aí? Alguém conhece?

Ronaldo riu longamente e completou:

- E já pensou no nosso aniversário? Vai ser eu e você lá embaixo com um bolo e assoprando velinha, mais ninguém.

Os dois riram da tragicomédia em que estava virando seu trabalho.

Pela tarde, após o almoço e a sesta, os dois separavam pilhas de documentos para serem arquivados. As folhas velhas e empoeiradas deixavam suas mãos ásperas e seus narizes sensíveis e alérgicos. Para trabalhar melhor e sem riscos, passaram a usar luvas de borracha e máscaras de proteção. Pareciam estudantes de medicina em suas primeiras aulas de anatomia: todos protegidos e cuidadosos.

Os ruídos da construção continuavam intensos e juntando-se ao trabalho chato e entediante de separação dos papéis, levaram Marcos a perder a tranquilidade que até agoa havia mantido. Sua cabeça latejava de dor e sua vontade era de abandonar o posto e voltar só na segunda-feira. No entanto, decidiu-se por aguentar firme as últimas horas antes do fim de semana e manteve-se trabalhando.

A cabeça latejava loucamente, e os olhos se fechavam constantemente para aliviar a dor. Para tentar esquecer a dor e deixar de lado o tédio, Marcos relembrou a conversa que tiveram no almoço sobre as festas e o abandono.

- Ronaldo, com esse barulho todo, e esse abandono em que estamos aqui em baixo, cara, sabe o que a gente pode fazer?

- Han? Lá vem besteira... pode falar...
- Cara... a gente pode...- disse Marcos rindo. Dessa vez, a ideia lhe parecia tão absurda e ao mesmo tempo cômica que o garoto riu durante minutos até poder completar a frase. ... cara, a gente pode matar alguém aqui e esconder num desses armários que ninguém vai ficar sabendo.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA, riu Ronaldo - compartilhando do bom humor do companheiro. Cara, não vai ter perito da polícia federal que descubra o corpo aqui em baixo.

Os dois riram por muito tempo, completando a piada com elementos mais sórdidos ou não. É claro que fora apenas uma piada, e que jamais um dos dois pensaria em realmente matar alguém.

Barulho, poeira, dor, risadas incontroláveis... mais barulho... ideia... barulho... martelo... ideia... não seria um bom passatempo? Um desafio, quem sabe???

Haveria ali algum armário vazio e sem tranca???

TADÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!! =S

Não perca o próximo episódio: a ideia ganha vida, mas quem será a vitíma???

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobre o medo do porão escuro

Na escuridão do arquivo, Marcos e Ronaldo se mantinham isolados do convívio com as pessoas do mundo de cima. Raras vezes algum servidor aparecia para pegar um dossiê ou entregar algumas pastas. Sem exceção, todos que passavam pelo arquivo se impressionavam com a falta de salubridade do ambiente e comentavam com ambos: “Vocês precisam de um lugar melhor para trabalhar. Aqui é barulhento, escuro e cheio de poeira. E há muita bagunça. Quem sabe não combinamos com o pessoal do departamento para vir até aqui ajudá-los um pouco”. Sem exceção, a promessa ficava por ser cumprida.

O arquivo deveria parecer para todo o departamento um lugar de pavor e sofrimento. Nos primeiros dias de trabalho, uma das melhores distrações de Marcos era observar a reação de servidores ao saberem que trabalhava no arquivo. Numa manhã de quinta-feira, por exemplo, Marcos subiu ao subsolo – lembre-se que ele trabalha no subsolo do subsolo – para encher uma garrafa d’água (banheiro e água? Só no andar de cima). No corredor do filtro, o garoto encontrou uma servidora, Bianca, que estranhando sua presença perguntou:

- Você é novato aqui?
- Sim – respondeu sorridente o garoto.
- Ah! É que não te vi por aqui ainda. Aí, imaginei que fosse novato.

- Ah, pois é. E não me verá de novo. Estou tão escondido, mas tão escondido no arquivo, que mesmo que eu tivesse três meses de serviço corria o risco de você nunca ter me visto – diria ele.
Marcos imaginou o rosto da mulher ao ouvir isso. Seria uma cara de constrangimento e piedade. Seria legal dizer algo do tipo, mas ainda não se sentia na liberdade de fazê-lo. As pessoas do lá de cima poderiam não ser muito receptivas às piadas do submundo.

Ao invés disso, apenas respondeu:
- É. Estou aqui no departamento há apenas três dias.
- Ah. Seja bem-vindo!
- Obrigado!
- Você está trabalhando em que setor?

Eis a chance! Ele já havia experimentado a decepção e pena de algumas pessoas ao ouvir a resposta a essa pergunta. A seqüência de atos que se seguiriam à resposta era sempre: mudança de expressão repentina, aparentando dor e insatisfação, depois, a tentativa forçada de disfarçar a expressão com um sorriso forçado e palavras do tipo: “Que legal! Espero que esteja gostando!”. Era engraçado ver isso.

Para que a resposta surtisse mais efeito dessa vez, Marcos juntou a ela uma expressão de desânimo:

- Estou no arquivo, com o Ronaldo – disse, abaixando a cabeça, como quem está envergonhado ou inferiorizado.

Dito e feito! Bianca abaixou os olhos, contorceu os lábios. Uma lágrima ameaçou escorrer de seus olhos azuis. Conteve-se. Esmerou-se por mostrar o sorriso mais amarelo que já dera. E falou, num misto de voz embargada com animação disfarçada:

- Que legal! Espero que esteja gostando!

Marcos permaneceu calado por uns instantes.

- Não! Não estou gostando! – diria num misto de choro e raiva. Aquele lugar é escuro e barulhento. É frio, sabia? Lá é muito friiiio, Bianca. Não tem sol! O ar não se renova. Não dá pra respirar direito – falaria, colocando a mão sobre o pescoço, imitando um homem sufocado. Mas tudo bem, eu agüento.

Obviamente, não disse nada disso. Não sabia até onde iria o humor das pessoas lá de cima.

- É. Até que estou. É bem tranqüilo, lá.
- Que bom. Ok, vou indo. Precisando de ajuda é só chamar. Trabalho no RH – e saiu apressada, sentindo-se intimidada.

- Ah, que sorte a sua. Deve ser bem iluminado e deve ter bastante gente com quem conversar no RH. Vai lá, boa sorte.
Obviamente, isso ficou só na imaginação.

Os caras da informática eram outros que pareciam temer o buraco. Enquanto Marcos não foi até eles e pediu insistentemente para que instalassem um computador em sua mesa, ninguém desceu. Após uma semana de trabalho, sem computador e internet, Marcos foi até a informática, pela terceira vez, para reivindicar seus direitos. Assim que entrou na sala, os três homens giraram suas cadeiras de rodinhas para a porta. Ao depararem com aquele figura desconhecida e alta, entreolharam-se como que se perguntando:

- Quem é esse cara?

- Oi. Eu sou o Marcos do arquivo. Queria que vocês instalassem meu computador e internet.

Os três se entreolharam novamente. Dois deles adiantaram-se em voltar para suas telas. O outro, respondeu:

- É... então... vou lá. Daqui a pouco.
- Ok, estarei lá embaixo esperando – respondeu Marcos impaciente.

Só no dia seguinte apareceram. E foram os três, para fazer o serviço de um. Enquanto um fazia o serviço, os outros o apressavam. Marcos e Ronaldo acompanharam a cena achando graça.

Por incrível que pareça, os dois gostavam daquele buraco. Era sossegado e com pouco serviço. Além disso, os dois se divertiam bastante conversando sobre a situação precária em que se encontravam. Sossegados, escrevendo, lendo, estudando e contando piadas. Assim passavam os dias.

Se Marcos e Ronaldo matassem alguém naquele buraco – por buraco entenda-se a sala na garagem do anexo do anexo do MS –, dizia, se eles matassem alguém naquele buraco e escondessem o corpo em um daqueles armários, ninguém saberia por dias, talvez meses, do ocorrido. Por certo dariam por falta da pessoa perdida, mas jamais a procurariam por lá.
Essa ideia os absorveu...
MUAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHA
Continua...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre uma sala (???)

Imagine uma cadeira em um espaço todo negro. Daquelas de rodinhas e giratória. Agora imagine uma mesa na frente desta cadeira. E um computador na mesa. Duplique essa imagem. Duas mesas, com cadeira e computador, uma ao lado da outra. Na frente delas, vários armários, dispostos na forma de corredores. Há uma pilastra no meio dos corredores de armários. Dentro dos armários, caixas. Dentro das caixas pastas. Dentro das pastas, folhas. Pinte as mesas e armários: tudo bege. Coloque uma bagunça no meio de tudo isso. Explico: uma mesa redonda cheia de papéis empoeirados (cheia mesmo!); três cadeiras diferentes umas das outras; um criado-mudo, um carrinho de café e um ventilador, tudo desordenado. Imagine que este espaço é razoavelmente grande e que só há duas lâmpadas, no meio de tudo isso, para iluminar todo o ambiente. Dessa forma, as laterais, inclusive as mesas com os computadores, ficam numa certa penumbra. Agora coloque tudo isso entre quatro paredes. Pronto, temos uma sala.

Ok. Imagine essa sala. Se preciso volte no parágrafo anterior e reforce algumas imagens. Pronto? Coloque essa sala dentro de uma garagem! Sim, isso mesmo. Daquelas garagens de prédio, com chão cimentado e listras demarcando vagas. Ah sim, no chão da sala, coloque umas listras amarelas demarcando retângulos. Beleza. Agora, em volta dessa sala, na garagem, coloque uma obra. Não, sua anta! Não uma obra de arte, de Da Vinci ou de Picasso. Coloque uma obra civil mesmo, com peões e tijolos, e cimento e martelos (sim, martelos, fazem barulho, o tempo todo) e de vez em quando uma furadeira. E em volta da obra os carros, que às vezes vem e às vezes vão, mas na maioria das vezes ficam parados mesmo, em suas vagas.

Pronto! Uma sala com muitos armários e alguma bagunça; pouca luz e muito barulho de obra. Com dois servidores, atrás de suas respectivas mesas escuras, usando seus computadores. Vez ou outra os dois tentam dar organizada na bagunça. No resto do tempo, um estuda pra concurso, enquanto o outro vos fala.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sobre o mais novo primeiro emprego

No subsolo do subsolo – leia-se garagem! –, do anexo do anexo – ou edifício P., dois caras se aventuram pelo submundo do Serviço Público. Em meio a muitos armários e arquivos, M. e R. se vêem rodeados pela inexperiência e o abandono.

Sim! Este é o cenário em que se encontra M. no seu mais novo desafio: o primeiro emprego. Há quem possa dizer: Eu avisei! O serviço público é terrível. E há também quem diga: Puts, que azar. Tanta coisa pra fazer e você foi parar logo lá?

Mas, vejamos os acontecimentos, passo a passo, para podermos perceber melhor que situação é essa em que M. se encontra.

Segunda-feira, às 9h da manhã, M. chegou ao saguão de atendimento do anexo da sede do MS. Duas horas de molho depois, às 11h, M. tirou uma foto para o crachá. Em seguida, pediram que retornasse às 14h. Obedientemente, M. fez o solicitado e às 15h foi encaminhado à SVS. Só para saber que apenas no dia seguinte iria para o departamento onde trabalharia.

Ok. Ok. Lá foi ele de volta pra casa, sem novidades.

No dia seguinte, M. foi direcionado ao DAD. Assustado, M. ouviu o servidor N. falar sobre o Departamento e seus projetos. Seria N. o chefe de M.? Não. M. ainda foi encaminhado para A. Esse sim seu chege. A., diga-se de passagem, é um homem muito sensível, sensível até de mais...

Não sei se A. foi muito com a cara de M., mas, considerando para onde M. foi mandado, acho que não. É... eis um serviço que poucos gostariam. Arquivos! Aí está agora M. Na garagem do edifício P, anexo do anexo do MS. Rodeado por reformas barulhentas, escandalosas!, e tendo como único contato humano R., M. passa o dia tendo que organizar uma bagunça que 4 servidores anteriores fizeram durante 4 anos.

Bagunça imensa!, diriam alguns. De fato! Mas deram-lhes colheres de chá... um chazinho bem doce! “Separem uma hora do dia pra vocês organizarem isso. Essa bagunça não é culpa de vocês. Não se preocupem com ela. E no resto do tempo, atendam às solicitações.” Ok! Vocês que mandam. Mas... que solicitações? As duas que chegam por dia? Opa! Tempo livre!

Quando encontra criaturas lá do lugar onde o sol bate – leia-se, qualquer lugar que não seja a garagem –, comentam com M. o quanto deve ser chato estar naquela escuridão (ah é, tem pouca luz onde M. está). Quando vê o sol, M. sente os olhos arderem como os pulmões de um recém-nascido que pela primeira vez sente o ar.

É meus amigos. Este é o novo serviço de M. Na escuridão da garagem de um prédio anexo do anexo de um ministério; lá no submundo – onde não chega sinal de celular – , na presença de apenas um servidor – muito gente fina por sinal; com todo o tempo do mundo para ler, escrever, cochilar, entrar na internet (mas só quando tiver uma conta). Sim, por enquanto sem internet, permanentemente sem sinal de cel, e sem ramal! Em outras palavras: ILHADO!

Bom? Ruim? Só o tempo dirá! 2 dias não são o bastante para avaliar. Se vai ficar aqui muito tempo? Nem que a vaca tussa, o boi se coce, e o cavalo pigarreie. Mas umas semaninhas, pra poder escrever, ler e esperar os primeiros passos do outro concurso, não fazem mal a ninguém, fazem?

sábado, 11 de julho de 2009

Sobre outros olhos

Um dia na vida de alguém.

Ver o mundo pelos olhos de outro.

Ver as mesmas feições, e ter sentimentos diversos.

Sentir os mesmo gostos com prazeres contrários.

Fazer o que não se faria nos momentos de ócio.

Beijar a quem não se beijaria.

Um mesmo querer:

amar e ser amado.

domingo, 5 de julho de 2009

Sobre o pôr-do-sol

Ao pôr-do-sol tudo se desfaz. O brilho intenso que alegra o dia e o calor gostoso que o esquenta se dissipam com o frescor da noite e a penumbra dos jardins. As crianças saem do parquinho e voltam às casas, sujas, cansadas, para tomarem seus banhos a contragosto. Os carros empoleirados das garagens começam a se movimentar e, aos poucos, um a um, vão deixando suas vagas insólitas e desoladas dos grandes prédios de trabalho para se dirigirem ao aconchego do lar.

Ao pôr-do-sol alguns insetos saem de suas pequenas tocas enquanto outros se escondem até o raiar do novo dia.

Ao pôr-do-sol o astro-rei deixa sua marca e o que era azul torna-se escarlate, e o firmamento se prepara para receber os pontos estelares e a branca da noite que, fixados para sempre em suas memórias, darão vida a sentimentos, histórias e canções. A lua desponta bravia e reluzente, as estrelas surgem brilhantes, tímidas e sem-graça, como que adivinhando que ainda não chegou sua grande hora, mas já será noite e ela há de chegar.

Ao pôr-do-sol tudo se desfaz para dar lugar a uma nova criação.