segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sobre uma chegada - Caledônia

De pé, diante das grandes estátuas construídas por seus antepassados, Digory continha-se para não se derramar em lágrimas. Era tudo exatamente como em seus sonhos, apesar de saber que nunca estivera ali. As estátuas imensas que formavam um corredor até o que deveria ter sido o palácio do rei, ou imperador, eram de homens robustos, vestidos de mantos que lhes cobriam todo o corpo e adornados em suas cabeças por coroas reais. O palácio agora estava completamente destruído, e o pouco que lhe sobrara estava tomado por trepadeiras e ervas daninhas.

Digory caminhou por entre os reis de Caledônia, admirando cada face e cada expressão. Tudo era magnífico e diferente aos seus olhos. Não se sentia no mesmo mundo em que nascera, parecia mais do que um outro continente, parecia uma outra dimensão, uma outra vida.

À medida em que se aproximava dos restos do palácio, Digory podia ver com mais clarezas alguns dos detalhes do ambiente. A natureza tratara de manter a realeza e a beleza do local. O garoto não divisava somente trepadeiras e ervas daninhas, mas agora via também belas árvores com folhas douradas, como no outono, mas com um brilho mais intenso e vivo. Alguns troncos eram prateados e os pássaros que faziam ninhos em suas copas eram de um colorido avassalador. O gorjeio das pequenas aves lembrou-lhe o respingar de gotas no fundo de um poço fundo: o gorjeio era agudo e ecoava por todo o vale.

O palácio estava localizado numa depressão, um vale entre dois pequenos montes verdes e intocados. Digory se admirou por não ver construções ou depredação da natureza em volta do mais importante centro de decisões e poder da cidade de Caledônia. Sem dúvida, eram uma civilização culturalmente avançada.

Chegou ao sopé da escada que lhe levaria aos portões do palácio. Seu coração acelerava desmedidamente sem tirar-lhe o ar, o sol aquecia-lhe a face sem a ruborecer e o vento esfriava-lhe sem o gelar. Sentia-se impassível e intocável, um rei destinado a reconstruir toda a sua história.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sobre uma palavra!

Palavras bonitas, vazias, não ouvirá.
Um discurso belo e sincero, não gravará.
Talvez um sorriso e um abraço apertado,
sem pretensão, distração ou falsidade.

Um aperto de mão camarada,
um beijo molhado no rosto,
um muito obrigado, sem dúvida,
mas, no fundo, de que valerá?

Por que não se exprimem em palavras,
não se encontram em canções,
nem se demonstram com o corpo, talvez nem com o coração,

A vontade de caminhar ao seu lado,
a riqueza, a beleza e a magnanimidade
dessa simples palavra: AMIZADE.

Miguel Sartori =D

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sobre velejar

Subiu no barco, içou a âncora, levantou as velas e deixou o vento e a maré o levarem.

Eram apenas ele e o mar. Havia também o vento e o sol. Mais nada, nem ninguém. Apenas pensamentos que pulavam e mergulhavam no oceano, fazendo gotas saltarem para dentro do barco. Pensamentos soltos, que o aliviavam.

Não olhou pra trás. Não se importou com a distância. Apenas se deixou carregar até que o sol beijasse o mar e a lua surgisse no longínquo distante, como uma gota de sangue se derramando sobre uma poça. Só que a lua não era vermelha, era branca como a neve.

E a noite ficou gelada, muito gelada. E ele sorriu para o mar e sorriu para lua.

E ele sorriu para o sol.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre simplesmente acontecer!

Um fim de tarde no parque sempre acalma. Sentar no banco de madeira, olhando as crianças correndo sorridentes atrás da bola. Jovens andando de patins, alguns ameaçando manobras diferentes, outros ainda aprendendo a patinar. O sol aquecendo a tes, tornando-a rubra, e formando mosaicos de luz e sombras abaixo das mangueiras.

João se encontrava assim, sentindo a brisa arrancar-lhe o excesso de calor do rosto, deixando a temperatura na exata medida. Apenas fechava os olhos e ouvia os sons vindos de tudo o que havia em volta. Quando estava quase se esquecendo de que estava ali, percebeu que alguém sentava ao seu lado.

Abriu os olhos, forçando a vista contra o sol, virou o rosto e viu uma bela garota ofegante. A menina pedalava, e sua bicicleta estava agora encostada no banco.

- Quer um pouco de água? - disse João, oferecendo sua garrafa a ela.
- Não, obrigada - respondeu ainda ofegante. Não se pode vir pedalar sem sua própria provisão.

A garota se virou para a bicicleta e retirou sua própria garrafa d'água. Deu um largo sorriso para João, uma breve piscada (Uou! que maravilha de garota!), abriu a tampa e percebeu que a garrafa estava vazia.

- Nossa! Que furo. Estou tão cansada que nem percebi que precisava de mais água. Você tem um pouco?

João não respondeu. Ficara encantado com os movimentos da garota. Sua piscada, o movimento de seus cabelos. Sem perceber, ficou parado olhando para ela, boca semi-aberta, sem piscar. A garota deu uma risadinha. Provavelmente já estava acostumada com essa reação.

- E, então? A oferta ainda está de pé? Posso beber um pouco de água?

João disfarçou a cara de bobo com um sorriso.

- Não costumo emprestar coisas a estranhos. Minha mãe não deixa - disse em tom de brincadeira.

A garota deu uma longa risada, inclinando a cabeça para trás e mostrando o pescoço. Um lindo pescocinho branco, aos olhos de João. O suor que lhe descia da face e escorria até o ombro só fazia aumentar-lhe a beleza. João gostava de esportes e encontrar uma garota tão bela no parque que aparentemente partilhava deste gosto animou-o.

- Aqui. Pode tomar quanto quiser - disse, estendendo a garrafa à garota.

- Minha mãe me ensinou a não aceitar coisas de estranhos - respondeu, virando os lábios para um lado e levantando uma das sombrancelhas.

- João, muito prazer! Sou estudante, e estou aqui relaxando um pouco da semana cansativa que passei. Ainda sou um estranho?

- Clarice, estudante e aspirante a atleta. Estou tentando melhorar meu tempo, mas dormi tarde e acordei cedo, e pelo jeito meu pique não é dos melhores hoje.

Os dois se deram um breve aperto de mão, tímido. Conversaram sobre o tempo, o clima e o gosto pelo esporte. Naquela tarde apenas conversaram. O sol se pôs e os dois continuaram sentados no banco. O calor virou uma fria brisa noturna; os meninos brincando foram substituídos pelo canto dos grilos e até mesmo por alguns vaga-lumes. O céu não estava bem estrelado pela noite, mas puderam gastar alguns minutos contemplando-o.

João aproximou sua mão da de Clarice. A garota tremeu, mas desculpou-se dizendo que era o frio. Ficaram mais alguns minutos assim, em silêncio. Despediram-se sem trocar telefones, e-mails ou outra coisa.

Foram pra casa mais leves, cantando para si e sem se importar com ninguém.

No dia seguinte, João estava no mesmo banco, no mesmo parque, na mesma hora. Estava com uma garrafa cheia d´água e sem compromissos marcados para aquela noite.

João apenas fechava os olhos e ouvia os sons vindos de tudo o que havia em volta. Quando estava quase se esquecendo de que estava ali, percebeu que alguém sentava ao seu lado, ofegante.

Sorriu.

domingo, 8 de novembro de 2009

Sobre um teclado suave

Cara, esse teclado é muito gostoso de escrever! Mas parece que me tira a inspiração, de tão bom que é! Estou escrevendo isso só por que é realmente prazeroso escrever nele. E, além disso, estou treinando escrever sem olhar para o teclado. Será que consigo escrever sem olhar para a tela? Por que as vezes eu erro, e corrijo. Por exemplo, ainda não sei bem onde fica a letra J. É difícil também acertar os acentos, ou saber quantas letras digitei desde um erro que cometi. Aí para dar o backspace é complicado. Mas, minha Nossa!!! Esse teclado é muito suave e leve. É uma delícia de se escrever. A palavra escrever e suas variantes já foram escritas quase uma dúzia de vezes. Dúzia de vezes, legal de se escrever (olha o escrever aí de novo) por que em "dúzia de vezes" temos dois zes, uma letra que aparece em poucas palavras. É bom de se treinar datilografia com letras que aparecem pouco no vocábulário. Poderíamos falar em backspace novamente (que tem K), ou mesmo na Theory of Fun, propaganda da Wolksvagen, que além de Y no Theory, tem W e K em Wolksvagen! Errei o K várias vezes agora!!!

Devaneios...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre valer a pena!

No fim da tarde, quando o sol já se ia pondo e podia ser visto como uma imensa bola alaranjada descendo para a linha do horizonte, os dois companheiros pararam para descansar da jornada e apreciar o belo ocaso. Grilos entoavam seu canto cotidiano e pequenos pássaros podiam ser vistos nos galhos de algumas árvores soltando notas melodiosas e harmônicas.

O cansaço da caminhada abateu os viajantes assim que pararam. Poderiam caminhar mais duas horas se fosse preciso, mas não conseguiriam ficar sentados sequer 10 minutos sem dormir. Decidiram levantar acampamento ali mesmo, parando de caminhar um pouco mais cedo aquele dia. Retiraram a bagagem das costas e montaram a barraca. Enquanto trabalhavam, ouviam a natureza e admiravam a paisagem à sua volta.

- Será que algum dia chegaremos lá em cima?
- Temos que chegar. Não há outra opção, há? Viemos até aqui, deixamos um monte de coisas para trás, pra dar meia volta e fugir?
- ...

O companheiro ficou calado um instante, abatido pelas dificuldades da caminhada. Sabia que não estavam longe, mas seu corpo doía e a falta de ar furtava-lhe a animação. Já se passavam 2 meses que estavam viajando, alimentando-se de míudos e dormindo em locais pedregosos, absolutamente sem conforto. Pensar que poderia não valer a pena tanto esforço angustiava-lhe sobremaneira.

- Como é? Está pensando em desistir mesmo?
- Não sei!
- Hmmm... qualé! Qual a dúvida?
- Será que vale a pena?
- ...

Ele não poderia dar uma resposta pronta. Até por que não a tinha. Será que valeria a pena? Fazia-se a mesma pergunta desde o primeiro dia em que colocou o pé na estrada.

- Não sei. Mas com certeza não terá valido a pena vir até aqui e desistir, concorda? Entrea a derrota certa pela duvidosa, prefiro a duvidosa.
- É verdade! Nisso você tem razão. Não terá valido a pena vir até aqui. E talvez valha a pena ir um pouco mais longe.
- De fato.
- Então vamos terminar de montar acampamento, descansar e seguir viagem.
- ...
- O que foi?
- Sabe o que eu estava pensando?
- O quê? Por favor, não me desanime novamente.
- Dormir é pros fracos!!! Vamos seguir agora!

Os dois soltaram uma gargalhada gostosa que lhes restaurou as energias. Pararam por mais um segundo para retomar o fôlego perdido pela risada, desmontaram acampamento e partiram.

Sobre a vida lá fora

Hey você, olha pra mim,
Diga que não é bem assim.
Que a vida lá fora, não é tão complicada.
Que vale a pena correr,
pra chegar em algum lugar.
Por que há um lugar, há sim!

Hey você, dê um sorriso,
Esqueça tudo: aqui é o paraíso.
Viver é arriscar a pele, sair de si.
E a gente vai arriscar a ser feliz,
Porque, afinal, a vida lá fora,
Nem é tão complicada assim!

Sobre ser sem sentido =P

Sem saber, saiu de si,
Perdeu-se no infinito com fim.
Lançou as pedras de sua sepultura,
Saiu de seu caixão despedaçado.

Sem querer, caiu em si,
Percebeu sua insignificância sem fim.
Amontoou o entulho do caminho,
E caiu em sua cova novamente.

Se soubesse tudo o que queria,
Lançaria fora as coisas banais,
Deixaria todas as angústias,
E levaria consigo somente as certezas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sobre grito!

- AAAAAAAAAaaaaaaaah! Desisto - gritou João, esquecendo-se por um momento que estava na biblioteca.

Assustou-se ao ouvir todas as pessoas chiando para si.

- Psssssiu, malucão - gritou um homem mais irritado.

- Desculpem, desculpem - dizia enquanto colocava os livros na mochila e ia saindo rapidamente.

Quando deixou a biblioteca, João colocou a mão sobre a cabeça e, sem represar as emoções, deu um outro grito, dessa vez mais alto.

As pessoas passavam e olhavam para ele, mas ele não se importava. Apenas precisava gritar e gritou. Sentiu-se mais leve, mas sabia que isso não resolveria suas tensões. Deu alguns passos na direção do jardim em frente à biblioteca, sentou-se ali mesmo, no chão, envolto por árvores, e descansou os olhos, a cabeça e o coração.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre a força avassaladora do tempo

Ao entardecer, João olhou para o pulso e percebeu que o relógio estivera parado desde a manhã. Tirou o aparelho e colocou-o no bolso. O dia havia sido tão cansativo e corrido que sequer tivera tempo de olhar as horas. Apenas fez uma coisa após a outra, na maior rapidez que pôde, indo de um lugar a outro sempre acima da velocidade da pista.

Agora ele estava no carro voltando para casa, onde finalmente deitaria em sua cama e descansaria por alguns minutos. João adorava dirigir. Costumava dizer que quando dirigia, apenas dirigia. Não havia nada mais para fazer. Não podia falar ao telefone, não podia resolver problemas do trabalho, não tinha que arrumar quarto, gaveta ou o que fosse. Apenas dirigia. Naquele dia, no som do carro, ouvia-se o seguinte refrão: "Os dias correm e somem, e como o tempo não vão voltar".

João refletiu longamente nessas palavras. Sabia que precisava de uma pausa, de um desacelerador do tempo. "Good guys need a break", ouvira em um filme outro dia. Ah, se ele pudesse desfrutar dessa pausa. Mas não podia, ou, pelo menos, se sentia incapaz de consegui-la. Voltou para casa dirigindo - apenas dirigindo - e refletindo sobre o ritmo alucinado que todas as coisas haviam tomado. E sentiu-se incapaz de deter a força avassaladora do tempo e dos acontecimentos. E decidiu que, de qualquer forma, não valia a pena lutar contra o tempo.