sábado, 31 de julho de 2010

Sobre o fim do mundo

E chegaram ao final do mundo. Dias e dias de viagem recompensados por aquela vista. Lá estavam eles, em fim, no último lugar onde se poderia chegar. E contemplavam o universo que se via além mar. À sua frente, não havia mais nada, senão um imenso abismo intocável em que estrelas faiscavam brilho e cometas que viajavam na densa escuridão.

Cortaram o silêncio sepulcral que reinava.

- Chegamos, meu bem. - disse a mulher, olhando profundamente nos olhos do amado.
- É incrível, não é? - respondeu o homem, maravilhado, encarando o infinito. - O fim do mundo, onde não há mais nada além do resto do Universo.

Sentaram-se na barca e por muitos dias se contentaram em apenas contemplar, em silêncio. Era um momento mágico, convidativo. O silêncio que precisam experimentar aqueles que chegam ao fim de tudo.

Eles tinham todo o resto do Universo pela frente, haviam atravessado todo o mundo conhecido, e tudo o que ficara para trás lhes parecia agora pó, e nada mais que pó.

E, assim, se entregaram à imensidão, ali mesmo, sentindo seus corpos se desfazerem à medida que suas vontades desapareciam. E viraram estrelas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O mundo não é como eu quero! (Sem 'sobre' por que não é literatura)

Hoje me aconteceu, novamente, algo que só acontece muito, muito, muito raramente. Fiquei chateado, e mentalmente cansado, e só conseguia pensar em coisas negativas, tipo: isso não tá legal; aquilo tá faltando; fulano deveria fazer assim e não assado. Odeio quando isso acontece. Odeio mesmo.

De vez em quando, essas coisas acontecem mesmo. A vida é assim. Dessa vez, graças a Deus, foi um pouco diferente. Tirei desse sentimento ruim uma boa lição.

Eu estava triste. É. Juntando todos os cacos e bagaços de mim que ficaram espalhados pelo canto, acho que a conclusão a que posso chegar é essa: eu estava triste. Era uma tristeza carregada de responsabilidade, de expectativas frustradas, de medos aflorando... Enfim, era uma tristeza triste.

Depois de me remoer em solidão e me deixar pensar todos os podres que queria, uma simples reflexão me veio, como que num raio veloz e luminoso, à cabeça. Eu estava triste por que o mundo, naquele momento, não estava sendo como eu queria. O mundo a que me refiro são as pessoas, as situações e, de certo modo, eu mesmo, que estávamos "acontecendo" ali. Eu esperava uma coisa, eu queria uma coisa, eu acreditava em uma coisa, eu tinha opinião, mas nada disso estava sendo seguido. O mundo não estava me seguindo. Eu não era o centro das atenções, o senhor das decisões. E daí vinha minha tristeza. Das expectativas frustradas.

Que meleca! Lembrei-me de uma frase: "Acho que está mais do que na hora do mundo mudar para se adaptar a mim". Frasezinha engraçada, né? É do Calvin&Haroldo.

Pois é. Engraçadinha, mas extremamente falsa. O mundo não tem que mudar pra se conformar a ninguém. As pessoas são o que são e, por isso, agem como agem e, consequentemente, as coisas acontecem, quer você as queira, quer não. Não adianta ficar triste. Não, não adianta.

Mas se quiser ficar triste também... pode ficar. Não tem problema. Às vezes é bom.

Enfim, o importante é a reflexão. O mundo não para por que você tá de bubu. Ninguém vai te perguntar se você quer que seja diferente, para que tudo aconteça da forma que você quer. Não, ninguém vai.

Então faça o seguinte. Acolha as realidades que você não pode mudar. Se alegre com elas, se possível. Tire lições. Procure entender quais são as coisas que você pode mudar e tente mudar para que elas se adequem a você. Mas cuidado! Muito cuidado! Mesmo que você possa mudar uma situação, pense antes se a sua opinião, a sua ideia, o seu modo de ver a coisa é o modo certo. Às vezes você está chateado por não ser como você quer, mas se fosse, também não seria bom.

Lembre-se: diversidade é bom! Se tudo fosse conforme a sua vontade, o mundo provavelmente seria bem mais sem graça. Lembre-se: cada pessoa está vivendo uma experiência diferente, ainda que a situação seja a mesma. Elas têm visões e participações diferentes. Não precisam estar no seu ritmo, não precisam se preocupar como você se preocupa. Lembre-se: PARE de se preocupar. Daqui a 10 anos, essa tensão que você deixou tomar conta de você vai lhe tirar um pouco da saúde, e, quando você olhar pra trás, a situação que causou o stress vai parecer tão sem importância...

Acho que é isso.

O pior é terminar esse texto, com toda essa reflexão, ainda com aquele aperto no peito... Nada que uma boa noite de sono não resolva. E se não resolver, tudo bem. Nem tudo é como a gente quer.

Sobre um sonho

- Acorda, cabeça de bagre! Eu acho que o sol tá mais brilhante hoje, olha.
- Hm... hein?
- Acorda!!!
- Hein? Que horas são?
- São 8h30 ainda. Mas olha...
- Afff. Me deixa dormir, nem tem escola hoje.
- Levanta, idiota! Olha ali.
- Hã? Que foi? ... A escrivaninha? Que tem?
- Não a escrivaninha, em cima dela. A janela...
- Hã, tá fechada... fecha essa cortina.
- Não é pra olhar pra janela, imbecil. É pra olhar pela janela.
- Hã? ... ...

...

- UAU!!! O sol... o sol tá...
- Aham!
- Ele... ele tá mais claro?
- Isso! E lá fora, tá tudo diferente. Levanta daí, miolo-mole. Vem olhar.

...

- Me fala se não é impressionante. Eu acordei mais cedo e fui lá embaixo... tá incrível.
- Nossa! ... Os jardins tão todos verdes. É tipo... um verde brilhante.
- Isso! E olha ali, a piscina lá embaixo. Ninguém limpou, mas ela amanheceu assim... clarinha. Que delícia que deve tá.
- Hei. Olha ali os vizinhos. Eles... eles tão conversando? Vai dar briga.
- Não vai, não. Presta atenção, eles tão...
- Eles tão sorrindo! Ha ha! Olha ali, eles deram um abraço, antes de se despedirem.
- É! Logo os dois que brigam todo dia.
- Caracas... ooooou, e não tem nenhuma nuvem no céu. Tá limpinho.
- É! Cabeça-de-bagre, tem alguma coisa acontecendo.
- Vamo lá embaixo. Se veste aí.

...

- Então, pega a bicicleta e vamo dar uma volta.
- Vamo onde?
- Hm. Num sei, tava pensando em ir lá no lago. Deve ter alguma coisa legal.
- Tá. Bora.

...

- Bom dia, crianças. Cuidado por onde andam, não vão tropeçar numa pedra por aí.
- Bom dia, doutor. Obrigado.
- Você conhece ele?
- Não! Ele tinha mó cara de rabugento. Tá de boa hoje.
- Hehe. Que sonho.
- Cara, pedalar com essa brisa é uma delícia. Olha só...
- Se é. E presta atenção. Tá tudo tão colorido. Tá todo mundo sorrindo.
- Caraca, cabeça-de-melão. Olha ali no portão daquela igreja.
- Ouxi, vamo parar aqui um pouco.
- Caracas. Tem gente de tudo que é jeito. Tem indiano, negro, muçulmano, branco, moreno, japonês.
- E eles tão fazendo o quê?
- Sei lá, festejando alguma coisa. Deve ser missa de alguma coisa.
- Não é só missa, não. Cada um tá fazendo sua prece como conhece, olha só.
- E ninguém tá reclamando do outro. Eles tão é rezando e depois conversando. Que bizarro.
- How bizarre!
- Hey, tive uma ideia. Vamo passar embaixo do viaduto, onde o Jamanta mora.
- Boa ideia.

...

- Ô Jamanta!!! Tá aí?
- Nada do Jamanta, cara.
- Será que ele subiu de vida?
- De ontem pra hoje? Acho difícil.
- Cara, sei não, as coisas dele num tão mas aí.
- Será que a polícia levou ele?
- Ou. Por falar em polícia. Num tinha um ali, na rua que a gente virou? Cadê ela?
- É mesmo! Não vi. Tinha uma sorveteria no lugar.
- Ah! Vamo ali no orfanato.
- Pra quê? Cara... ali vai ter algo errado, não é possível.

...

- Bora, José. Enrola não. Esse parque tem que tá pronto até semana que vem.
- Hey, amigão. O que aconteceu com o orfanato?
- Derrubamos essa noite, por quê? Vai fazer falta?
- Bom, pra gente não. Mas pras crianças vai.
- Que crianças?
- Os órfãos?
- Foram todos adotados.
- Sério? Assim, de repente?
- Sério, garoto. Assim, de repente. Você queria que elas ficassem aí pra sempre?
- Não, não. Mas... e as crianças que forem abandonadas?
- Forem o quê?
- Abandonadas. Largadas pelos pais.
- Você tá bem, garoto? Por que um pai iria largar o filho.
- Sei lá. Por diversos motivos. Falta de dinheiro, vícios, raiva...
- Tá maluco, muleque. Isso tudo é passado. Deixa eu continuar aqui, se não essa obra para.
- O que vocês tão construindo?
- Um parque de diversão.
- Nessa área toda???
- Muleque, quer brincar nesse parque um dia?
- Quero, sim.
- Então, me ajuda a terminar. Vai brincar e volta daqui um mês.

...

- Caraca, cabeça de bagre. O que tá acontecendo?
- Sei não... parece um sonho.
- Um sonho, né? Caramba.
- É... um sonho.
- Cabeça de bagre, bem que podia ser verdade...
- Sei lá. Talvez um dia seja...
- É... ... Quem sabe. Um dia.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre dias cinzas

Ela estava sentada na varanda, olhando a chuva pingar. Morava no final de uma rua pobre de uma cidade pequena, com um marido que a deixava sozinha aos fins de semana. Tivera um filho que, tão logo cresceu, sumiu de casa, sem prévio aviso, sem deixar rastros, apenas um bilhete de despedida.

O banco em que sentava era de madeira, presa por imensos pregos gelados, todo pintado de branco. As gotas que se juntavam em cima do telhado caíam em pequenas cascatas em frente a sua casa. O céu nublado e o vento gelado davam-lhe uma sensação de paz e conforto, algo que só a natureza poderia lhe proporcionar nesses dias cinzas.

Sim! Os dias eram cinzas, tingidos em uma tonalidade sem graça, incolor. A vida era mesmice e rotina. Uma rotina que ela detestava. Perguntava-se, enquanto ouvia o batucar da chuva, como havia parado ali. Sonhara tanto enquanto criança, tivera tantos anseios, tantas expectativas para o futuro. Preparou-se, esmerou-se... mas deixou tudo se derramar como água que escoa pelo ralo. Trocara todos os sonhos por uma paixão inconsequente. E agora estava ali, sozinha, deixando um vagabundo qualquer ditar as regras de sua vida. Um vagabundo que, apesar de tudo, ela ainda amava.

Só o que lhe sobrou foi a capacidade de se encantar. E era o que fazia ali, apenas observava a chuva, sentia o odor de grama molhada, deixava o vento esfriar-lhe o corpo e rezava a Deus que lhe ajudasse de alguma forma. E, assim, sentia-se viva!

Em algum outro canto da cidade, enquanto a chuva caía torrencialmente, ele se sentava em uma mesa de bar, com alguns poucos amigos, todos embriagados, ouvindo o rádio anunciar qualquer notícia sem importância para suas vidas. Ele pediu mais uma dose.

A outra dose chegou e por um momento imaginou se seria capaz de renunciar a ela. Não era! Olhava para o fundo do copo e se perguntava como havia parado ali. Era tão humilhante. Tomou de um só gole e bateu forte com o copo na mesa, sentindo-se um fraco, um perdedor. E um fraco e perdedor como ele não merecia a mulher que tinha conquistado havia tantos anos atrás. Desde que deixara de ser o esportista, o bem sucedido, namorado perfeito nunca mais se sentira homem suficiente para ela. E isso os afastou. E afastando-se dela, o mundo para ele já era. E foi assim que entrou nessa vida de outras mulheres e bebidas. As mulheres eram para lhe reafirmar a masculinidade então perdida. A bebida, para esquecer das traições e fragilidades. Nesse ínterim, passara a se irritar com a mulher que amava. Não por detestá-la, como ela provavelmente imaginava, mas por não querer dar o braço a torcer, ou para não se mostrar fraco diante dela, ou... na verdade, nem ao menos sabia.

E tudo foi seguindo assim, como uma roda gigante que insiste em rodar, sem lhes dar oportunidade de descer, ou recomeçar.

A chuva cessou. Ele olhou para fora, questionando-se, indagando-se, torturando-se. Não sabia que em sua casa, também ela se questionava, e se torturava.

Tivessem um dos dois a coragem... Tivesse ele humildade para reconhecer... e voltar atrás. Pois, não sabiam, mas ainda era possível retornar à inocência dos primeiros beijos, dos primeiros olhares.

Quando chegou em casa, naquela noite, encontrou-a tomando leite quente na cozinha. Parou e quis falar-lhe alguma coisa, mas a embriaguez e o estado deplorável em que estava lhe impediram. Apenas olhou para ela, ainda reconhecendo em algum lugar daquele rosto a jovem por quem se apaixonara. Subiu sem dizer palavras. Entrou no banheiro e chorou silenciosamente.

Ela o amou e odiou secretamente pela milésima vez. E pela milésima vez foi dormir com aquela dor esmagadora.

Quando ele saiu do banheiro, deitou-se junto dela e abraçou-a, inseguro. Ela segurou sua mão firmemente e afirmou baixinho: "Vai ficar tudo bem".

Mas, em seu coração, essa ainda era uma pergunta que se fazia. Vai ficar tudo bem?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre 18 segundos antes do nascer do sol (II)

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Descendo a pista que levava ao outro lado do lago atravessando a ponte, um carro vem a toda velocidade. Eduardo, o motorista, abre a janela, pensando em gritar.

Ao seu lado, Júlia ri descontroladamente. Estão bêbados, chegando de uma boite onde a noite foi regada a bebida e muita dança.

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Eduardo tenta apertar o botão para descer o vidro, mas erra o alvo.

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Júlia derrama cerveja no banco e se assusta.

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- Porra! - diz Eduardo, ainda tentando...

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encontrar o botão.

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Encontra-o, e enquanto a janela desce vê que já estão no meio da ponte, a uma velocidade absurda, passando por um grupo de amigos que estão a pé.

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- Olha pra frente, Edu - diz a garota, meio desesperada, meio rindo.

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Eduardo pisa no acelerador...

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e solta as mãos do volante.

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O carro voa sobre a pista deserta, derivando levemente para o lado esquerdo.

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Eles sentem a adrenalina lhes roubar a alma. É excitante!

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Júlia olha excitada para Eduardo. O rapaz se aproxima para beijá-la...

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... o celular de Júlia toca.

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A garota procura o aparelho, enquanto Eduardo retorna ao volante, insatisfeito.

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- Onde está essa droga de celular?

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- Que é, Julia? Aí embaixo do banco.

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Eduardo abaixa-se para pegar o apar...

- Edu!!!!!!!!

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O carro encosta no meio fio e subitamente levanta-se a toda a velocidade, batendo no parapeito e girando...

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Eduardo olha assustado pelo parabrisa, e, com o primeiro raio de sol, vê sua vida passar em um segundo e esvair-se num piscar de olhos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sobre 18 segundos antes do nascer do sol

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Pararam no meio da ponte. Andressa, Leo, Pedro, Renato, Vitória e Liana. Voltavam de seu baile de formatura e naqueles breves dezoito segundos entregaram-se à beleza do céu.

Andressa, a Dessinha, andava descalça, na ponta dos pés, carregando seu sapato apertado nas mãos. O vestido roxo de rendas era curto, deixando as pernas à mostra e à merce do frio da madrugada. O frio, que seria logo substituído por um calor incontido.

Leo estava com a gravata solta e paletó no ombro. Era um homem alto, sem barba e, agora, de cabelos loiros desgrenhados. Seus olhos azuis sumiam na escuridão, que também escondia sua tristeza. Sim, pois a euforia da festa não amenizara a saudade de seu recém-falecido pai.

Pedro, ainda arrumado, apesar das horas de dança e bebida, caminhava a passos curtos, atrás de todos, pensativo e ansioso. Por toda a noite observara Andressa, criando coragem para falar-lhe tudo o que sentia.

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Os amigos encostaram-se no parapeito da ponte. Entreolharam-se brevemente...

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... e sorriram. Um sorriso gostoso, mais sincero em alguns do que em outros. Estavam cansados fisicamente, mas a alma ardia em euforia e a saudade começava a despontar. Queriam aproveitar os últimos momentos da vida que deixavam para trás. Amigos inseperáveis durante anos de curso. Será que a vida lhes afastaria, proporcionando novas amizades, mas enterrando no tempo tantas experiências precisosas? Esperavam que não. O sorriso que mostravam era de alegria, mas transparecia também a gratidão.

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Renato, baixo e levemente calvo, com gravata azul combinando com o vestido de Vitória deu as mãos para a namorada. Vitória era alta, constratando com a altura de Renato, cabelos longos, que hoje estavam encaracolados. Namorados a dois anos, olhavam juntos para um futuro que lhes reservava muitas surpresas.

Liana era a mais bela. Vestido longo decotado, cabelos lisos até a metade das costas, transpirava paz e mansidão. Olhou os amigos juntos e desejou, naquele breve segundo, encontrar também um amor tão puro assim, como o de Vitória e Renato.

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Pedro pegou a flor que trazia consigo e jogou-a ao rio. Andressa compreendeu imediatamente o gesto...

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e o imitou. Olharam-se e sorriram. Leo, que estava entre os dois, deixava escorrer uma lágrima, saudosa lágrima.

Pedro esqueceu-se por um segundo da garota que amava e aproximou-se de Léo.

Um carro passou veloz por eles, sobressaltando-os.

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- Força, amigo! - disse Pedro para Léo. Estaremos sempre aqui com você.

Léo tentou falar, mas não lhe saíam palavras.

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Recostou a cabeça no ombro do amigo, enquanto Renato, Vitória e Liana juntavam-se para abraçá-los. Andressa apenas observava, pensando em como amava a cada um daqueles intrometidos, que invadiram sua vida sem pedir licença.

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Andressa juntou-se ao amontoado.

Abraçavam-se. Silenciosos.

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- UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL - gritou Leo. Hoje é dia de festa, cambada! Comemoremos!!!

Desvencilhou-se do abraço, subiu na primeira barra que formava o parapeito, pegou a flor que trazia e...

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jogou-a no lago, como fizeram Andressa e Pedro. Todos o observavam.

Leo respirou fundo...


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e disse: - Ao nosso futuro! Que nossas vidas sigam percursos a futuros grandiosos, como o rio carrega tudo ao mar.

Renato e Vitória abraçaram Liana.

Pedro aproximou-se de Andressa...

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... e passou o braço por seus ombros.

Renato e Vitória foram até o parapeito e jogaram juntos uma só flor desejando silenciosos que seus futuros estivessem repletos de amizades e amores verdadeiros.

Leo cerrou os olhos e sorriu. Dessa sentiu o calor vindo de Pedro.

Liana segurava sua flor, pensativa.

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Desejou que o tempo carregasse os tormentos e aproximasse os amigos. Lançou a flor ao lago.

Pedro mordia-se de ansiedade. Quisera dizer tanta coisa a Dessa, mas as palavras faltavam.

Dessa esperava pacientemente. Para tudo havia um tempo certo.

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Liana soltou um grito de alegria, estendendo os braços para o alto. Leo acompanhou-a.

Vitória acariciou o rosto de Renato.

Pedro e Dessa trocaram um último olhar...

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... e sem palavras, beijaram-se.

Os amigos, surpresos, aplaudiram...

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... enquanto o primeiro raio de sol dispontava, alaranjando o céu no horizonte, prenunciando a aurora de um novo tempo para suas vidas.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre uma trilha

A vida é como uma trilha que encerra dois segredos.

Você começa a caminhada. Vislumbra a natureza rica, exuberante, dando seus sinais de vida em toda parte. Morros altos, cobertos por uma vegetação verde que dá gosto aos olhos. A paz que a mata transmite é pura. Ao chegar à beira do rio, você decide atravessá-lo. As águas são límpidas e correm lentamente, produzindo um ruído que acalma. Você tira o tênis e pisa fundo, sentindo o gelo da água tomar-lhe o corpo. É refrescante.

Atravessando o rio, você se depara com uma nova paisagem. A mata fechada se estende ao longo de uma trilha repleta de subidas e descidas que cansam, mas que valem a pena ser percorridas. A caminhada continua, a sede bate, mas deve-se esperar encontrar o rio novamente. Já acostumado com a vista e a natureza que lhe acompanha, você continua caminhando, cabeça baixa, apenas prestando atenção onde pisa.

Alguns kilômetros a mais e o corpo começa a cansar. As pernas doem e as subidas passam a ser cada vez mais cansativas. Você continua caminhando, pois este é o primeiro segredo para chegar: continue caminhando. E caminhando, depara-se com um recanto escondido, um poço onde se pode mergulhar e beber de uma água fria e pura, puríssima. Você deixa a roupa e a mochila de lado e pula. Nada e se diverte ali, onde o contato com a água e o ar o fazem lembrar que estar vivo é uma bênção. Você deseja permanecer ali por muitos e muitos dias, mas tem uma trilha a cumprir. Não se pode acomodar na primeira facilidade. Então, continua caminhando.

Com o espírito renovado, você segue. Segue por muitos mais kilômetros, e atravessa uma paisagem seca, com poucas árvores, em que o sol atingi-lhe a face sem misericórdia. A pele arde e a sede fere. O corpo começa a pedir descanso, mas você sabe que não pode parar, e não valerá a pena voltar. Você continua caminhando, continua caminhando.

As pernas doem e cada subida é um martírio. Nas descidas, você segura firme o corpo, que quer soltar-se e se deixar levar pela gravidade. A sede é intensa, o sol é forte, e em volta não se vê sinal nenhum de qualquer paisagem em que se possa descansar. Você está no meio de morros, todos altos. A trilha segue, e a cada curva vê-se a mesma paisagem. Já se vão duas horas de caminhada, e nada muda. O corpo cansa, a vontade desfalece, mas você continua caminhando. Pois este é o segredo: continuar caminhando.

Você segue a trilha que o leva entre dois morros. Novamente, entra em uma mata fechada. Ao longe, ouve-se o ruído de água. Ganha-se uma nova força, uma esperança surge. Haverá água logo a frente, e você poderá saciar a sede, descansar. Segue. Anda. Sobe e desce numa trilha sem fim. Mais dez minutos, vinte, trinta.

E de repente, lá do alto, você vê. A cento e vinte metros do solo, a água cai ininterruptamente. O paredão forma como que uma escada íngreme por onde a água desce, produzindo o som tão peculiar da cachoeira. A água cai e forma uma imensa piscina, onde se pode nadar e aproveitar o resto do dia. Lá do alto, vê-se o sol batendo no topo do morro, clareando o verde que se instala pelas beiradas da queda. Tudo é belo, tudo é paz. Você se senta na pedra, molha o pé e contempla a maravilha da natureza. Valeu a pena a caminhada. Olha para o lado e vê... outros tantos que caminharam com você. Sorri para eles, e descobre o segundo segredo: não se pode chegar lá sozinho.


ps: a água tava MUITO GELADA!!!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre ser parte...

Respirou fundo, sentindo o ar gelado e úmido entrar em seus pulmões. Percebeu a vida correndo em suas veias. Sempre soube que estava vivo, mas agora sentia isso de uma forma especial. Saber que está vivo não basta, é preciso pensar nisso, é preciso reparar, sentir, lembrar-se.

Enquanto a água fria escorria sobre seu corpo, vindo de muitos metros acima, descendo em uma cachoeira altiva, imponente, seu pensamento viajava longe da natureza que ali sobrava exuberante. Seu pensamento vagava perdido por kilômetros de terra batida, estradas, rodovias, prédios e casas. Lembrou-se do rosto dela, e de como a queria ali. Imaginou-a só, pensando nele. Não se entristeceu, pois o mundo lhe fazia companhia e cada gota límpida que lhe tocava as costas lembrava-o da incrível capacidade de viver. Sorria um sorriso gostoso, cheio de água e sol.

Ah, o sol. Não aparecia tanto quanto devia, não esquentava como poderia, mas estava ali. E isso bastava. De quando em vez, seus raios se libertavam das nuvens e atingiam com força folhas, galhos, e corredeiras. O mundo se coloria com sua presença e tudo ficava mais bonito.

Ele saiu debaixo da cachoeira e se pôs a nadar. A correnteza facilitava-lhe o esforço e cada centímetro de seu corpo agradecia a Deus por estar ali. Saiu da água, sentou sobre uma pedra e deixou o vento secar seu corpo. Contemplou todo o vale em que estava. Fechou os olhos e deixou a mente ser carregada com o ruído da água que caía e corria, como um barco que se deixa levar pela correnteza. Seu espírito estava livre, sua alma, contente.

Largou-se ali. Entregou-se ao nada. Soltou-se no tempo.

O tempo...

que passou sem ser percebido, e o reencontrou ali mesmo, na mesma posição, dias depois. Apenas mais um ser. Uma outra parte da natureza.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre celebrar a vida!

Vamos celebrar a vida!!!

Dar o beijo que precisa ser dado.
Apertar num abraço forte o amigo.
Dizer as palavras que calaram há muito, mas que ainda moram no coração.

Querer bem a todos que passam ao lado.
Perdoar quem deve ser perdoado.
E pedir perdão.

Recordar com carinho dos que se foram.
Fazer valer sua memória e história.
Guardar no coração os bons momentos.

Lembrar que há muito que viver.
E que a vida não acontece sozinha.
É preciso querer. É preciso mover.

Sorrir.
Cantar.
Dançar.

Não deixar passar em branco o dom da vida.
Aproveitar cada chance de ser e fazer feliz.
Cuidar... de si, do outro, de todos.

Fazer valer nossa passagem, que é breve.
Para sermos lembrados...
... como aqueles que amaram. E só!

SE LEMBRAR DE CELEBRAR MUITO MAIS!

Vamos celebrar a vida!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sobre o começo...

Vou contar-lhes uma história.

Em um lugar muito afastado deste lugar em que vivemos; em um lugar que não pode ser alcançado com veículos - por mais rápidos que eles sejam -, com os pés, ou de qualquer outra forma física; em um lugar que só se pode chegar com as ideias, as fantasias e os sonhos; neste lugar, cheio de mistérios e interrogações, reside um pequeno menino, um menino bem pequeno, chamado Clauss.

Clauss vive ali. E, por enquanto, isso é tudo que precisam saber sobre ele.

Ali, onde Clauss vive, é um país maravilhoso, repleto de livros de histórias e histórias e histórias. Os habitantes desse país, Ali, nada fazem se não ler e ler e ler. Eles lêem o tempo todo, e durante todo o tempo estão lendo. Os livros simplesmente existem e ninguém sabe quem os escreveu, ou quem os pôs em Ali. E tão pouco isso importa, pois são tantos e tantos e tantos os livros e as histórias, que jamais faltarão histórias para serem lidas. E por mais que um dia algum habitante tão sedento por livros e histórias venha a ler todos e todos e todos os livros, ele poderá muito bem recomeçar, pois serão tantas as histórias e tão grande será o tempo transcorrido para ler todas elas, que quando recomeçar, será como na primeira vez.

Vocês podem pensar que é muito estranho um país ser cheio de livros, e os habitantes desse país não fazerem nada e nada e nada além de ler. Sim, é estranho, mas lembrem-se que esse país é bem diferente de todos os outros que vocês já visitaram, pois só se chega até Ali pelas ideias e pelos sonhos.

Em Ali não há regras como comer, beber e conversar. Apenas ler. Por isso, Ali é cheio de mesas e cadeiras, e puffs e redes armadas em pilastras. E nas paredes há ventiladores para os dias quentes, e em algumas salas, lareiras para os dias frios, e cobertores também. Vocês podem estar se perguntando quem sai para cortar a lenha, ou quem lava os cobertores. Pois, a lenha sempre está na lareira, e na lareira sempre há lenha, e o fogo arde sem a consumir. E os cobertores sempre estão limpos, sem que se seja preciso lavá-los. Simples assim, sempre limpos.

Há ainda uma informação muito importante e fantástica para se dizer de Ali, de seus livros e de suas histórias. Quando um habitante de Ali abre um livro e começa a lê-lo, a história que está sendo lida acontece. Sim, acontece como suas vidas estão acontecendo agora, de verdade. Em algum lugar misterioso do Universo, cidades surgem, pessoas respiram e monstros assustam, como disse, de verdade. E a história, na medida em que é lida, se desenrola nesse lugar misterioso do Universo, e o habitante de Ali que lê a história, não pode parar de ler até que a história chegue ao fim, por que assim ele estaria matando a todos. E quando a história chega ao fim... bem, aí não se sabe ao certo o que acontece. E isso é tudo o que posso dizer.

Voltemos, pois, a Clauss...

O pequeno Clauss tem apenas 50 centímetro de altura. É bem pequeno mesmo, mas isso não importa no país Ali, pois há tanto pessoas muito grandes, quanto pessoas muito pequenas, e todas elas se respeitam e se ajudam. O pequeno Clauss de 50 centímetros tem orelhas pontudas, dedos enrugados. Sua pele é da cor... bem, não importa a cor de sua pele, tampouco importa a sua aparência. Quer saber mesmo como é Clauss? Clauss é imaginativo, amigo e verdadeiro. Nas poucas vezes que conversa com alguém - no intervalo de leitura entre um livro e outro - procura realmente compreender a pessoa. Ele não faz muitas perguntas, apenas as necessárias para que a pessoa se sinta acolhida para falar. Ele ouve, e isso o faz ser tão verdadeiro. Talvez um dia eu e você aprendamos o que isso quer dizer.

A imaginação de Clauss é sua principal característica. É o que permite a ele ser tão especial em seu país. Quando a imaginação de um habitante de Ali é muito viva, os livros que ele lê são mais reais, acontecem de verdade verdadeira, com uma intensidade... intensa. Quando a imaginação é curta, fraca, a história acontece sem emoção, e no lugar misterioso do Universo em que ela acontece, é como se a realidade estivesse piscando todo o tempo, como uma chama que quer apagar.

Com a imaginação tão viva de Clauss, por várias vezes ele já pôde ouvir a história que estava sendo lida. Já pôde sentir os cheiros, quando na história alguém sentia cheiro, os gostos, quando na história alguém comia, ou o vento sobre seus ralos cabelos, quando na história o vento soprava. E quando Clauss contava isso nas tertúlias noturnas que participava, todos se admiravam e sentiam vontade de ser como ele.

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