sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre ser parte...

Respirou fundo, sentindo o ar gelado e úmido entrar em seus pulmões. Percebeu a vida correndo em suas veias. Sempre soube que estava vivo, mas agora sentia isso de uma forma especial. Saber que está vivo não basta, é preciso pensar nisso, é preciso reparar, sentir, lembrar-se.

Enquanto a água fria escorria sobre seu corpo, vindo de muitos metros acima, descendo em uma cachoeira altiva, imponente, seu pensamento viajava longe da natureza que ali sobrava exuberante. Seu pensamento vagava perdido por kilômetros de terra batida, estradas, rodovias, prédios e casas. Lembrou-se do rosto dela, e de como a queria ali. Imaginou-a só, pensando nele. Não se entristeceu, pois o mundo lhe fazia companhia e cada gota límpida que lhe tocava as costas lembrava-o da incrível capacidade de viver. Sorria um sorriso gostoso, cheio de água e sol.

Ah, o sol. Não aparecia tanto quanto devia, não esquentava como poderia, mas estava ali. E isso bastava. De quando em vez, seus raios se libertavam das nuvens e atingiam com força folhas, galhos, e corredeiras. O mundo se coloria com sua presença e tudo ficava mais bonito.

Ele saiu debaixo da cachoeira e se pôs a nadar. A correnteza facilitava-lhe o esforço e cada centímetro de seu corpo agradecia a Deus por estar ali. Saiu da água, sentou sobre uma pedra e deixou o vento secar seu corpo. Contemplou todo o vale em que estava. Fechou os olhos e deixou a mente ser carregada com o ruído da água que caía e corria, como um barco que se deixa levar pela correnteza. Seu espírito estava livre, sua alma, contente.

Largou-se ali. Entregou-se ao nada. Soltou-se no tempo.

O tempo...

que passou sem ser percebido, e o reencontrou ali mesmo, na mesma posição, dias depois. Apenas mais um ser. Uma outra parte da natureza.


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