quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre palavras

Palavras me encantam, brilham meus olhos. Elas me fazem enxergar, com os olhos da alma, o que eu nunca poderia ver fisicamente. Me fazem ter sensações diversas: de amor a ódio, de nojo a deslumbramento. Em um únicipo parágrafo cabem muitas vidas, a cada palavra a ser escrita uma infinidade de possibilidades se abre: mundos inteiros, histórias fantásticas, personagens magníficos.


Há quem diga que as palavras tem poder. "Não diga isso, atrais coisa ruim" ou "repita isso todos os dias, o pensamento positivo pode criar o que você quiser". Eu não acredito nisso. Acho apenas que as palavras inspiram. Inspirar... Inspirar...


Coisa mais vital à vida é a respiração. Tudo o que fazemos, o fazemos por uma motivação. Quando a motivação é grande e vem lá de dentro, lá do nosso coração, chamamos de inspiração. E da inspiração, a consequência lógica é a expiração. Expiramos ações, atos e gestos concretos que nos fazem construir ou destruir, unir ou separar, irritar ou tranquilizar. São essas ações que tem poder. É o que fazemos de concreto que nos traz coisas boas ou ruins e as levam para os outros. Inspiramo-nos com palavras, expiramos em ações. Inspiramo-nos com palavras, expiramos em ações.


E se a palavra é forte o suficiente para inspirar a ser melhor, expiramos alguém que se forma e que constroi. Se a palavra inspira a se doar, a unir e a fazer-se um, expiramos uma pequena célula de sociedade que vive diferente. É sempre um processo de dentro para fora; uma sublimação do nosso interior para o exterior. É um sentir-se emocionado que se converte em lágrimas; um sentir-se alegre que se abre em sorriso; é um sentir-se amargurado que se converte em isolamento; é um sentir-se desafiado a construir um mundo novo que se converte em amor concreto.


São as palavras do Evangelho, que nos inspiram e desafiam a amar. Amor que transforma.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

1 mês de parágrafos

1 de janeiro

Tudo novo, diriam alguns, mas para João nada parecia assim tão diferente. Na verdade, tudo estava assim... igual. Trabalhou na sexta, trabalharia na segunda, a rotina continuaria a mesma, exceto pelo trânsito mais livre nas ruas de janeiro. Não podia concordar que tudo era novo. Mas havia de ser honesto consigo, a sua disposição era outra, era nova. Era a vontade de fazer as coisas diferentes e a determinação clara em fazê-las. E, estando disposto a isso, se o fizer, tudo se fará novo. O ano já era outro, mas o novo ainda estava por vir...

2 de janeiro

É como começar um novo livro. Primeiro você abre uma página aleatória, aproxima o nariz, cheira aquele cheiro gostoso de livro novo. Saboreia esse cheiro, mexe com o livro, brinca com ele em suas mãos, lê as orelhas, lê a contracapa e fica imaginando quantos mundos serão conhecidos, quantas essências descobertas e com quantos personagens magníficos você irá viajar nas aventuras que você está prestes a ler. Fica só imaginando, mas quando lê, sempre se surpreende, porque é sempre muito mais do que esperamos.

3 de janeiro

Hoje me deu muita vontade de controlar o futuro. Daí pensei em quão pequena é essa vontade visto que, muitas das vezes, as surpresas do futuro são as melhores coisas da vida. Lembrei também de uma tira do Calvin&Haroldo em que o tigre diz: 'O problema do futuro é que ele está sempre se transformando em presente'. Se nem o presente posso controlar, que dirá o futuro. Pois que venha o futuro, e se torne presente. E eu, que não me arrependa do passado.

4 de janeiro

Queria viver em um mundo onde as máscaras caíssem e se desfizessem em pedaços para não poderem mais ser vestidas. Em um mundo onde todos fossem o que são e nada mais, sem medo de se mostrarem e de se demonstrarem. Em que sentimentos fossem expressos tal como estão sendo sentidos e as palavras significassem apenas o que significam, sem direito a segundas interpretações ou sentidos velados. Queria viver em um mundo assim: ideal. Mas que posso fazer se esta minha vontade é só mais uma de minhas máscaras?

5 de janeiro

Naquela tarde morna de quinta-feira, João desejou fazer algo bem diferente. Como lhe faltavam opções e oportunidades e a preguiça era maior que a vontade de criá-las, apenas ficou meio sem fazer nada, meio assim parado e pouco pensativo. Assim, não fez nada, mas o fez com espírito despreocupado e isso foi suficientemente diferente para ele naquele dia. Concluiu que não precisava se esforçar para algumas coisas, só não podia fazer disso uma rotina.

Dia 6 de janeiro

Nos poucos tempos livres em que consegue se livrar, João deleita-se com o doce sabor do silêncio. Mergulhando no interior de seu eu, encontra-se consigo e fala baixo, sussurra para si seus desejos mais íntimos. Ali, naquele silêncio, se redescobre e apruma-se para buscar, determinado, o que realmente quer. E então, assume novamente o posto de sua vida e vai. Vai! Não basta a vontade, João. Não basta querer. Vai!

Dia 7 de janeiro:

O corpo cansado caminha lentamente para lugar algum, com pernas doloridas e braços meio abertos incapazes de se movimentar. Com a vista fraca, olhos opacos e rugas no rosto, os dias se seguem lentamente, como relógio de pulso que para a cada pulsar e só torna a tiquetaquear uns instantes depois, fazendo o tempo ser o dobro, o triplo. Tic Tac. Só resta a espera de dias assim e a esperança de sempre poder continuar sorrindo e feliz. Lembranças dos anos que passaram e das alegrias saboreadas. Sorrir é o que os torna vivos!

Dia 8 de janeiro

Amanhã, pensou João, amanhã! Deitou-se e tentou dormir, apesar dos muitos pensamento conturbados e do imenso frio na barriga. Tentou afastar medos e angústias, mas se acalmou apenas quando começou a rezar. Rezou até que o corpo exausto se deixasse levar pelo sono, esperando, ansioso, que o dia seguinte lhe trouxesse paz e calma para fazer o que deveria ser feito. Esperou e confiou. No dia seguinte, ao acordar, lembrou-se de começar agradecendo a oportunidade de viver. Apesar de tudo o que ainda não estava resolvido, reconhecia o presente e a aventura que havia nessa pequena palavra: Vida!

Dia 9 de janeiro

A grande loucura de nossos dias é deixarmos de viver os nossos sonhos em prol de uma segurança que nos mantém pregados ao chão. É uma sociedade construída sobre o pilar da necessidade que não se precisa, necessidades criadas para nos dar a impressão falsa e egoísta de estarmos sendo alguém. A grande loucura de nossos dias é nos vendermos a essa loucura por medo de não nos encaixarmos nesse mundo perdido caso não nos vendamos. A grande coragem é enfrentar esse medo e arriscar a felicidade naquilo que brilha nossos olhos, é escolher, livremente, viver a nossa própria vida.

Dia 10 de janeiro

São 2h da manhã e João nascerá. Nascerá como ser humano demasiadamente humano.

Acontece que João acordou numa segunda-feira de manhã chuvosa melancólico e inseguro. Perdeu o horário do ônibus e, nervoso, brigou para sair com o carro do pai. Chegou no trabalho cansado, mas lá conseguiu se distrair com futilidades da internet, conversas sobre a rodada de futebol do fim de semana e comentários sobre a manhã chuvosa da tão 'amada' segunda-feira. Não trabalhou o que deveria, deixando muito para o dia seguinte. Passou o dia assim, entre a sensação efêmera e passageira do bem-estar e o contido desânimo e tristeza de quem não se resolveu em um monte de aspectos de sua vida tão pacata, sem problemas reais e mesquinha. Não que sua vida seja assim, mesquinha, ou que não tenha problemas reais, apenas era assim que ele se sentia no momento. Durante o dia, amou, rezou, sorriu e fez sorrir, mas também odiou, ficou nervoso, tenso, preocupado, inseguro e egoísta. Ah! João foi tantas vezes egoísta! Mesmo nas horas em que ajudou, se dispôs e amou, não o fez sem esperar um "muito obrigado" e uma boa sensação de bem-estar em troca. Tudo o que João fez foi assim, buscando uma retribuição ou um "sentir-se bem". E João foi dormir com a estranha sensação de querer ser mais, ou ser menos do que já é, mas sem muitas esperanças de acordar assim tão diferente no dia seguinte. Este é João, tão eu, tão você...

Dia 11 de janeiro

Entre luzes e sombras, vivemos buscando. Entre sombras e luzes, às vezes erramos. Seguimos, no entanto, caminhando, guiados por luzes, rodeados por sombras. Algumas vezes pisamos no claro, outras corremos no escuro. Onde quer que vamos, lá estão elas: luzes e sombras. Não por que estejam em todos os lugares, mas por que as carregamos conosco.

Dia 12 de janeiro

De onde menos se espera, surge a vida, brota a fé. Entre tantas desesperanças, entre tantos desassossegos, há uma luz, um coração disposto a se doar. Entrega desinteressada, doação humilde e cheia de coragem de quem, tendo tão pouco, se vê capaz de ajudar. Ajudar e esperar: Deus dará em dobro. E eu aqui com tanto... e eu aqui com tanto, me vendo obrigado a aprender com quem eu deveria ensinar. Obrigado pela esperança reacendida... obrigado!

Dia 13 de janeiro

Por trás das nuvens, lá onde a vista não chega, por dias se esconde, por dias descansa o sol. Esse sol que aquece e dá vida, mas que às vezes dá vez às águas que saciam a sede e regam as terras que alimentam e brotam em flor. Esse sol, que ao sair, faz sorrir, faz correr, faz sair do abrigo. Mas não se engane, não se espante, se depois voltar o vendaval. Esse sol, que ao sair faz saborear, que faça trabalhar para quando ele de novo se esconder se tenha um bom abrigo pra descansar.

Dia 14 de janeiro

Certas coisas passam e viram passado. E só. Passou! Não é, não será, só foi. Lembranças. Algumas coisas, ainda, não chegam a ser. Lembranças, também? Memória? Não. São apenas possibilidades não concretizadas e para isso não se inventou um nome. Outras, são! Realidade, presente, concreto e dom. Essas fazem sentir, essas fazem viver, essas fazem sorrir... ou não. Há ainda as que serão, hão de vir. Possibilidades, previsões, "quem sabe"? Saberemos, viveremos, sentiremos. Seremos!

Dia 15 de janeiro:

Aprendemos com a vida que nunca saberemos de muita coisa. E que muitas vezes não precisamos saber, mas ter sabedoria. E que a sabedoria se alcança aprendendo e também errando. E que no erro a gente se fortalece. E que sempre haverá uma barreira para a qual ainda estaremos fracos. E daí, erramos novamente. E nos fortalecemos ou sucumbimos, à nossa escolha. Eu escolho ser forte.

Dia 16 de janeiro:

Para servir e amar é preciso primeiro ser dono de si. É preciso dominar-se com a mesma presteza com que se guia um carro, por que quando se perde o seu controle, não é possível levá-lo para o seu destino correto. Quando se perde o controle de si, não se pode saber para onde se vai, sequer se sabe o que se quer, se é que quer. Não se pode ser luz, se o interior é só escuridão.

Dia 17 de janeiro:

Primeiro um passo. Depois outro. Depois outro. Até que você para e percebe que não sabe mais em que direção seguir. Como dar o próximo passo? Você espera, observa, estuda cada caminho, mas nada clareia suas ideias. Nenhuma decisão é tomada e entre tantos medos e desacertos do passado você decide ficar parado e esperar alguma nova situação aparecer para continuar caminhando menos cegamente. E você espera. E o tempo passa. E quando você olhar para trás, descobrirá que não ter feito nada também foi dar um passo, só não se sabe ainda em qual direção.

Dia 18 de janeiro:

Numa tarde nublada, sentado em um banco de praça próximo a árvores frondosas, João apreciava um belo livro sobre guerras, reis, cavaleiros e damas. Entre uma página e outra, descansava a vista e imaginava as cenas que acabara de ler com uma vivacidade única, proporcionada apenas por aquelas grandes histórias que se fazem acontecer só nos pensamentos. Num desses momentos, João observou uma pequena folha que se desprendeu de seu galho. Caía numa dança leve e bela que inspirava e fazia nascer belos pensamentos. Tentou imaginar, em segundos, o caminho que ela faria. Viria um vento e a levaria para longe, fazendo-a subir antes de sua última queda sobre o chão cheio de outras folhas? Continuaria a dança e desceria em espiral até seus pés, onde poderia pegá-la, cheirá-la e até guardá-la para si como recordação? Cairia a meia distância? Sua queda seria só ilusão? Imaginava... enquanto a folha caía...

Dia 19 de janeiro:

Adormeço. Recomeço. Tudo começa, ou deveria, com um bom dia. Levanto. Alongo. Caminho. Abro portas, torneiras e caminhos. Abro sorrisos, canto canções. Dou passos largos, passos curtos. Passo. Pauso. Como. Como quem ainda quer cama, saio. Encontro pessoas. Repito percursos. Trabalho com calma. Trabalho mais um pouco. Impaciente me torno. Suporto. Logo, retorno. Cansado, respiro fundo e me alivio. É noite. Com um banho, descanso. Gasto o tempo, passo o tempo, saboreio o tempo restante. Adormeço. Recomeço.

Dia 20 de janeiro:

Ele queria uma paixão nova, daquelas que, com apenas um sorriso, lhe despregavam do chão quando estava caído. Daquelas que lhe erguiam a cabeça e faziam seu coração bater forte, muito forte, bem forte. Daquelas que se eternizavam em um abraço e lhe deixavam tímido em manter um olhar. Mais, queria aquela paixão que lhe despregava do chão, lhe erguia a cabeça e, timidamente, o fazia voar. Ah! Voar! Sensação única de liberdade e rebeldia, de prazer e alívio, de paz. Sabia que após o vôo muitas vezes vinha a queda. E a queda doía e lhe arrancava o que de bom ganhara. Ah! A queda, tão dolorosa às vezes. Sabia da queda, lembrava dela, mas depois que o tempo passava, ah! a lembrança do vôo era só o que restava. E da queda, apenas uns pequenos arranhões para contar história. É! Ele queria uma paixão nova.

Dia 21 de janeiro:

Um parágrafo curto, rápido, corrido. Sem tempo, na pressa, escrevo rápidas linhas sem muito pensar. Quase esqueço de fazê-lo, quase me perco no ponteiro. Ainda uma noite inteira, ainda mais alguns dias, ainda muito tempo necessário no relógio.

Dia 22 de janeiro:

Música! O som, a melodia, a batida, a voz, a harmonia... O coração que bate num mesmo ritmo, o corpo que se move e dança. Viver no refrão, esperar nos versos, pausar nos finais, recomeçar. Ouvir. Fechar os olhos e deixar as notas emergirem como pingos de chuva que afagam a pele cansada pelo calor do trabalho. Afinar-se, deitar e deixar o sonho ser canção.

Dia 23 de janeiro:

João teria muitas coisas a dizer, muitas coisas que gostaria de fazer e outras tantas que gostaria de... de pular! Mas João, pobre João, tem uma imagem a zelar.

Dia 24 de janeiro:

Tudo estava por acabar. Tudo! Tudo o que conheciam, tudo o que viriam a descobrir, tudo o que sabiam, tudo o que eram, toda a consciência e moral. Tudo! Não havia porque correr. Não havia para onde correr. Contentaram-se em esperar. Espera paciente e angustiante. Coração apertado e sofrido, sem saber o que esperar. Seria rápido? Sentiriam dor? Veriam o mundo se acabar aos poucos e o sofrimento aparecer em cada rosto? Ou simplesmente, desfaleceriam num piscar de olhos? Espera... Espera... Num instante, um estrondo de proporções gigantescas tomou conta de toda a Terra. O céu se encheu de luz cegante e o ar se poluiu de fumaça e cinzas. Cada célula viva tremeu e se foi. Tudo num piscar de olhos, que jamais se abriram.

Dia 25 de janeiro:

Chegou um pouco mais cedo em casa naquela tarde chuvosa de janeiro, sentindo o corpo levemente pesado. Entrou no chuveiro e deixou a água e os pensamentos escorrerem, livres como são. Saiu do banho um pouco mais amolecido, mas ainda necessitado de energias renovadas. Colocou sua samba-canção mais confortável, escureceu o quarto como pôde, deitou sobre a cama e cobriu-se. O sono merecido dos cansados, que tantos cansados mereceriam mais que ele. Aguardou, não muito, até que dormisse. Acordou algumas vezes, mas voltou a dormir e saboreou aquele momento simples e bom de um dia-a-dia às vezes tão corrido.

Dia 26 de janeiro:

“E agora?”, pensou. Estava cansado, exausto na verdade, e ainda tinha muito que fazer. Sem dormir a mais de 72 horas, seus olhos pesados enxergavam embaçado e dobrado. O corpo fatigado continuava caminhando sem fim e embaixo de um sol escaldante que agora estava a pino. Caminhava rumo a algum lugar onde pudesse encontrar quem o ajudasse. “Ou permaneço caminhando ou morro. Apesar de que morrer não parece ser uma má opção.” O que lhe fazia caminhar? Por que não entregar as pontas e abandonar-se inerte, sem vida, no meio daquele nada? Nada! Não sabia... não sabia porque persistia. Apenas caminhava, semi-morto, rumo a qualquer lugar.

Dia 27 de janeiro:

Então pronto! Ele iria escrever um conto curto bem sombrio enquanto seus amigos saboreavam um delicioso açaí ali num bar. O conto deveria ter sombras das mais sombrias que ele pudesse imaginar. O problema é que só conseguia imaginar suas próprias sombras com pouca clareza. E elas não lhe pareciam suficientes. Teria que adentrar a frieza e escuridão de um bandido, de um assassino. A mente de um homem entregue aos vícios e medos, inseguranças, depressão, pânico, pavor, horror... Adentrar a vida amargurada e cheia de peso esmagador de uma história sofrida, de um coração rejeitado e espancado pelo próprio pai. Uma história de perdas, estupros e outras violências físicas, psíquicas e emocionais que levaram a escolhas duras de perpetuação do mal, da dor e da morte. Sombras das mais sombrias lhe passavam pela cabeça, mas, sem coragem, não chegavam ao papel. Sombras que todos temos, mas que só existem porque em algum lugar incide alguma luz.

Dia 28 de janeiro:

Olhando assim, distante, são tão pequenas essas estrelas. Minúsculos pontos luminosos imóveis em um extensíssimo céu negro. Ínfimas criaturas, servindo apenas para nos guiar de vez em quando e iluminar uma noite que, de outra forma, seria mais treva. Olhando assim, de longe, poderia até não reparar tanto nelas, se sua incontável quantidade não nos chamasse tanta atenção. Ah! Mas se eu as pudesse olhar de perto... Se pudesse por alguns instantes me aproximar e admirar a vastidão de suas superfícies quentes e brilhantes, poderosas e explosivas! Quisera vê-las nascer e, em velocidade super rápida, acompanhá-las em todo seu desenvolvimento de bilhares de anos. Tempo incompreensivelmente finito. Imagino o som ensurdecedor que fariam. Imagino-me fascinado com toda a sua magnitude hipnótica. Sentiria-me assim, inútil, pequeno, fugaz, pouco, breve, pó, nada... Mas sentiria-me feliz, talvez, por poder contemplá-la em todo seu esplendor

Dia 29 de janeiro:

Por onde começar? Por onde continuar? Que caminho seguir? Voltar? Persistir? Desviar? Parar? Reconhecer o caminho errado e... e o quê? E pra onde? E pra quê? Esperar? Se ausentar? Sentar e esperar? Será que não fazer já é decidir? Já é escolher? Questionar-se? Passar o tempo? Deixar passar? Passado? Viver o presente e só? Querer um futuro melhor? Lutar? Se esforçar? Deixar? Largar? Querer? Esquecer? Angustiar-se? Renovar-se? Ser essência e muito mais? Sentença? Tenta? Lembra? Me entenda. Por que eu não!

Dia 30 de janeiro:

Uma porta! Que haverá do outro lado? Um parque de criaturas ancestrais revividas pela ciência de clonagem? Uma policial tentando encontrar um criminoso com a ajuda de um assassino em série? Um mundo ameaçado de extinção por não haver crianças com imaginação? Ou quem sabe um outro mundo em que bruxos e trouxas convivem, sem que estes saibam da existência daqueles? Talvez seja uma terra inteira em guerra por conta de um pequeno objeto, um simples anel. Monstros! Criaturas gigantescas e pavorosas a vinte mil léguas no fundo do mar! Pode ser também pessoas, como nós, vivendo suas vidas e dramas, em outras épocas ou nessa. Pode ser tanta coisa. A princípio, apenas uma porta. Pra saber o que há do outro lado, vire a capa.

Dia 31 de janeiro:

Adeus mês velho! Feliz mês novo! Que se faça no novo mês o que no velho não se fez. Que os propósitos já esquecidos sejam retomados. Os propósitos vividos que sejam revigorados. E que a cada novo dia (pra quê esperar um ano? pra quê esperar um mês?) a gente possa renovar os votos de nova vida, esperança e paz nos corações. Mas os vivamos conscientes de que são precisos atos concretos e constantes a cada nova hora, a cada novo minuto. Agora!