quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sobre 18 segundos antes do nascer do sol

18

Pararam no meio da ponte. Andressa, Leo, Pedro, Renato, Vitória e Liana. Voltavam de seu baile de formatura e naqueles breves dezoito segundos entregaram-se à beleza do céu.

Andressa, a Dessinha, andava descalça, na ponta dos pés, carregando seu sapato apertado nas mãos. O vestido roxo de rendas era curto, deixando as pernas à mostra e à merce do frio da madrugada. O frio, que seria logo substituído por um calor incontido.

Leo estava com a gravata solta e paletó no ombro. Era um homem alto, sem barba e, agora, de cabelos loiros desgrenhados. Seus olhos azuis sumiam na escuridão, que também escondia sua tristeza. Sim, pois a euforia da festa não amenizara a saudade de seu recém-falecido pai.

Pedro, ainda arrumado, apesar das horas de dança e bebida, caminhava a passos curtos, atrás de todos, pensativo e ansioso. Por toda a noite observara Andressa, criando coragem para falar-lhe tudo o que sentia.

17

Os amigos encostaram-se no parapeito da ponte. Entreolharam-se brevemente...

16

... e sorriram. Um sorriso gostoso, mais sincero em alguns do que em outros. Estavam cansados fisicamente, mas a alma ardia em euforia e a saudade começava a despontar. Queriam aproveitar os últimos momentos da vida que deixavam para trás. Amigos inseperáveis durante anos de curso. Será que a vida lhes afastaria, proporcionando novas amizades, mas enterrando no tempo tantas experiências precisosas? Esperavam que não. O sorriso que mostravam era de alegria, mas transparecia também a gratidão.

15

Renato, baixo e levemente calvo, com gravata azul combinando com o vestido de Vitória deu as mãos para a namorada. Vitória era alta, constratando com a altura de Renato, cabelos longos, que hoje estavam encaracolados. Namorados a dois anos, olhavam juntos para um futuro que lhes reservava muitas surpresas.

Liana era a mais bela. Vestido longo decotado, cabelos lisos até a metade das costas, transpirava paz e mansidão. Olhou os amigos juntos e desejou, naquele breve segundo, encontrar também um amor tão puro assim, como o de Vitória e Renato.

14

Pedro pegou a flor que trazia consigo e jogou-a ao rio. Andressa compreendeu imediatamente o gesto...

13

e o imitou. Olharam-se e sorriram. Leo, que estava entre os dois, deixava escorrer uma lágrima, saudosa lágrima.

Pedro esqueceu-se por um segundo da garota que amava e aproximou-se de Léo.

Um carro passou veloz por eles, sobressaltando-os.

12

- Força, amigo! - disse Pedro para Léo. Estaremos sempre aqui com você.

Léo tentou falar, mas não lhe saíam palavras.

11

Recostou a cabeça no ombro do amigo, enquanto Renato, Vitória e Liana juntavam-se para abraçá-los. Andressa apenas observava, pensando em como amava a cada um daqueles intrometidos, que invadiram sua vida sem pedir licença.

10

9

Andressa juntou-se ao amontoado.

Abraçavam-se. Silenciosos.

8

7

- UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL - gritou Leo. Hoje é dia de festa, cambada! Comemoremos!!!

Desvencilhou-se do abraço, subiu na primeira barra que formava o parapeito, pegou a flor que trazia e...

6

jogou-a no lago, como fizeram Andressa e Pedro. Todos o observavam.

Leo respirou fundo...


5

e disse: - Ao nosso futuro! Que nossas vidas sigam percursos a futuros grandiosos, como o rio carrega tudo ao mar.

Renato e Vitória abraçaram Liana.

Pedro aproximou-se de Andressa...

4

... e passou o braço por seus ombros.

Renato e Vitória foram até o parapeito e jogaram juntos uma só flor desejando silenciosos que seus futuros estivessem repletos de amizades e amores verdadeiros.

Leo cerrou os olhos e sorriu. Dessa sentiu o calor vindo de Pedro.

Liana segurava sua flor, pensativa.

3

Desejou que o tempo carregasse os tormentos e aproximasse os amigos. Lançou a flor ao lago.

Pedro mordia-se de ansiedade. Quisera dizer tanta coisa a Dessa, mas as palavras faltavam.

Dessa esperava pacientemente. Para tudo havia um tempo certo.

2

Liana soltou um grito de alegria, estendendo os braços para o alto. Leo acompanhou-a.

Vitória acariciou o rosto de Renato.

Pedro e Dessa trocaram um último olhar...

1

... e sem palavras, beijaram-se.

Os amigos, surpresos, aplaudiram...

0

... enquanto o primeiro raio de sol dispontava, alaranjando o céu no horizonte, prenunciando a aurora de um novo tempo para suas vidas.

2 comentários:

  1. Chique demais, Miguel. Emocionante... Adorei! Parabéns! Você sempre escreveu bem, né? Lembro dos tempos de escola e você sempre se destacava em seus textos... Muito lindo, parabéns!!!
    Saudades,
    Lígia

    ResponderExcluir