segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre uma trilha

A vida é como uma trilha que encerra dois segredos.

Você começa a caminhada. Vislumbra a natureza rica, exuberante, dando seus sinais de vida em toda parte. Morros altos, cobertos por uma vegetação verde que dá gosto aos olhos. A paz que a mata transmite é pura. Ao chegar à beira do rio, você decide atravessá-lo. As águas são límpidas e correm lentamente, produzindo um ruído que acalma. Você tira o tênis e pisa fundo, sentindo o gelo da água tomar-lhe o corpo. É refrescante.

Atravessando o rio, você se depara com uma nova paisagem. A mata fechada se estende ao longo de uma trilha repleta de subidas e descidas que cansam, mas que valem a pena ser percorridas. A caminhada continua, a sede bate, mas deve-se esperar encontrar o rio novamente. Já acostumado com a vista e a natureza que lhe acompanha, você continua caminhando, cabeça baixa, apenas prestando atenção onde pisa.

Alguns kilômetros a mais e o corpo começa a cansar. As pernas doem e as subidas passam a ser cada vez mais cansativas. Você continua caminhando, pois este é o primeiro segredo para chegar: continue caminhando. E caminhando, depara-se com um recanto escondido, um poço onde se pode mergulhar e beber de uma água fria e pura, puríssima. Você deixa a roupa e a mochila de lado e pula. Nada e se diverte ali, onde o contato com a água e o ar o fazem lembrar que estar vivo é uma bênção. Você deseja permanecer ali por muitos e muitos dias, mas tem uma trilha a cumprir. Não se pode acomodar na primeira facilidade. Então, continua caminhando.

Com o espírito renovado, você segue. Segue por muitos mais kilômetros, e atravessa uma paisagem seca, com poucas árvores, em que o sol atingi-lhe a face sem misericórdia. A pele arde e a sede fere. O corpo começa a pedir descanso, mas você sabe que não pode parar, e não valerá a pena voltar. Você continua caminhando, continua caminhando.

As pernas doem e cada subida é um martírio. Nas descidas, você segura firme o corpo, que quer soltar-se e se deixar levar pela gravidade. A sede é intensa, o sol é forte, e em volta não se vê sinal nenhum de qualquer paisagem em que se possa descansar. Você está no meio de morros, todos altos. A trilha segue, e a cada curva vê-se a mesma paisagem. Já se vão duas horas de caminhada, e nada muda. O corpo cansa, a vontade desfalece, mas você continua caminhando. Pois este é o segredo: continuar caminhando.

Você segue a trilha que o leva entre dois morros. Novamente, entra em uma mata fechada. Ao longe, ouve-se o ruído de água. Ganha-se uma nova força, uma esperança surge. Haverá água logo a frente, e você poderá saciar a sede, descansar. Segue. Anda. Sobe e desce numa trilha sem fim. Mais dez minutos, vinte, trinta.

E de repente, lá do alto, você vê. A cento e vinte metros do solo, a água cai ininterruptamente. O paredão forma como que uma escada íngreme por onde a água desce, produzindo o som tão peculiar da cachoeira. A água cai e forma uma imensa piscina, onde se pode nadar e aproveitar o resto do dia. Lá do alto, vê-se o sol batendo no topo do morro, clareando o verde que se instala pelas beiradas da queda. Tudo é belo, tudo é paz. Você se senta na pedra, molha o pé e contempla a maravilha da natureza. Valeu a pena a caminhada. Olha para o lado e vê... outros tantos que caminharam com você. Sorri para eles, e descobre o segundo segredo: não se pode chegar lá sozinho.


ps: a água tava MUITO GELADA!!!

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