terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre simplesmente acontecer!

Um fim de tarde no parque sempre acalma. Sentar no banco de madeira, olhando as crianças correndo sorridentes atrás da bola. Jovens andando de patins, alguns ameaçando manobras diferentes, outros ainda aprendendo a patinar. O sol aquecendo a tes, tornando-a rubra, e formando mosaicos de luz e sombras abaixo das mangueiras.

João se encontrava assim, sentindo a brisa arrancar-lhe o excesso de calor do rosto, deixando a temperatura na exata medida. Apenas fechava os olhos e ouvia os sons vindos de tudo o que havia em volta. Quando estava quase se esquecendo de que estava ali, percebeu que alguém sentava ao seu lado.

Abriu os olhos, forçando a vista contra o sol, virou o rosto e viu uma bela garota ofegante. A menina pedalava, e sua bicicleta estava agora encostada no banco.

- Quer um pouco de água? - disse João, oferecendo sua garrafa a ela.
- Não, obrigada - respondeu ainda ofegante. Não se pode vir pedalar sem sua própria provisão.

A garota se virou para a bicicleta e retirou sua própria garrafa d'água. Deu um largo sorriso para João, uma breve piscada (Uou! que maravilha de garota!), abriu a tampa e percebeu que a garrafa estava vazia.

- Nossa! Que furo. Estou tão cansada que nem percebi que precisava de mais água. Você tem um pouco?

João não respondeu. Ficara encantado com os movimentos da garota. Sua piscada, o movimento de seus cabelos. Sem perceber, ficou parado olhando para ela, boca semi-aberta, sem piscar. A garota deu uma risadinha. Provavelmente já estava acostumada com essa reação.

- E, então? A oferta ainda está de pé? Posso beber um pouco de água?

João disfarçou a cara de bobo com um sorriso.

- Não costumo emprestar coisas a estranhos. Minha mãe não deixa - disse em tom de brincadeira.

A garota deu uma longa risada, inclinando a cabeça para trás e mostrando o pescoço. Um lindo pescocinho branco, aos olhos de João. O suor que lhe descia da face e escorria até o ombro só fazia aumentar-lhe a beleza. João gostava de esportes e encontrar uma garota tão bela no parque que aparentemente partilhava deste gosto animou-o.

- Aqui. Pode tomar quanto quiser - disse, estendendo a garrafa à garota.

- Minha mãe me ensinou a não aceitar coisas de estranhos - respondeu, virando os lábios para um lado e levantando uma das sombrancelhas.

- João, muito prazer! Sou estudante, e estou aqui relaxando um pouco da semana cansativa que passei. Ainda sou um estranho?

- Clarice, estudante e aspirante a atleta. Estou tentando melhorar meu tempo, mas dormi tarde e acordei cedo, e pelo jeito meu pique não é dos melhores hoje.

Os dois se deram um breve aperto de mão, tímido. Conversaram sobre o tempo, o clima e o gosto pelo esporte. Naquela tarde apenas conversaram. O sol se pôs e os dois continuaram sentados no banco. O calor virou uma fria brisa noturna; os meninos brincando foram substituídos pelo canto dos grilos e até mesmo por alguns vaga-lumes. O céu não estava bem estrelado pela noite, mas puderam gastar alguns minutos contemplando-o.

João aproximou sua mão da de Clarice. A garota tremeu, mas desculpou-se dizendo que era o frio. Ficaram mais alguns minutos assim, em silêncio. Despediram-se sem trocar telefones, e-mails ou outra coisa.

Foram pra casa mais leves, cantando para si e sem se importar com ninguém.

No dia seguinte, João estava no mesmo banco, no mesmo parque, na mesma hora. Estava com uma garrafa cheia d´água e sem compromissos marcados para aquela noite.

João apenas fechava os olhos e ouvia os sons vindos de tudo o que havia em volta. Quando estava quase se esquecendo de que estava ali, percebeu que alguém sentava ao seu lado, ofegante.

Sorriu.

2 comentários:

  1. Quer casar comigo???
    GRaças a Deus o Davi não lê isso aqui!
    hauihauihaiuhaiuah
    Ensina ele a escrever...

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  2. To por aqui pela primeira vez! ;)
    Adorei o texto! Que leve! Que gostoso!
    Praticamente vivi a história lendo o texto!!
    Legal!!! ;)
    bjooo

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