segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sobre uma noite silenciosa

Continuação de Sobre uma noite luminosa I e II abaixo.


Os animais afastaram-se novamente. Os pastores e o casal que ali estavam contemplando o menino olharam para as três figuras, quase majestosas, que se aproximaram. Três homens fortes, barbados, vestidos com grandes túnicas adornadas com ouro, cada um com uma caixa em mãos, adentraram o humilde lar.

Depois de se instalarem e contemplarem alegremente o menino, perguntaram:

- É este o rei dos judeus?

Maria ficou quieta, pensativa. Ainda não se acostumara com o que diziam de seu filho. Ele era tão grande, ela tão pequena. Ela tão reservada e tantos acorriam a ele. Ficou meditando sobre o que significariam essas palavras: o rei dos judeus!

Seria ele designado a libertar Israel dos romanos, proclamar-se-ia rei e instituiria uma nova era na história de seu povo? Pegaria ele em espadas e escudos para isso? Que tipos de milagres faria IAHWE por seu intermédio para que isso acontecesse?

Espadas, escudos. Definitivamente, não lhe agradava a idéia. Não queria seu filho, seu amado filho, correndo tal risco. Esses pensamentos a assaltavam ao mesmo tempo em que uma profunda tranqüilidade tomava conta de seu coração: o Deus de seus pais, o Deus forte e poderoso que conhecera tinha desígnios perfeitos e não deixaria que nada de mal acontecesse a um simples filho seu, quanto mais ao Filho do Altíssimo, àquele que deve ocupar o trono do rei Davi. Ainda assim, sabia que para ser rei nesses tempos seria preciso muita luta contra os opressores, não importa como fosse a luta. E, naquele momento, entregou a vida de seu filho nas mãos de IAHWE seu protetor, que fosse feita a sua vontade apenas.

- Vimos a estrela do oriente e a seguimos. Ela nos trouxe até aqui. É este menino, o rei dos judeus, o anunciado pelos profetas, aquele que há de restaurar a paz – continuaram os homens.

Maria não sabia o que dizer, permaneceu em silêncio meditando. José, então, falou:

- Tudo o que nos dizem dele, não o podemos confirmar, tampouco podemos negar. Este menino nasceu do Espírito de Deus e não da vontade dos homens e, portanto, tudo o que se tem dito dele deve ser de fato como o dizem.

“Nasceu do Espírito de Deus e não da vontade dos homens”, os pastores não entenderam o que José quisera dizer e ficaram perplexos.

Um dos grandes homens que haviam chegado adiantou-se à frente dos outros e depositou sua caixa ao lado do menino. A caixa era simples, mas belamente adornada em prata. O mesmo fizeram os outros dois. Depois, permaneceram calados, como que em profunda adoração, sem desviar por um segundo os olhos do menino.

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E assim passou-se aquela noite. Entre silêncios, sinos, palavras e reflexões.

Os três homens repousaram na hospedaria próxima ao estábulo. E os pastores retornaram para suas casas e seus rebanhos após uma longa e efusiva despedida. Ao chegarem em casa depois da vigília, notaram que tudo estava perfeitamente igual ao que haviam deixado. No dia seguinte, as conversas eram as mesmas e não houve sequer menção ao silêncio profundo que assaltara a noite anterior, ou ao brilho intenso de uma estrela, ou a um choro que mais parecia sinos. O mundo passara incólume e despercebido de tudo. O silêncio e cuidado de Deus foram maiores. Somente eles e os três homens do oriente e o casal presenciaram o toque de IAWEH no mundo naquela noite. E os pastores simplesmente souberam que assim deveria ser.

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