sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sobre uma noite luminosa I

O mais jovem chegou primeiro. Parou por um instante, mais por expectativa que por hesitação. Aproximou-se da entrada. Já não sentia o frio. A corrida que fizera até ali esquentara o seu corpo, e todos os acontecimentos da noite deixaram o seu coração em chamas. Olhou para trás procurando encontrar seu companheiro logo atrás de si, mas esse ainda estava distante, vagaroso. Foi até ele.

O pastor mais velho andava vagarosamente, cabeça baixa, olhando para o chão. O cajado com o qual tantas vezes imponentemente usara para guiar seu rebanho agora vinha arrastado atrás de si. O mais jovem aproximou-se dele correndo, segurou seu braço:

- Esta corrida deve tê-lo cansado, mas não precisamos mais ter pressa. O menino ainda não se foi. Ouvi seu choro quando me aproximei da gruta, mestre. Parecem sinos – disse animado.

O velho olhou-o nos olhos bondosamente. A lua brilhava em seus olhos lacrimejantes.

- Não me chame mestre. Não mais – disse o velho, com a voz embargada. O discípulo jamais o havia visto sequer vacilante, quanto mais chorando. Ficou surpreso, mas não questionou, calou-se e manteve o passo.

Os dois continuaram andando lentamente até a entrada da gruta. O mais jovem amparando seu mestre. Quanto mais se aproximavam, mais o jovem podia sentir a atmosfera diferente, mais podia sentir o silêncio. Coração batia forte.

A gruta era grande o suficiente para abrigar um pequeno estábulo, onde se deitavam algumas vacas e um burro. A grama estendia-se um pouco além da entrada e o resto do chão era coberto por pequenas pedras. Havia uma hospedaria a uns 200 metros e o jovem pensou que a gruta poderia pertencer ao dono do estabelecimento. Certamente haveria ali dentro uma pequena construção com um belo quarto e mantimentos para o menino, um excelente lugar para a criança se deitar distante da bagunça e do barulho da cidade, pensava.

Quando o jovem começou a adentrar a gruta, forçando a vista por causa da luz fraca que iluminava o ambiente, viu, no fundo, dois vultos, perto deles algumas tochas acesas e, no chão, um pequeno berço improvisado. Não havia quarto, não havia nada, apenas uma pequena manjedoura.

As pessoas em volta do menino ainda não os tinham visto. Continuaram andando. O jovem sentiu a resistência do velho mestre. Virou-se espantado. O velho soltou o braço da mão do jovem, apoiou-se na ponta do cajado com ambas as mãos, inclinou a cabeça. Disse:

- Meu querido, vá na frente. Este velho aqui já não merece a graça de ver este menino. Este coração que você conheceu, há muito se corrompeu e buscou apenas as coisas desta terra. Por mais humilde vida que eu e minha família tenhamos, devo admitir que sempre ambicionei riquezas maiores e seria capaz de muitas maldades para obtê-las. Ao ver a humildade deste rei, reconheço todo meu pecado. Dói-me ter que admitir, mas não sou digno sequer de aproximar-me dele.

O jovem permaneceu quieto por um instante. Pensativo. Ocorreu-lhe que deveria haver naquele momento uma inversão de papéis. Ele seria o mestre e o velho seu discípulo.

- Senhor, não entendo. É apenas uma criança, como você pode temer aproximar-se dele?

- Não, meu jovem. Não é apenas uma criança.

- Sim - interpelou-o o garoto. É apenas uma criança. Uma criança na qual repousa toda a glória divina, é verdade. Mas é apenas uma criança.

Parou um momento. Não sentindo que seu mestre abrira a guarda, continuou:

- Mestre, vês algum guarda aqui? Vês alguma porta impedindo a passagem?

- Não.

- Vês algum trono? Algum juiz?

- Não.

- Pois bem, nem eu o vejo. Vejo apenas um lugar humilde. Uma gruta aberta, onde até mesmo as serpentes podem entrar. Não há guardas para impedir nossa entrada, não há juiz para decidir quem pode ou não entrar. Para mim, isso só pode significar uma coisa: nós podemos nos aproximar.

O velho permaneceu cabisbaixo. Respirava lentamente, como que para não atrapalhar os próprios pensamentos.

- Sou um grande pecador, meu filho. Não sou digno.

- Então por que teriam aqueles anjos aparecido para nós, se não fôssemos dignos? Na verdade, sei que não o sou. Mas não sou eu que vim até ele, ele veio até nós. Ele nos trouxe aqui. Os anjos disseram que esta era uma boa nova. Que haveria alegria para todos a partir de agora. Mestre, na verdade, acho que este é o primeiro passo para essa alegria. É preciso arrepender-se para poder recebê-lo de coração aberto, e recebendo-o alegrar-nos-emos. Por favor, não deixe que seus pecados o impeçam de ver a salvação, ao contrário, que o arrependimento por tê-los cometido permita aproximar-se com mais humildade dela.

O velho levantou o olhar para seu discípulo. O jovem o olhava confiante, impassível. Sabia o que estava dizendo, ou, ao menos, tinha esperança de que o que dizia era verdade. E essa esperança o dava forças, forças de que precisava para continuar vivendo na humilde vida que tinha. Essa esperança o transformou, o amadureceu em poucas horas. Antes da visão dos anjos, não seria capaz de ser tão convicto, tão confiante. Pelo jeito, a criança mal chegara e já começara a mudar algumas coisas, alguns corações. Talvez tenha vindo para isso: encorajar os medrosos, perdoar os pecadores, aliviar os aflitos. Compreendeu o jovem, compreendeu tudo:

- Não há guardas, não há portas... Só há uma coisa entre mim e esta criança: meus pecados. Mas se ela está aqui, se o anjo me chamou à sua presença é porque esta barreira foi transposta. Vamos. Já esperamos demais. Antes estivéssemos aqui há mais tempo.

O jovem sorriu. Voltaram-se para a entrada e caminharam até o fundo...

Um comentário:

  1. Arrupieii! rs
    Eu podia ser o velho, ou o novo, eu escolho ne? A questao é que mesmo q Jesus nao vá nascer de nv agora eu continuo diante dele com os mesmos dilemas.
    Beijoooooooooooooooooooooo
    Saudade já.

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