domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre a força avassaladora do tempo

Ao entardecer, João olhou para o pulso e percebeu que o relógio estivera parado desde a manhã. Tirou o aparelho e colocou-o no bolso. O dia havia sido tão cansativo e corrido que sequer tivera tempo de olhar as horas. Apenas fez uma coisa após a outra, na maior rapidez que pôde, indo de um lugar a outro sempre acima da velocidade da pista.

Agora ele estava no carro voltando para casa, onde finalmente deitaria em sua cama e descansaria por alguns minutos. João adorava dirigir. Costumava dizer que quando dirigia, apenas dirigia. Não havia nada mais para fazer. Não podia falar ao telefone, não podia resolver problemas do trabalho, não tinha que arrumar quarto, gaveta ou o que fosse. Apenas dirigia. Naquele dia, no som do carro, ouvia-se o seguinte refrão: "Os dias correm e somem, e como o tempo não vão voltar".

João refletiu longamente nessas palavras. Sabia que precisava de uma pausa, de um desacelerador do tempo. "Good guys need a break", ouvira em um filme outro dia. Ah, se ele pudesse desfrutar dessa pausa. Mas não podia, ou, pelo menos, se sentia incapaz de consegui-la. Voltou para casa dirigindo - apenas dirigindo - e refletindo sobre o ritmo alucinado que todas as coisas haviam tomado. E sentiu-se incapaz de deter a força avassaladora do tempo e dos acontecimentos. E decidiu que, de qualquer forma, não valia a pena lutar contra o tempo.

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