quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sobre um fantasma! Desfio 1 do Concurso de Escritores Literatura de Camara

Este texto eu enviei para o Concurso de Escritores Literatura de Câmara. Por favor deem um desconto: eu tinha que enviá-lo até 00h de ontem, mas comecei a escrever às 23h20!!!


O sino soou a meia-noite assim que Hamlet chegou à Esplanada do Castelo de Elsinor. O vento estava forte e o frio era insuportável. O jovem foi se aproximando do local de guarda enquanto ouvia os estrondos de canhões que rugiam à saúde do rei, seu tio.

Não só pelo frio, mas também pela ansiedade, Hamlet tremia da cabeça aos pés. A possibilidade de rever seu falecido pai, mesmo que como um espectro, dava-lhe em certa medida arrepios, e, em outra medida, acalento. Seu corpo estava gélido pela baixa temperatura exterior, mas seu coração ardia em brasas pela esperança que a noite prometia.

- Quem está aí? – perguntou Horácio, que montava guarda.

- Serei seu pior pesadelo, caso não abaixes essa arma – retrucou Hamlet em tom de zombaria.

- Ora, não a abaixarei se ao rei não saldar, e como amigo eu o identificar.

- Com a breca, Horácio. Não se faça de tolo. É Hamlet, sobrinho do rei andante e filho daquele rei que agora os vermes comem.

- Como faltas com tanto respeito a seu pai, pobre Hamlet. Deverias honrá-lo desde ontem até a eternidade.

- Honrei-o em vida e se em morte o uso de piada não vejo em quê peco. Pior faz quem apunhala e difama um morto em vida, e, quando, morre em prantos põe-se para impressionar a multidão.

- De fato, pior seria.

- Então, cala-te e diga-me se o fantasma...

- Calo-me ou falo?

- Oras, não me retruques. Cala-te enquanto falo, e responda-me tão logo termine. Bom assim?

- Assim está.

- Diga-me, pois, se o fantasma de meu falecido pai já passou.

- Ainda não. Não deu meia-noite.

- Ora. O sino soava enquanto eu chegava. Meia-noite já é, mas se estivesses esperando virar abóbora, temo que suas esperanças foram frustradas.

Um vento cortante passou pelos dois guardas e por Marcelo, que também estava de guarda naquela noite. Hamlet percebeu a visão distante e medrosa de Marcelo. Voltando o olhar para onde o guarda fitava, Hamlet viu um espectro transparente e fosco, uma figura imperfeita, porém muito semelhante a seu pai quando em vida. Não imaginava que sentiria tanto medo. Ao ver o fantasma de seu pai, Hamlet teve o coração gelado pelo temor.

- Vamo-nos daqui, Horácio. Marcelo, ordeno que permaneça em vigília toda a noite. Esperava encontrar o que vejo, mas agora tremo de medo ao imaginar que devo me aproximar.

- Ora vamos, Hamlet – disse impaciente Horácio. Queres ser rei um dia, sem ao menos ter coragem de enfrentar um fantasminha de nada?

- Meu reino por um cavalo!!! – completou rapidamente Hamlet, com voz embargada e tremida. Anseio por sair daqui o mais de pressa possível. Vamos, Horácio. Temo por minha vida se sair sozinho.

O fantasma rondava os portões do castelo olhando na direção dos três. Quando Hamlet finalmente enfrentou o olhar do espectro, o fantasma fez sinal para que o seguisse.

- Ele lhe chama, meu príncipe. Será que deverias ir?

Hamlet hesitou por um momento. Hesitou novamente... e novamente. Não tendo para onde fugir, no entanto, colocou-se em marcha na direção do defunto fantasmagórico. Quanto mais se aproximava mais temor sentia. As feições do pai pareciam-lhe cada vez mais claras. O coração ameaçava-lhe saltar do peito. A respiração se tornou ofegante. Estando a menos de dois metros do fantasma, o fantasma soltou um grito alucinante, que doeu nos tímpanos de Hamlet.

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH – gritou o fantasma, com as mãos estendidas e a língua para fora.

Hamlet deu um salto brusco e começou a correr de volta na direção de Horácio e Marcelo.

- Socorrei-me. Chamai a guarda régia. Os mortos levantaram-se de suas tumbas e nos querem matar.

Enquanto corria e gritava, Horácio e Marcelo davam longas gargalhadas. Percebendo o ocorrido, Hamlet olha mais uma vez para o fantasma, para certificar-se de que tudo era realmente uma brincadeira.

O espectro coloca as mãos sobre a cabeça e começa a elevá-la. Antes porém, que Bernardo retirasse toda a máscara, Hamlet dá suas últimas palavras:

- É ou não é? Eis a questão. A dúvida se me impõe, mas meu coração já não se agüenta. Um homem parecer fantasma e gritar é possível, mas remover sua própria cabeça...

E caiu desfalecido.

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