segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre pintores, cores e quadros


É assim a vida: as pessoas vêm, as pessoas vão; às vezes ficam pra sempre (gostaria que muitos fossem assim!). De qualquer forma, invariavelmente (ou quase sempre), deixam um pouquinho de si com a gente, e levam um pouquinho de nós com elas.

Ontem conversava com uns amigos. Um deles disse não acreditar em alma gêmea, e a outra disse que nós já somos completos e falar em alma gêmea faz parecer que somos só metade. Definitivamente não somos metade, eu, pelo menos, sou bem inteirinho. E também não acho que tenhamos uma alma gêmea, seja ela metade, inteira, ou só parte...

Acho que somos interinhos. Auto-suficientes, então? Bem, só se você quiser. Mas eu prefiro dizer que somos um pintor, e nossa vida é um quadro. Posso pintar as maravilhas que eu quiser, mas (há um mas; sempre há) só temos uma cor em nossa humilde aquarela. Como pintar um belo quadro com uma cor apenas?

Do resto, já deu pra entender. Se eu quiser ser auto-suficiente, vou pintar um quadro monótono, monocolor, homogêneo... Mas bonito mesmo é aquele quadro bem colorido, em que diversas cores se complementam, se harmonizam, se completam e formam uma grandiosa paisagem, ou um lindo animal, quem sabe um céu cheio de estrelas. É o milagre dos relacionamentos: cada um deixando uma pincelada no quadro do outro. Umas pinceladas são grossas, outras finas, umas ocupam grande parte do quadro da vida, outras são apenas um ponto. As que são apenas um ponto podem ser irrelevantes, ou podem ser AQUELE ponto que dá um QUÊ a mais e faz toda a diferença.

Eu tenho a graça de poder dizer que meu quadro é bem colorido. Cheio de cores que cruzam, entrecruzam, param aqui, continuam ali. Não sei que pintura vai dar, se paisagem ou retrato, se obra expressionista ou barroca. Tampouco acho que isso importe.

Também tenho a honra de anunciar: deixo minha marca em vários quadros por aí. Minha cor tá um pouquinho aí, um pouquinho ali, bastante acolá... Espero estar contribuindo para belos quadros.

Quanto à história da alma gêmea, certamente, a cor da minha aquarela combina mais com alguma cor que anda por aí. Sabe aquele lance de cores complementares? Ou aquela bela harmonia entre o azul e o laranja no ocaso?

Esse é o quadro de nossas vidas... E se quisermos viajar um pouquinho mais, podemos pensar que além de nossos quadros, somos responsáveis também por pintar um quadro maior ainda, comunitário, que todos pintam: tipo a história do mundo. Que contribuição eu dou a esse quadro? Que traços eu faço, e com que frequência eu atuo?

É. Cores, cores, muitas cores. Como num mosaico. É assim que as pessoas vêm e vão. Deixando seus traços e suas tintas. Agora que está avisado, tome mais cuidado. Não deixe de pintar no quadro dos outros, mas preste atenção naquilo que pinta. Não queira deixar um borrão...

Quadros, quadros, muitos quadros. Espero que o meu termine como uma grande obra de arte, exposto no mais importante ateliê da vida.

2 comentários:

  1. Você escreve lindamente... sempre!!!
    AMO.
    Beijo
    Dani Araújo

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  2. Estive a analisar o meu quadro: suas cores, suas formas, as imagens já formadas, e tive a atenção puxada à pinceladas específicas, talvez pelo brilho e intensidade da cor ali presente. Essa parte a que eu me refiro é tão doce... e ao mesmo tempo tão verdadeira!

    Ali tem uma janela com vista para a lua, sempre cheia! E marezinhos, com direito a submarino e mergulhador. Também vejo, ao fundo de uma sala, duas pessoas que, embora sejam diferentes, transcendem uma curiosa harmonia entre si.

    Intrigante como que agora, observando todo o quadro, concluo que aquela parte pintada há uns 6 ou 7 anos conferem à toda a obra um resultado diverso do que seria se ali não estivesse, como se tudo após sua pintura fosse visto de um outro modo, talvez seja aquele “QUÊ a mais” que faz toda a diferença, dando um rumo novo à arte que se desenvolve, mudando a forma que as próximas pinceladas serão recebidas e qual o desenho que se almeja formar.

    Um abraço muito forte, daqueles de quem tem muita saudade!

    Meirinha.

    “Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.” (Antoine de Saint-Exupéry)

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