quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sobre ser vivo

Ao fim da noite, João reclinou a cabeça para dormir. Finalmente! Não suportava mais a terrível impressão que tivera de si ao longo de todo o dia. Um mero espectador do próprio show.

Desde a hora em que saiu de casa pela manhã até a hora em que se deitou, João apenas presenciou uma série de fatos; contracenou como mero coadjuvante em uma série de atos; reproduziu falas pré-formuladas por roteiristas que ele sequer conhecia. João apenas assistiu ao espetáculo da própria vida.

Simplesmente, teve a impressão de que tudo aconteceu independente de sua vontade. Ainda que não estivesse presente, tudo aconteceria absolutamente igual. Ele não atuara, não fora peça de improviso, nem elemento surpresa. Apenas mais um peão na mão do enxadrista, movido segundo sua vontade e conveniência. Não modificara o que queria, apenas aceitara o que lhe fora imposto. Não deixara marcas indeléveis, apenas poeiras passageiras.

João reclinou a cabeça e pensou. Pensou que queria dormir e acordar somente na hora de partir. Dormir aquele sono pesado, que não se abala por nada. Não tendo que assistir o roteiro escrito por outros para a sua própria vida seria mais suportável viver.

- Vou dormir e torcer para acordar tarde, bem tarde. E, quem sabe, ao menos sonhar com o que espero. Assim, continuarei sendo platéia de meu próprio show, sem, nem mesmo, direito a camarote. No final, talvez, valha a pena aplaudir.

3 comentários:

  1. É, agora lembrei de um amigo meu q tem uma frase a quase 3 anos escrita:
    "a vida continua e esse show nunca pode parar!"
    ;)
    Grande beijo
    Mila

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  2. De onde vem isso? Da tua cabeça? Considera roubado.


    Vou precisar de um favor teu: Quero um perfil novo. Escreva pra mim.

    Pedi pra duas pessoas, uma delas és tu.

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  3. Miguelito... nossa, você descreveu não só meu dia, mas a minha semana passada...! É a pior sensação do mundo saber que você não fez diferença nenhuma em sua própria vida! Preciso de mais... onde arranjar mais matéria-prima?!

    Ah, mundo cruel!

    Bjos!

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