sábado, 3 de janeiro de 2009

Sobre o silêncio

Absolutamente sozinho. A casa, por muitas vezes densamente habitada, repousa em tranqüilidade, como se fosse madrugada. O silêncio, quebrado apenas pelas teclas pressionadas, deveria ser sepulcral, mas, talvez devido à raridade com que acontece, talvez devido ao espírito reflexivo em que o mundo se encontra por ser início de um novo ano, o silêncio é fascinante e chamativo.

Absolutamente sozinho, o silêncio convida-me à sua escuta. E o que ele diz? Diz que absolutamente não estou sozinho. Diz que quer me mostrar um velho amigo. Alguém com quem esqueci de conversar, alguém pra quem não liguei em todos esses fins de semana lotados de baladas, alguém que não ouvi durante todo o ano por estar atarefado de mais com as minhas coisas.

Absolutamente sozinho? Não. O silêncio me mostra que há mais alguém. Apresenta-me a mim mesmo.

Tímido, desconcertado por ter passado tanto tempo sem me conversar, não tenho palavras. Pareço um adolescente que não sabe o que dizer quando senta ao lado daquela menina de quem gosta. Não sei o que dizer pra mim mesmo, pois não me encontro faz tempo e não sei mais do que gosto, quem sou, o que desejo. Não falo do eu que ajo, que estudo, que danço, que converso, que rezo, que como e durmo. Falo do eu que sente, que quer, que aspira, que sonha.

Hoje, o silêncio fez-me ver que vejo muitos rostos, muitas árvores, muitos filmes, mas meu interior está em trevas e não acendo sequer uma vela para enxergar-me. O silêncio fez-me ouvir a voz que ecoa dentro de mim, fez-me dançar no solo de meu auto-conhecimento, fez-me conhecer quem desconheci: EU.

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