sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sobre um balão e uma viagem - parte 5 e final

Papai e mamãe estavam aflitos, Ben podia perceber em seus olhos e no tom de voz. Os olhos de Ben começaram a marejar. Sabia que algo triste estava por vir.


- Ben, mamãe tem uma doença degenerativa grave, você ainda não sabe o que é isso, mas saberá um dia. Essa doença fará com que eu ... - mamãe parou de falar e respirou fundo, tentando não chorar ...

Logo após a experiência mais fantástica de minha vida, passei a viver dias de imensa tristeza. De fato, o problema de minha mãe não era nada pequeno. Nos dias seguintes, sonhava que eu estava no balão, vendo tudo tão pequeno, até que uma imensa mancha negra aparecia e cobria todas as coisas. Chorava sem parar, e quando minha mãe passou a sofrer os males da doença, o meu mundo caiu.

Vários anos se passaram e minha mãe ia perdendo movimentos e lembranças aos poucos. Por volta dos meus 12 anos - 6 anos depois de toda a história - passei a realmente perceber que não havia volta no estado dela. O corpo de minha mãe seguia inexoravelmente a um fim indesejável, e eu tinha que saber lidar com aquilo.

Busquei em todas as minhas memórias os fatos e atos, ensinamentos e aprendizados que poderiam me ajudar a enfrentar com coragem e amor essa grande dificuldade em nossas vidas. Inevitavelmente, recorria às lembranças daqueles dias passados no balão, buscando dentro de mim acreditar que na verdade tudo era pequeno.

Foi quando tive um sonho. Sonhei que voava nas alturas e, como de costume, um negrume cobria todas as coisas pequenas que eu via do alto. Lá do alto, acima do balão e das nuvens, surgiram alguns pequenos raios de sol que traspassavam bravamente o negrume. Não transformavam tudo em luzes e brilhos, apenas traspassavam, aos poucos, de raio em raio. O raio passava, amanhecia o negrume e logo depois este tornava a tomar conta do local. Até que vários raios passaram a atingir o negrume com mais frequencia, e entre trevas e luzes eu podia visualizar tudo o que estava lá embaixo.

E foi a partir desse sonho que passei a reconquistar a coragem de viver feliz ao lado de mamãe -querida mamãe. A escuridão que enxergava do alto era grande, mas com pequenos gestos de amor, pequenas lembranças e poucas palavras, a escuridão era traspassada de quando em vez, fazendo brilhar a luz da alegria intermitentemente ao negrume da tristeza.

Era tudo tão pequeno, tudo sem grande importância para quem tem um olhar frio e distante. Mas para aquelas três pessoas que viveram essa grande aventura de transformar trevas em luz, e encontrar mesmo na mais triste notícia uma forma de sorrir, tudo que aconteceu era muito significante. Através de pequenas coisas, construíram uma história grande, coesa e bela, digna de importância. Através de pequenas coisas.

Hoje, lembrando do balão e da viagem, lembro-me com carinho especial das belissimas paisagens que vi. A natureza em seu mais lindo esplendor, coroada de flores e folhas, e águas e bichos. Todos muito pequenos, todos contribuindo em pequena proporção para a composição da grande obra. Todos muito importantes, assim como aquele pequeno abraço e beijo que outrora dei em mamãe antes de sair de casa, e que posteriormente vim a saber, lendo seu diário, foi o ponto alto de sua alegria quando em vida.

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