sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobre um balão e uma viagem - parte 1

Ben acordou mais cedo que o costume naquela sexta-feira. Era o último dia de escola do ano, e ele não queria perder o horário por nada. Levantou-se, espriguiçou-se ainda em cima da cama e esfregou as pequeninas mãos no rosto amassado pelo sono.

Saiu da cama e foi enxugar o rosto na pia do banheiro, escovou seus dentes e desceu as escadas correndo até a cozinha. Papai e mamãe já estavam preparando o café e se surpreenderam ao ver que seu pequeno filho acordara tão cedo.

- Bom dia, filhão! – disse papai, levantando-o do chão para lhe dar um beijo no rosto. Acordou cedo hoje, o que aconteceu?
- Tem aula hoje, papai – disse o menino, meio animado, meio sonolento. E é o último dia. Então minha professora falou que vai levar um homem que viaja pelo mundo em uma balão pra falar pra gente sobre os lugares do país que a gente pode visitar nas férias.
- Cara, que bacana – disse o pai tentando mostrar-se animado, mas com um tom de preocupação. Mas me diga, você sabe que não vamos viajar, não é?
- Sério, papai? Por quê?

Ben percebeu que mamãe se mantivera virada para a janela em frente à pia todo o tempo. Nesse momento, mamãe se virou para Ben e o menino pôde ver seus olhos lacrimejantes.

- Ben – disse mamãe -, a mamãe está com alguns problemas. A gente não vai poder viajar, por que eu não posso sair de casa e vocês têm que cuidar de mim, não é, papai?
- É isso mesmo, amor. Entendeu, filhão?

Ben tentou, mas não conseguiu esconder a chateação. Isso é absolutamente comum em um menino de seis anos. Fechou o rosto e começou a lacrimejar, ameaçando um choro incontido. Apesar da pequena idade, Ben percebeu que não ajudaria os pais se chorasse naquele momento. Não entendia o que estava acontecendo, nem sabia o que poderia ser mais importante do que viajar nas férias, mas sabia que mamãe precisaria do seu apoio. O menino apenas tomou seu café da manhã, calado, enquanto seus pais o acariciavam, passando a mão sobre seus cabelos.

Quando Ben saía de casa e se dirigia ao carro do pai, que o levaria para a escola, mamãe o chamou no sopé da porta de entrada, agachando para poder ficar da altura do filho. Ben adorava quando eles faziam isso, sentia-se importante nessas horas. Era como se papai e mamãe quisessem deixar de ser altos só para “entrar em seu mundo” e ficar mais perto dele.

- Ben, não fique chateado por que não vamos viajar, tudo bem? Podemos fazer muitas coisas legais aqui em casa.
- Tudo bem, mamãe – respondeu o menino. Mas você vai ficar bem, não vai?

Mamãe começou a chorar, abraçando o filho com força. Às vezes é difícil para as crianças não saber o que se passa na vida dos adultos e não poder ajudá-los. Ben queria muito ajudar mamãe e perguntou:

- Mamãe, não chora. Eu não estou chateado. O que eu posso fazer pra você não chorar?
- Ah, meu filho – disse mamãe, chorosa. Eu queria poder entrar no balão do rapaz que vai na sua escola e voar pra bem longe de todos os problemas, mas não posso. Deixe que o tempo resolve, ok?

O menino não teve palavras. Apenas abraçou mamãe mais uma vez e beijou-lhe demoradamente o rosto. Quando crescem, as crianças passam a achar que precisam falar muito para se sentirem importantes, mas se Ben soubesse, aquele beijo e abraço sinceros foram o melhor de Ben que mamãe poderia ter recebido.

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