segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sobre uma manhã de natal


São 5h da manhã! O despertador grita! As pouquíssimas horas de sono fazem com que o despertar seja mais doloroso, até cruel. No entanto, há algo que os impulsiona da cama, há uma motivação.

Levantam-se. Cada um, à sua maneira, se prepara para dar início à manhã de natal. Escovar os dentes, lutar contra a vontade de dormir de novo, tomar café da manhã, lutar, arrumar a cama (cama de novo?), trocar de roupa.

Será que todos acordaram?, mandar mensagem do celular. “Podem vir. Estamos acordados”.

Às 5h30h começa a preparação. Corta o pão, passa a manteiga, coloca o presunto, coloca o queijo. Pão, manteiga, presunto, queijo, pão manteiga, presunto, queijo, pão, manteiga, presunto, queijo... o verso se repete 150 vezes. Leite, chocolate, café, chá. Bolacha, biscoito, banana. Dezesseis pessoas ajudam, algumas acabam de se ver pela primeira vez.

7h, tudo pronto! Pessoas desconhecidas receberão um delicioso café da manhã na entrada do Hospital de Base, depois de passarem a noite de natal sem presentes, sem ceia, sem família, apenas com a espera e a esperança. É preciso confortar alguns corações.

Três carros rumam para o hospital. Alguém fala com o guarda, não tinha nada combinado. Tudo certo. Funcionários, acompanhantes de enfermos, mendigos ali na porta, cobrindo-se do frio da manhã, cruel, mas principalmente querendo esquentar o coração. Alguns, não tendo outra saída, o esquentam com álcool. Todos convidados.

Muito agradecidos, sorrisos, desejos de boas festas. Conversa vai, conversa vem. Mais gente chega, todos aproveitam. Vê como é Deus, diz um, antes de deitar no banco para descansar, pensei: meu Deus, não tenho dinheiro nem pro café da manhã.

Uma família acaba de perder o pai. Desconsolo. Choro. Que fazer? Não tenho palavras. Alguém tem, são muitos. Cada um à sua maneira, ajudando como pode.

Algumas horas e conversas depois, muita comida sobra, e como, infelizmente, não faltam famintos... rumo à rodoviária. Anda pra lá, anda pra cá. Muitos recebem um pouquinho, nem que seja um pouquinho, pra enganar a fome.

Pronto, tudo entregue. Voltam pra casa, mais realizados. Ganharam mais que receberam, com certeza.

Foi pouco, sem dúvida... mas foi alguma coisa. Mais do que normalmente fazem.

Fica o desejo de que todo ano seja assim. E de que todo dia seja natal.

4 comentários:

  1. Miguel!!


    Retratou muito bem nossa manhã do dia 25! Foi perfeito! Nossa, só por aquele moço que não tinha dinheiro para o café da manhã va leu a pena acordar cedo! Grande abraço!

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  2. Miguel,

    Muito boa. Como diria aquele a quem já lês e conheces: "Criança, Doente - quanto lês essas palavras não sentis a tentação de pô-las em maíuscula. É que para uma alma enamorada as crianças e os doentes são Ele."

    Abraço

    Rafael

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  3. O não saber agir frente a uma pergunta simples é algo que me fere e machuca. Bom que me conheces e me deixa menos cáustico em relação a isso.

    Sou eu MIGOWS. O pior dos piores, mas que tem mudanças.

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  4. Emocionante!!! =)
    Quero fazer isso!!!
    "Fica o desejo (...) de que todo dia seja natal."

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