quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sobre a arte de amar

Amigos,

“Amamos porque Deus nos amou primeiro” (I Jo 19).
Renova-se sempre, nessa época de Natal e fim de ano, o propósito, mais, o compromisso, de sermos um pouquinho melhor a cada dia, no próximo ano. Renova-se a esperança por um mundo melhor, com mais amor.
Sempre corremos o risco, no entanto, de deixar esse propósito como ideal inatingível, estabelecendo a meta de sermos melhores e de construirmos um mundo melhor, mas sem empenharmos os meios para atingi-la. Não adianta, para atingirmos uma meta, precisamos colocar mente, alma e coração para trabalhar em prol dela. É preciso pensar em meios concretos.
Construir um mundo melhor... como atingir este ideal?
Recordo-me que, certa vez, ouvi alguém dizer: ‘Muitos dizem por aí que o socialismo é a solução para a construção de um mundo mais igualitário, mais justo. Outros, que o comunismo. Outros, ainda, lutam com unhas e dentes pela reforma agrária ou outras políticas de governo na esperança de que isso resolva as desigualdades. Acredito, entretanto, que a única força capaz de mudar o mundo é a mudança do coração de cada homem, é estabelecer novos valores e uma nova compreensão do que nos traz felicidade. A única força capaz de mudar o mundo é a vivência do amor pregado no Evangelho’.
Que amor é esse? Mais, como vivenciar esse amor, que a primeira vista parece tão difícil? Sugiro, neste fim de ano, que ao fazermos nossos propósitos para 2009 meditemos um pouco em algumas passagens do Evangelho que podem nos ajudar a atingir a inatingível (?) meta de construir um mundo melhor. Aí vão algumas:

Mt 5, 1-11(As bem-aventuranças) / Mt 6, 19-23 / Mt 7, 1-5.12 / Mt 14, 13-21 (O milagre da partilha) / Mt 22- 34-40 / Lc 10, 25-37 (O bom samaritano) / Lc 12, 13-21 / Lc 16, 19-31 / Lc 17, 7-10 / Jo 8, 1-11 / Jo 13, 1-17

Além disso, proponho um outro meio para atingir o ideal de sermos melhores e de reconstruir o meio que nos rodeia. Insisto em dizer que penso que a vivência do amor é a única forma de alcançar os ideais a que nos propomos (inclusive o ideal da felicidade). O amor é tudo e é preciso aprender a vivê-lo, como aprendemos ciências, literatura; é preciso praticá-lo com a constância e perseverança de quem pratica um esporte, de quem aprende a tocar um instrumento. É preciso apreciá-lo, como quem aprecia uma pintura, uma música. Para isso, apresento-lhes (para os que não conhecem) a Arte de Amar.

“A caridade é uma virtude importantíssima, é tudo. Portanto, convém, desde já, empenharmo-nos em vivê-la um pouco melhor. Para tanto, é preciso saber quais as coisas que a fazem especial. Diz um pensador: ‘Amar é bom; saber amar é tudo’. Sim, saber amar, porque o amor cristão é uma arte, e é preciso conhecer essa arte.
A verdadeira arte de amar emerge por inteiro do Evangelho de Cristo. Colocá-la em prática é o primeiro e imprescindível passo a ser dado para que se desencadeie a revolução pacífica, tão incisiva e radical, que muda tudo. Ela atinge não apenas o campo espiritual, mas também o humano, renovando cada sua expressão: cultural, filosófica, política, econômica, educativa, científica etc. é esse o segredo da revolução que possibilitou aos primeiros cristãos invadirem o mundo então conhecido.”
(Chiara Lubich)

Amar a todos
A primeira qualidade do amor cristão é amar a todos.
Essa arte de amar pretende que amemos a todos, sem distinção, como Deus ama. Não há que escolher entre simpático ou antipático, idoso ou jovem, compatriota ou estrangeiro, branco ou negro ou amarelo, europeu ou americano, africano ou asiático, cristão ou judeu, mulçumano ou hinduísta... O amor não conhece nenhuma forma de discriminação. Se somos todos irmãos, devemos amar a todos. Devemos amar a todos. Parece uma coisinha de nada... Mas é uma revolução!

Amar o inimigo
“Amai os vossos inimigos” (Mt 5,44). Isso sim vira pelo avesso nosso modo de pensar e faz que todos dêem uma guinada no timão da própria vida! Ele está ali na senhora tão antipática e implicante que procuramos evitar... está naquele parente próximo que prejudicou nosso pai trinta anos atrás... está na carteira de trás na escola... é aquela moça que foi embora com outro... aquele comerciante que nos enganou... são aqueles que, politicamente, não pensam como nós e por isso consideramos inimigos...
Pois bem, todos esses e uma infinidade de outros, que chamamos de inimigos, devem ser amados. É preciso coragem. Mas não é o fim do mundo: um pequeno esforço da nossa parte, pois noventa e nove por cento é Deus quem faz e... no coração, sentimos uma enxurrada de alegria.

Amar primeiro
Outro passo da arte de amar, talvez o que requer mais empenho de todos, que põe à prova sua autenticidade e sua pureza, pede que amemos primeiro, tomando sempre a iniciativa, sem esperar que o outro dê o primeiro passo.
Fomos criados como um dom uns para os outros e cumprimos esse nosso ser pondo todo o empenho pelos nossos irmãos e irmãs com aquele amor que antecede qualquer gesto de amor do outro.

Fazer-se um
Há um ponto da arte de amar que ensina como colocar em prática o verdadeiro amor pelos outros. É uma fórmula simples, feita de apenas duas palavras: “fazer-se um”.
“Fazer-se um” com os outros significa assumir os fardos deles, as preocupações deles, partilhar os sofrimentos e as alegrias deles.
“Para os fracos fiz-me fraco ... Tornei-me tudo para todos a fim de ganhar o maior número possível” (I Cor 9, 22.19)
Sim, esse é o caminho, porque é o mesmo que Deus percorreu para manifestar-nos o seu amor: Ele se fez homem como nós e foi crucificado e abandonado, para colocar-se ao mesmo nível de todos. Fez-se verdadeiramente “fraco com os fracos”.

Ver Jesus no outro
O amor evangélico quer que reconheçamos Jesus no próximo, como Ele disse, ao falar do juízo final: “Pois tive fome e me deste de comer. Tive sede e me destes de beber ... Em verdade,, vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmão mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 35.40).
Portanto, essa arte de amar requer também que reconheçamos Jesus, que acreditemos que Jesus está por trás de cada irmão, porque Ele considera feito a si o bem e o mal que foram feitos ao próximo.

Amor recíproco
“Fazer-se um”: é isso o amor.
“Fazer-se um” até que a pessoa amada desse modo entenda o que é o amor e queira, por seu turno, amar.O amor verdadeiro, a arte de amar, em seu ponto culminante, é amarmo-nos mutuamente. Amarmo-nos mutuamente de tal modo que mereçamos o dom da unidade. Porque nós não sabemos fazer a unidade. Podemos fazer a nossa parte, amarmo-nos, mas a parte mística da unidade, a presença de Cristo em nosso meio, deve vir do Céu.

Um comentário:

  1. Isso é que eu chamo de "plano"! hehehehe
    Miguel, a esperança de fazer um mundo melhor nunca morrerá dentro daqueles que tem Jesus como mestre e Pai!
    Vamos batalhar e ganhar um luta por dia!
    Feliz Natal, meu amigo!
    Bjos!

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