O garoto saiu de casa e se dirigiu à orla. Ludi morava na Rua do Alfaiate, uma ruela com casas de ambos os lados, que ficava a pouco mais de 1 km da praia. A ruela seguia com curvas até a borda da praia, onde havia uma rua principal, Avenida do Pesqueiro, que contornava toda a orla de Deruahd. Carruagens com seus cavalos e cavalos com seus cavaleiros - fazendo comércio, transporte ou serviço postal - deixavam a principal rua de Deruahd movimentada por todo o dia. Ludi seguiu a então deserta Rua do Alfaiate até a Avenida do Pesqueiro observando as nuvens brancas que voavam no céu, procurando encontrar animais, barcos ou qualquer outra coisa desenhada em sua alvura. Encontrou uma tartaruga sem dois braços e uma panela que para ele parecia bastante deformada. Sua diversão foi interrompida ao quase esbarrar em uma senhora, cabelos grisalhos e corcunda proeminente, mas com um sorriso muito simpático, que carregava em uma mão uma sacola com peixes e na outra um guarda-sol.
- Hey Ludinho, olhe por onde anda rapaz, disse a velha com voz rouca e fina.
- Bom dia, senhora Cenis. Desculpe o mau jeito, estava olhando para o céu.
- Ora, eu percebi. Ludinho, Ludinho, sempre olhando para o azul. Quando não é para o mar, é para o céu.
- Sim, senhora Cenis. Ambos me encantam, respondeu pensativo.
Cenis continuou caminhando e sorrindo, deixando o garoto parado com a cabeça levantada, apertando a vista para protegê-la do sol.
- Cuidado, Ludinho - disse Cenis, virando-se para ele. Quem olha de mais para o céu, pode esquecer de olhar onde pisa...
- ... e acabar tropeçando – completou o garoto.
A senhora riu desmedidamente, mostrando um sorriso branco perfeitamente em ordem. Respirou fundo após a gargalhada, secou uma lágrima que escorrera de seus olhos castanhos escuros e disse:
- Hoje, mais do que nunca, veio bem a calhar tal ditado, hein?
- Com certeza, senhora Cenis – Ludi respondeu sorrindo.
Cenis ajeitou a sacola com os peixes na mão e tirou o guarda-sol de cima da cabeça. Fazendo muito esforço na corcunda dolorida, voltou o quanto pôde o olhar para o céu. Contemplou a imensidão azul por um instante. Nesse momento, Ludi percebeu que não era o único dos dois que gostava de admirar o céu. Sentiu pena pela situação física de Cenis que apenas com muita dificuldade podia olhar para o alto, para as alturas, pois a corcunda obrigava-a a olhar sempre para o chão. Antes que o garoto pudesse fazer suas próprias reflexões, Cenis exteriorizou seus pensamentos:
- Por outro lado, podemos dizer que quem olha de mais para o chão não vê a beleza do azul, – silenciou-se por um segundo e completou - nem a clareza do sol.
As últimas palavras custaram a sair de seus lábios. Com voz embargada e visível comoção, olhou para o lado de Ludi (mas não olhava para ele, olhava distante), cobriu-se com o guarda-sol e disse:
- E para esses não há volta, meu filho. Então, continue olhando para o céu, menino. Continue olhando para o céu.
O garoto olhou para a velha. Tinha vontade de falar-lhe palavras de consolo, mas essas não lhe vieram à mente. Na verdade, não tinha certeza se entendeu o que ela realmente quisera dizer. Permaneceu calado, olhando-a, vagarosa, partir para sua casa. A senhora caminhava lentamente, fazendo muito barulho na silenciosa Rua do Alfaiate ao arrastar sua sandália de madeira no chão. Ludi sempre se impacientava quando acordava de manhã com o barulho da madeira se esfregando nas pedras, mas a partir daquele dia não mais se incomodou. Antes de a velha entrar em casa, Ludi a viu esforçar-se mais uma vez para olhar o céu. Ela olhou e sorriu. E então vieram a Ludi as palavras que lhe faltaram a minutos atrás: “O céu sempre estará lá em cima, senhora Cenis – disse baixinho de si para si. Então sempre haverá volta... sempre haverá volta.” Virou-se e olhando agora para o horizonte, pois o mar já estava visível, continuou seu caminho.
- Hey Ludinho, olhe por onde anda rapaz, disse a velha com voz rouca e fina.
- Bom dia, senhora Cenis. Desculpe o mau jeito, estava olhando para o céu.
- Ora, eu percebi. Ludinho, Ludinho, sempre olhando para o azul. Quando não é para o mar, é para o céu.
- Sim, senhora Cenis. Ambos me encantam, respondeu pensativo.
Cenis continuou caminhando e sorrindo, deixando o garoto parado com a cabeça levantada, apertando a vista para protegê-la do sol.
- Cuidado, Ludinho - disse Cenis, virando-se para ele. Quem olha de mais para o céu, pode esquecer de olhar onde pisa...
- ... e acabar tropeçando – completou o garoto.
A senhora riu desmedidamente, mostrando um sorriso branco perfeitamente em ordem. Respirou fundo após a gargalhada, secou uma lágrima que escorrera de seus olhos castanhos escuros e disse:
- Hoje, mais do que nunca, veio bem a calhar tal ditado, hein?
- Com certeza, senhora Cenis – Ludi respondeu sorrindo.
Cenis ajeitou a sacola com os peixes na mão e tirou o guarda-sol de cima da cabeça. Fazendo muito esforço na corcunda dolorida, voltou o quanto pôde o olhar para o céu. Contemplou a imensidão azul por um instante. Nesse momento, Ludi percebeu que não era o único dos dois que gostava de admirar o céu. Sentiu pena pela situação física de Cenis que apenas com muita dificuldade podia olhar para o alto, para as alturas, pois a corcunda obrigava-a a olhar sempre para o chão. Antes que o garoto pudesse fazer suas próprias reflexões, Cenis exteriorizou seus pensamentos:
- Por outro lado, podemos dizer que quem olha de mais para o chão não vê a beleza do azul, – silenciou-se por um segundo e completou - nem a clareza do sol.
As últimas palavras custaram a sair de seus lábios. Com voz embargada e visível comoção, olhou para o lado de Ludi (mas não olhava para ele, olhava distante), cobriu-se com o guarda-sol e disse:
- E para esses não há volta, meu filho. Então, continue olhando para o céu, menino. Continue olhando para o céu.
O garoto olhou para a velha. Tinha vontade de falar-lhe palavras de consolo, mas essas não lhe vieram à mente. Na verdade, não tinha certeza se entendeu o que ela realmente quisera dizer. Permaneceu calado, olhando-a, vagarosa, partir para sua casa. A senhora caminhava lentamente, fazendo muito barulho na silenciosa Rua do Alfaiate ao arrastar sua sandália de madeira no chão. Ludi sempre se impacientava quando acordava de manhã com o barulho da madeira se esfregando nas pedras, mas a partir daquele dia não mais se incomodou. Antes de a velha entrar em casa, Ludi a viu esforçar-se mais uma vez para olhar o céu. Ela olhou e sorriu. E então vieram a Ludi as palavras que lhe faltaram a minutos atrás: “O céu sempre estará lá em cima, senhora Cenis – disse baixinho de si para si. Então sempre haverá volta... sempre haverá volta.” Virou-se e olhando agora para o horizonte, pois o mar já estava visível, continuou seu caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário