segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sobre a vista da minha janela

Olho pela janela. Lá embaixo, nas ruas da cidade mal iluminada, contemplo vidas se perderem em um emaranhado de prazeres, contendas, vícios e ódios. Gargalhadas de desespero podem ser ouvidas em meu apartamento, enquanto sinto o frio gelar minhas mãos e pés. E a solidão gela meu coração.

Penso se haverá uma saída para o desespero. Tantos rostos inocentes que não tem para onde seguir, ou com quem conversar. Tudo que precisam é de um abraço, mas só o que lhes oferecem é um trago, ou uma arma. Aceitam, pois, sem culpa.

Sinto-me condenado a sobreviver nessa selva sem regras, sem paz. Culpo o mundo por permitir que tal situação se tenha instalado sob minha janela. Culpo o sistema, a religião, a política. Minhas mãos congeladas desenham palavras de consolo no ar úmido da janela que jamais chegarão a seus destinatários.

Lá embaixo, enquanto crianças se desviam de um caminho que nunca lhes foi apresentado, as sirenes soam, portas se abrem e olhos vermelhos inocentes encaram a arma da justiça e da paz. Chutes, choros e sangue. Correria, gritos. O riso vem fardado.

E assim, a sociedade vil segue seu rumo. E eu culpo o mundo, contemplando a cena na distância da minha janela.

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