quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre um amor com som

Tudo bem simples assim. Ele acordava de manhã com o despertador do celular: Dave Matthews, #41, para animá-lo logo ao amanhacer. Se aprontava rapidamente e corria para o trabalho. No carro, Rosa de Saron para ajudá-lo na oração da manhã.

O trabalho era tranquilo, no computador. Cada dia uma trilha sonora diferente: Pearl Jam nos dias mais animados, Dream Theater para descontrair, um sambinha de vez em quando para sorrir. Ele respirava música, sua vida era quase um clip. Andando pela rua, o iPod era seu companheiro, e caminhava, dançando na chuva se preciso fosse.

Nos dias de folga ia ao parque da cidade ao som de Jack Johnson, Jamie Cullum, e ao pôr-do-sol IZ e "Somewhere over the Rainbow" encantavam o coração.

E num desses dias ele a reparou, correndo, linda, fone no ouvido. Corria apreciando a vista e a viu passar. Ele sorriu. No dia seguinte se esbarraram novamente. Ela sorriu. Ao passar por ela, ele sentiu (sabe-se lá como, mas sentiu) que ela olhara pra trás.

No terceiro encontro ele arriscou: "Hey, o que você tá ouvindo?". "Teatro Mágico", respondeu sorrindo, sempre sorrindo. "Por que o mar não se apaixona por uma lagoa?", ele perguntou com ar de dúvida. "Por que a gente nunca sabe de quem vai gostar", ela completou.

E riram longamente, e se completaram. E os dias passavam e continuavam se encontrando, no mesmo parque, nos mesmos dias, no mesmo horário, mas a cada dia em ritmos, tons e melodias diferentes.

E num belo dia ele foi para o trabalho de som desligado. No trabalho, não era o computador que reproduzia músicas, mas seus assobios. E quando a encontrou no parque, estranhou a ausência de fone na garota, e só então percebeu que também esquecera o seu.

Ela olhou intrigada e questionou: "Como assim, correndo sem trilha sonora? Parece que ambos esquecemos de trazer o mais importante pra corrida."

Ele continuou correndo, ouvindo os passos rápidos contra a pista. Respirou fundo e sentiu o vento dar-lhe permissão para dizer: "Não, não esqueci a trilha sonora. É que... sabe... - disse calmamente, como se desconcertado -, 'you are all the music I need'".

E continuaram correndo, olhando para frente. Ele ofegando, tenso... ela séria, pensando, mas sorrindo por dentro, sempre sorrindo...

E começou simples assim...

5 comentários:

  1. aiai meu Deus, a vida eh um filme e nao existe filme sem trilha sonora, mesmo q ela seja as batidas do coração...

    'you are all the music I need'

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  2. "Ana e o Mar, Mar e Anaaaaa!!!!!"

    Lindo!
    =D

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  3. Me pergunto:
    "será literatura?"
    :D

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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