sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sobre - sério! - uma chuva de sapos

Chovia sapo! Sim, por mais incrível ou impossível que possa parecer, era exatamente isso que acontecia naquele momento... chovia sapos! E João corria atrás do ônibus, não podia chegar atrasado. Não sei aonde ele ia. O fato é que não podia chegar atrasado, e por isso corria. Ignorou a chuva. Desviava agilmente de cada... gota de sapo?... que caía. Vez ou outra era atingido por um, e isso dóia, mas não o impedia de correr.

O ônibus parou de repente. Todos estavam assustados, extasiados com o acontecimento. Ninguém nunca... jamais!... havia visto aquilo. João, alheio a tudo, deu graças a Deus e alcançou o ônibus. Entrou ofegante, sem ouvir os comentários estupefatos do motorista. Sentou e respirou fundo: uma, duas, três, várias vezes... e aliviou-se. O ônibus continuou. João aliviou-se, pois chegaria a tempo.

Enquanto isso, em algum outro canto... não sei onde exatamente, mas isso não importa... em outro canto, Maria chorava. Amargurada e cansada de todo os esforços que pareciam em vão, chorava. Sentada na escada da varanda, sentia o vento bater e inutilmente tentar levantar seus cabelos presos. Chorar lavava-lhe a alma, e, paradoxalmente, dava-lhe forças.

E eis que, quando a chuva de sapos começou, Maria parou de chorar e riu. Riu alto e largamente, como nunca. Riu como nunca mesmo, não é força de expressão! E rindo soltou os cabelos e deixou-os voar ao vento velozmente, com vários Vs. Viu as pessoas correndo para se proteger, olhando indagativamente para o estranho fenômeno. Ela as ignorava. E esperou... ela sabia que ele viria.

Não importa para onde João ia, nem onde Maria estava. Importa que durante a chuva eles se pensaram, e ao final dela se encontraram. João chegou... molhado?... da chuva e subiu devagar os degraus que levavam até a varanda da moça. Lá na varanda, desviou-se de alguns sapos que pulavam ou coaxavam no chão de madeira. Tocou a campainha e imediatamente - imediatamente mesmo, tipo, milésimos de segundos - Maria abriu a porta, como se já o estivesse esperando. E estava!, mas ele não sabia, e nem se importava àquela hora.

- Oi - disse a moça, timidamente, fixando o olhar no chão e colocando os louros cabelos atrás da orelha.
- Oi - respondeu o rapaz, tentando parecer displicente e olhando em volta de si, como que surpreso. Bem, você me disse que não queria me ver nunca mais, e que eu só poderia aparecer na sua porta novamente quando chovesse sapo. Aí eu achei que devia vir...

Ela deu um breve sorriso e, percebendo que o rapaz ainda estava de fora, abriu bruscamente a porta e apontou-lhe o interior da casa.

-Não quer entrar? Deve estar frio aí fora.

Ele entrou. E os sapos ficaram do lado de fora. Coaxando ruidosamente - pensa no barulho!

No dia seguinte todos os jornais noticiaram a chuva. "Impressionante!" "A ciência explica!" "Seria a primeira das pragas de Deus?"... entre outras coisas.

Mas para João e Maria... bem, para eles, algo muito mais importante acontecera naquele dia. E nunca nem tocaram no assunto.

Que coisa, não?

Um comentário:

  1. Tomara que os sapos que a gente engole acabem "chovendo" e lavando as mágoas de uma vez...

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