quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sobre pique-esconde

Quando eu era criança, costumava brincar de pique-esconde embaixo do bloco. Como eu brincava com gente grande, eu era café-com-leite. Era sempre assim: eu me escondia, bisbilhotava e corria, e quando chegava no pique gritava bem alto "1,2,3 Salve eu". E sorria, feliz e contente por ter ganhado.

Só não sabia eu que, por ser café-com-leite, quem contava não se importava em ir atrás de mim. Tanto não se importava que certa vez eu fui esquecido. Foi assim:

Consegui um excelente esconderijo. Era tão bom - e eu sabia disso - que não quis sair para bisbilhotar com medo de ser pego do lado de fora. Ali pelo menos eu tinha certeza de estar seguro. E para mim não importava quanto tempo o jogo iria durar até que me encontrassem. Importava que eu bateria o recorde de tempo escondido sem ser achado.

Mas eu era café-com-leite, então nem me procuraram tanto assim. Fiquei lá, escondido, espremidinho entre três paredes e uma caixa. Não me mexia para não dar pista. Quietinho no meu canto. Sobressaltava-me ouvindo passos próximos e aliviava-me quando se iam.

E o tempo passou, mas quando se é criança o tempo é muito, muito relativo. Hoje lembro que foi tudo em um piscar de olhos, mas, naquele dia, a criança espremidinha deve ter se angustiado um tanto, suspirado um monte e dado asas à imaginação para fazer o tempo passar. Não me lembro, mas deve ter sido assim. Quando quase escurecia, desisti de deixar me procurarem. Saí do esconderijo e fui para o pique, só para descobrir que não havia mais ninguém jogando.

Entristeci-me e chorei, sentado e encolhido, encostado na parede do pique. Coisa de criança que se sente abandonada e injustiçada. Chorei um chorinho gostoso, de quem só quer um carinho do papai e da mamãe. E não é que, enquanto eu chorava, os dois chegaram? Viram-me com rosto molhado e o enxugaram.

Contei tudo pra mamãe. E como num passe de mágica - êta raça porreta essa das mães - o choro se transformou em riso.

Fazendo coceguinha ela me disse:

- Meu filhote é campeão do esconde-esconde! - e piscou para o menininho todo sujo.

E subimos para casa, para um banho quentinho na banheira até os dedos enrugarem e uma sopinha cheirosa antes de ouvir do papai uma história para dormir sem pesadelos.

2 comentários:

  1. hahahhaa
    q triste! Eu vivia sendo café-com-leite tb (no pique-esconde nao!), mas nao por ser pequena, mas por ser ruim mesmo hahahaha
    Stay as young as you can, for the longest time!
    bjos

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  2. =D
    'êta raça porreta essa das mães' [2]
    'Stay as young as you can, for the longest time!' [2]

    beijo!

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