quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sobre uma expectativa

Expectativa. Enquanto o mundo continuava girando e a história da humanidade acontecia normalmente, sua vida estava parada, em "standby". Expectativa.

As mãos tremiam levemente, mas o coração batia acelerado. Inquieto, andava pelo corredor a passos curtos, mas rápidos... bem rápidos. Cabeça abaixada, como que olhando para o chão para não tropeçar. Não tropeçou, mas esbarrou em dois médicos que também seguiam desatentos.

Era um homem de meia altura, forte, cabelo liso repartido ao meio e algumas espinhas no rosto. Novo. Vestia bermuda, sandália e uma camisa amarrotada com a qual provavelmente estivera dormindo a poucas horas atrás. As olheiras em volta dos olhos mostravam o cansaço dos últimos dias. De fato, as últimas noites haviam sido mal dormidas, de vários alarmes falsos e preocuapação desgastante com o bebê que insistia em não chegar. Trabalhar era quase um martírio e entre cochilos inevitáveis e ligações angustiadas de sua esposa, ele tentava manter a calma e render o quanto pudesse. Felizmente, nos dois dias anteriores seu chefe o liberara para ficar em casa. O que, no entanto, mostrou-se não menos cansativo: "compra isso, faz aquilo, não esquece de ligar para a mamãe...".

Todo aquele stress e cansaço ficara no passado. Agora a ansiedade tomava conta e a alegria contida estava prestes a ser liberada.

Continuou caminhando. Minutos, uma hora, duas horas... Ele sabia que era normal partos serem longos, mas sempre havia uma ponta de esperança de que com ele seria diferente. Mas não estava sendo. De tempos em tempos, um médico ou enfermeira vinha acalmá-lo, dando notícias. A mulher estava bem, o bebê era grande de mais, poderia demorar um pouco. Ele ficava se imaginando na sala de parto, assistindo a tudo, como naqueles filmes em que a mulher segura a mão do marido e faz força, muita força. E depois imaginava o bebê em seu colo, aquele sorriso pequeno, o rostinho enrugado... Ele não podia mais esperar...

Mas teve que esperar. Três horas, quatro horas... muitas horas... dormiu no sofá.

Dormiu pesado, sem interrupções. Nem o barulho da enfermaria ou o telefone tocando de tempos em tempos fora capaz de o acordar. Sonhou sonhos agitados, estremecidos... coisas loucas com água e barulho em toda volta. Era como se estivesse no útero, no lugar de seu filho.

Acordou de repente. Alguém lhe balançava os braços e implorava que acordasse.

- Amor, amor, acorda! - depois de alguns segundos, reconheceu a voz de sua mulher.

De súbito, levantou-se da cama. Sentia-se perdido, derrubado por um caminhão.

- Nasceu? Nasceu? Meu filho nasceu? Cadê? Cadê?

- Não amor, disse sua mulher. Eu só quero uma geleia de mocotó... daquela preta gostosa.

Olhou para a mulher, deitada na cama, com uma imensa barriga proeminente escondendo-se sob o lençol. Olhou para o relógio: 3h23 da manhã. Olhou para si, em pijamas de bolinhas. Sonho, mais um sonho... Colocou as mãos sobre a cabeça, levando os cabelos para trás. Pensou em gritar de cansaço. Pensou em chorar. Ele só queria dormir um pouco!!!

Ainda irritado e cansado, calçou as sandálias, abriu a gaveta e pegou a chave do carro. Ia saindo, zonzo, abatido... quase morto. Quando chegou ao sopé da porta parou. Virou-se e voltou para a cama. Aproximando-se da mulher, colocou as mãos sobre a barriga da esposa e colou o rosto à sua pele. Disse qualquer coisa inaudível. Qualquer coisa na língua dos pais apaixonados. Beijou o filho e saiu. Sorridente.

5 comentários:

  1. caracas!!! me senti um pai na expectativa agora...

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  2. Eu criaria uma reserva de geléias de mocotó em casa.

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  3. E dentro da barriga o bebê pensou: será que o papai vai trazer um danoninho prá mim...? Que beijo gostoso!!!!

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  4. Não.. Comigo foi BEM diferente! =)
    Esse lance de desejos malucos em horários estranhos é coisa de mulher fresca e mimada! Hahá
    E eu dormia MUITO antes do Samuel nascer.. Agora.. Tsc tsc
    ^^

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  5. É melhor que eu não tenha desejos se não vou fazer questão de bater no Matheus por ter dito isso ai em cima!!!
    =P

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