terça-feira, 20 de abril de 2010

Sobre palavras caladas

Inspirado em:
Wild Horses - Rolling Stones (cantado por Dave Matthews)

Perdido. Correndo. Não há muito o que se fazer, não muito mais tempo. A pouca esperança que resta repousa em algumas poucas palavras que ainda podem ser ditas. E que elas sejam compreendidas, disso depende o desfecho da história.

A cada passo, a cada segundo, ele se aproxima inexoravelmente do fim. As palavras guardadas em sua garganta, apenas esperando o momento de serem pronunciadas. O tempo é curto, a distância ainda é longa e a presença se faz cada vez mais nebulosa, imprevisível. Será possível encontrá-la ainda? Ela entenderá?

Quisera ele ter tido mais tempo, ou pelo menos ter aproveitado o pouco que tivera. Agora tudo parece se desfazer sob seus pés, e o apoio que havia para segurá-lo e ampará-lo não está mais lá. O aperto no peito é grande e a angústia toma conta. Por isso ele corre. Para fazer com que o tempo volte e tudo possa ser concertado.

Cada vez mais próximo. O tempo se esvai como água que escorre pelas mãos. Finalmente, ele a vislumbra na distância. O tempo e o espaço se encontram, a expectativa e o real. Não pode parar, agora que está tão perto. Ele a vê caminhando lentamente, em frente a uma imensa casa de fim de semana. Ela se aproxima de um cavalo e o monta, com a destreza que somente ela é capaz de ter. Por um breve momento a garota acaricia o animal, e lhe dá um carinhoso e leve tapa no pescoço.

Ele... mais perto... dela. Estende a mão e grita... mas nenhum som lhe sai. Ela o vê e espera. Ele se esmera, mas já não pode mais suportar o cansaço. Cai. Diante dela, é a hora de pronunciar aquelas palavras que devem ser ditas. Ele respira fundo, fixa o olhar na garota. Vê seu rosto belo evitar as lágrimas e seu olhar desviar-se do dele. Ela espera, ele espera.

Um filme passa em suas cabeças. Lembranças de um passado agora maculado por erros. Lembranças que o fazem sorrir, mas que a ela fazem sofrer. Ele percebe o sofrimento da garota, e as palavras guardadas para aquele momento parecem não mais fazer sentido e se dissolvem em seu coração. Diluem-se em um misto de compaixão e dor.

Ele permanece calado, ela apenas espera uma palavra, qualquer palavra. Ele não diz. Às ordens da amazona, o cavalo faz meia volta. Há um longo caminho à sua frente, há um futuro que a espera, e o que ficar será esquecido com o passado. Ela olha para trás e se despede para sempre com uma lágrima. Ele, calado, a vê se distanciar no horizonte, para nunca mais.

Um comentário:

  1. Miguel, que texto legal! adorei!
    encontrei seu blog "por acaso"... adorei seus escritos!
    eu tbm comecei um recentemente, se quiser acompanhar :o)
    http://moniquefpsouza.blogspot.com/

    bjao

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